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APPENDICE Á SESSÃO N.° 8 DE 31 DE JANEIRO DE 1893 58-A

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Sr. presidente, permitta v. exa. que eu comece por fazer uma declaração com o intuito de resalvar a minha dignidade pessoal, resalvando tambem a imparcialidade de v. exa. como presidente d'esta camara.

Fiz hontem uso da palavra, e como sempre, sob a inspiração do momento; e porque não d'esse á phrase a entonação devida, ou porque, por uma outra qualquer circumstancia, me faça comprehender mal pelos srs. tachygraphos e pelo publico, succede que se me attribuem muitas vezes idéas que não tive, e palavras que não proferi.

Ora, eu, como respeitador dos principios constitucionaes, entendo que cada homem publico deve assumir a responsabilidade do que diz, não só com relação á palavra fallada como tambem á palavra escripta, desde que á publicidade das sessões parlamentares, pelo facto de serem publicas as sessões desta camara, corresponde a publicidade no Diario da camara, que constituem os nossos annaes parlamentares.

Succede, porém, repito, que tendo eu a obrigação moral de publicar regularmente os meus discursos, e havendo sido de todos os pares, talvez, aquelle que maior numero de vezes tenha usado da palavra, occupando a attenção da camara, raras tambem me têem sido dado publicar os discursos que pronuncio.

Ou seja pela contextura do periodo, ou pela desconnexão da idéa, ou pelo descosido da phrase e má articulação da palavra, o facto é que, não sei por qual rasão, talvez por desgraça minha, me faço entender mal dos srs. tachygraphos, e creio que do publico; apesar da diligencia que emprego para me fazer comprehender, e a despeito dos seus desejos que os srs. tachygraphos tenham de tomar nota exacta das palavras que profiro.

Insisto sobre isto, porque passando em viste rapida diversos jornaes publicados hoje e hontem á noite, vejo que n'elles se me attribuem palavras, ou antes phrases, que eu por certo não pensei proferir, e que persuado mesmo não ter proferido.

Tranquillisa-me, porém, a consciencia o facto de que se eu as houvesse pronunciado, v. exa. sr. presidente, que tem por dever conservar a dignidade do debate, por certo me teria chamado á ordem, e não o fez. Nem os meus collegas, e entre estes tantos amigos, e tão cordiaes, que, por que o são de longa data, francamente me advertiriam qualquer inconveniencia, me teriam applaudido e felicitado se eu houvesse pronunciado phrases que destoam completamente da dignidade propria dos debates d'esta casa.

Vi em um jornal que eu dissera do sr. presidente do conselho, com quem por infelicidade minha não posso nem quero ser amavel,- e peço aos meus collegas, principalmente aos que forem sabidos em leis de physica, que se lembrem que tambem nas questões parlamentares a acção é igual á reacção - vi, repito, em um jornal, que eu dissera que o sr. presidente do conselho tinha uma alma... nem completo a phrase, porque se não póde repetir.

É verdade que não pretendo, nem quero, ser amavel com o sr. presidente do conselho, nem o fui. D'ahi, porém, a referir-me ao seu caracter particular, a classificai-o por aquella fórma, vae uma distancia bem grande. Estou no meu direito, e de certo ninguem m'o contestará, trabalhando para fazer comprehender ao paiz que a administração a que o sr. Dias Ferreira preside é nefasta; que a orientação que s. exa. tem dado, depois da crise de maio, á politica que o governo representa, é triste, tristissima; mas se esta minha apreciação é feita em termos severos, não o foi nunca empregando expressões anti-parlamentares. Se qualifiquei alguns actos de responsabilidade de s. exa. com phrases ásperas, ninguem as estranhe; são merecidas.

Ha homens, sr. presidente, demasiadamente susceptiveis, que procurariam para a qualificação de actos e de factos que aliás severamente condemnam, a escolha de expressões e de termos que estão longe de os poder exprimir e significar. Para esses não fallo eu. Medem a phrase pela susceptibilidade do seu espirito, e nunca a põem em relação proxima com o facto que ella procura traduzir. D'esses já fallou Molière no seu Tartufo quando disse:

Que le mot effarouehe et non pas le péché.

Tambem com relação ao acto eleitoral e aos episodios que se deram na eleição de s. exa. por Penacova e por S. Thomé, eu não disse o que se me attribue. Disse apenas que s. exa., com surpreza minha e de todos, depois da eleição geral saíra eleito por Penacova, e para não ficar em pé na cova (o calembourg não é meu), decidira propor-se por S. Thomé.

Não conheço o cavalheiro a quem se attribue a eleição de s. exa. por Penacova; sei apenas que se chama Fortunato, e n'este caso melhor cabia o nome a s. exa. (Riso.) por ter e merecer tão dedicado amigo.

O Fortunatus natus me contule Roma!

Não disse, porém, que renunciando o sr. presidente do conselho á sua eleição por Penacova, e depois ainda por S. Thomé, o houvesse feito pela rasão que se affirma eu dera para tal facto.

A crueza de expressão não está nos habitos do meu estylo parlamentar.

Dada esta explicação, peço instantemente a v. exa. que me chame á ordem quando a intemperança da minha phrase assim o merecer.

Quando v. exa. o não faça, desde logo me dou por desobrigado de quaesquer explicações, nos termos e com o intuito d'aquellas que tenho dado hoje.

O sr. Presidente: - Occupando o logar da presidencia entendo que devo manter n'esta camara a maxima imparcialidade, e assim procurarei sustentar sempre o decoro parlamentar. Não me foi possivel ouvir todas as palavras do discurso do digno par, por isso que v. exa. se voltava amiudadamente para o outro lado da camara. Estando, porém, costumado a admirar os recursos oratorios e a elevação dos discursos de v. exa. tenho n'isso garantia da sua correcção, porque é para mim certo que desde que o digno par saísse fóra d'esses limites não faria senão diminuir-se a si e ao merito dos seus discursos. As proprias palavras que o digno par acaba de pronunciar estão comprovando a minha opinião. Por isso mesmo é que nunca o interrompi.

O Orador: - Agradeço a v. exa. as suas palavras e a affectuosa benevolencia que as inspira, e entrando em materia não procurarei succintamente expor em rasão de ordem as considerações que hontem apresentei á camara, embora occasionalmente a ellas me refira no que hoje tenho a dizer.

Sr. presidente, tão fraco, tão combatido, tão desprestigiado está o governo que é rasão de surpreza para muitos vel-o ainda hoje occupando aquellas cadeiras. Eu proprio, reflectindo sobre a tenacidade com que o sr. presidente do conselho se impoz a mais rigorosa mudez, não tendo pedido a palavra em toda a sessão de hontem, cheguei a convencer-me que s. exa. tomára a resolução de pedir a Sua Magestade El-Rei a demissão do ministerio. Não pediu, infelizmente, e como o que ahi vemos é mais um mysterio do que um ministerio, porque são umas seis pessoas distinctas, e bem distinctas, e um só ministro verdadeiro, contra vontade continuarei a dirigir-me a s. exa. na improba tarefa de procurar convencel-o de que a sua conservação no poder é impossivel.

Sr, presidente, comprehendo que todo o homem publico tenha a legitima ambição de fazer vingar as suas idéas, de

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