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106 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

logar a incidentes como o de hontem, que para mim foi em extremo desagradavel. (Apoiados).

Não se tratando de assumptos com cuja demora possa soffrer o interesse publico, acho inconveniente estar prolongando estas discussões, com prejuizo das medidas e projectos que hão de entrar em ordem do dia, e que são da maxima importancia para o paiz.

V. Exa., Sr. Presidente, e a Camara comprehendem quanta razão me assiste n'aquillo que já disse.

O Digno Par tem o livre direito de me dirigir todos as perguntas que julgar de interesse publico, e eu tenho a obrigação restricta de responder a essas perguntas, quando ellas sejam realmente de interesse publico, e haja opportunidade de o fazer.

Note bem o Digno Par, quando haja opportunidade.

O Sr. João Arroyo (interrompendo): - Era isso quê eu queria que V. Exa. me dissesse.

Não julga este momento opportuno para responder á minha pergunta.

O Orador: - Decerto não julgo, unicamente pelo motivo: que já indiquei ao Digno Par.

Não quero provocar no final da sessão outro incidente como o de hontem, que me foi muito desagradavel.

O Sr. João Arroyo: - O que eu queria era que V. Exa. dissesse francamente não achar esta occasião opportuna para responder á minha pergunta.

O Orador: - Já disse o que julgava dever dizer e entendo que é desnecessario estar a repetir as mesmas cousas.

O Sr. Hintze Ribeiro fará, como já annunciou á Camara, as declarações que entender a respeito da crise e, portanto, da carta de El-Rei.

O meu desejo é não me antecipar a S. Exa. em questões que lhe dizem respeito, e sobre as quaes o Digno Par quer insistir em me interrogar.

Quanto ao mais diz S. Exa. que, alem dos Presidentes das Camaras, do Conselho de Estado e de outras individualidades politicas, Sua Majestade não devia ouvir mais pessoa alguma.

Mas as leis do reino nem lhe impõem o dever de, em tal caso, ouvir aquellas entidades, nem lhe prohibem que possa ouvir outras.

O Sr. João Arroyo: - Eu disse que em materia de politica só politicos teem que intervir.

O Orador: - Mas a lei não veda ao Augusto Chefe do Estado a possibilidade de ouvir quaesquer informações fora do mundo politico acêrca do estado da opinião publica e no interesse do paiz.

O Digno Par entende que houve collaboradores na carta de El-Rei.

A prova de que os não houve é falar-se n'essas informações.

V. Exa. comprehende que se ellas tivessem vindo de qualquer origem a que S. Exa. parece querer alludir, razão seria essa para se lhes não fazerem referencias na carta. (Apoiados).

Isso é a prova provada de que não houve collaboração estranha.

E calo-me porque senão caem-me outros discursos em cima.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. José de Azevedo Castello Branco): - Pedi a palavra para antes de se encerrar a sessão no intuito de perguntar áquelle dos Ministros que estivesse presente qual a resposta que me poderia dar sobre o facto a que me referi aqui ha dois ou tres dias.

Não estou arrependido de ter pedido a palavra; simplesmente mudei de intenção.

O Sr. Ministro da Marinha prometteu vir dar á Camara e a mim as informações que obtivesse.

Pela minha parte fica o Sr. Ministro da Marinha desobrigado de me dar quaesquer informações.

Se a Camara lh'as não exigir, eu tambem lh'as não pedirei.

E vou dizer porquê:

Mudei de opinião, e a unica cousa que me consola de haver mudado é ficar em boa companhia, na de Gladstone, Bismarck e João Franco, como aqui se apurou hoje.

Mudei de opinião quanto a falar do assumpto, mas não mudei de opinião quanto á gravidade d'elle.

Comtudo outros symptomas de maior gravidade vieram attenuar as responsabilidades d'aquelle.

Er, já tinha para mim a opinião de que a queda do Governo regenerador, nas condições em que se deu, criava um estado de revolução de que o acto praticado pelos marinheiros era um symptoma.

Mas outros symptomas muito recentes vieram marcar um successo de maior relevo.

As instituições valem pelos homens que as servem ou que as representam.

Republica ou monarchia nada importa, porque pode ser uma republica tyranna, como foram as de Italia, e pode ser um imperialismo suave como o de Marco Aurélio.

Na altura em que os acontecimentos vão, a unica cousa que ha a fazer é ir ainda com um conselho de Gladstone:

"Torna-se preciso seguir a torrente das ideias, porque só lhe pode resistir quem, como Apollo, tiver força para desviar o curso dos rios".

Eu não tenho essa força, e o que admira é que ainda haja alguem que a pretenda ter.

O Sr. Presidente: - A seguinte sessão será no proximo sabbado, 20, e a ordem do dia a eleição de commissões e a discussão do contrato dos tabacos.

Está levantada a sessão.

Eram 5 horas e 3 quartos da tarde.

Dignos Pares presentes na sessão de 18 de outubro de 1906

Exmos. Srs: Sebastião Custodio de Sousa Telles, Augusto José da Cunha, Marquez Barão de Alvito; Marquezes: de Ávila e de Bolama, de Gouveia, do Lavradio, de Penafiel, de Pombal e de Soveral; Condes: de Arnoso, do Bomfim, do Cartaxo, de Figueiró, de Sabugosa, de Tarouca e de Villar Secco; Viscondes: de Monte-São e de Tinalhas; Braamcamp Freire, Pereira de Miranda, Antonio de Azevedo, Costa e Silva, Santos Viegas, Teixeira de Sousa, Telles de Vasconcellos, Campos Henriques, Ayres de Ornellas, Palmeirim, Vellez Caldeira, Carlos Eugênio de Almeida, Eduardo José Coelho, Ernesto Hintze Ribeiro, Fernando Larcher, Mattozo Santos, Veiga Beirão, Dias Costa, Francisco Machado, Francisco de Medeiros, Tavares Proença, Baptista de Andrade, Gama Barros, D. João de Alarcão, Mendonça Cortez, João Arroyo, Vasconcellos Gusmão, Mello e Sousa, José de Azevedo, José Lobo do Amaral, José Luiz Freire, José de Alpoim, José Maria dos Santos, Silveira Vianna, José Vaz de Lacerda, Julio de Vilhena, Luciano Monteiro, Pimentel Pinto, Pessoa de Amorim, Poças Falcão, Bandeira Coelho, Affonso de Espregueira, Raphael Gorjão, Sebastião Dantas Baracho, Deslandes Correia Caldeira e Wenceslau de Lima.

O Redactor,

ALBERTO PIMENTEL.