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SESSÃO N.° 9 DE 5 DE FEVEREIRO DE 1896 69

Não queria fazer comparações, mas ponham na balança da historia a cartilha de João de Deus e a espada de Mousinho de Albuquerque e verão qual pesa mais.

Calculem bem os resultados da campanha em Africa.

Pois agora diz-nos o governo que se ha de pensar!

Quando soube que o governo tinha recebido o telegramma que dava a noticia da prisão Gungunhana levada a effeito por Mousinho de Albuquerque e seus companheiros de armas, suppuz que o governo lhe ia dar logo a mais elevada distincção.

Mas não: esperava-se, como diz o sr. ministro, o relatorio, porque este paiz é tudo papelada, quando convem demorar a resolução de qualquer negocio. Tudo escrupulos.

Sr. presidente, eu não venho aqui procurar popularidade.

Se ámanhã entender que devo pugnar por qualquer idéa que me pareça de utilidade para o paiz, embora muitos a julguem impopular, não me prenderei com isso, e hei de sempre defender essa idéa. Ambições tambem não as tenho.

Por consequencia, não se póde dizer que eu pretendo ganhar popularidade, ou que faço jus a qualquer logar.

Entrou na sala o digno par sr. Thomás Ribeiro.

Ainda bem, sr. presidente, que vejo entrar n'este momento o digno par e meu amigo o sr. Thomás Ribeiro.

Eu já citei aqui o nome de s. exa. a proposito do assumpto que se discute, e pena tenho que, quando tivemos a noticia dos feitos gloriosos praticados pelos expedicionarios na recente campanha em Africa, s. exa. não estivesse presente, porque a s. exa. pertencia pedir a palavra e fazer o elogio desses heroes, e não a mim.

Seja s. exa. bem vindo entre nós.

Sr. presidente, tenho presente a relação dos officiaes que acabam de ser condecorados com a ordem da Torre e Espada, pergunto aos nobres ministros da marinha e da guerra:

É esta a resolução final do governo com relação aos militares que tanto se distinguiram em Africa?

É esta a ultima lista correcta e augmentada?

Se é, pergunto mais:

Pois então é crivei que entre dois mil expedicionarios, não houvesse um unico official inferior ou soldado, que merecesse uma distincção?

Foi, porventura, a ordem da Torre e Espada estabelecida unicamente para uma classe, ou para recompensar todos os que se distingam pelo seu valor, lealdade e merito?

Pois não houve um unico acto de coragem, de valor, praticado por um simples soldado?

Houve, de certo.

Eu tenho ouvido narrar alguns d'esses actos.

Vou, por exemplo, citar á camara um, que anda de bôca em bôca.

Na occasião de combate, um dos soldados estava no quadrado fazendo fogo e uma bala levou-lhe parte do nariz.

Esse soldado recolheu ao hospital, e, chegando ali pouco tempo depois, tambem bastante ferido o seu major, o soldado disse para o medico que o estava pensando, que tratasse primeiro do major, visto que o ferimento d'este era mais grave.

Voltando em seguida costas ao medico, foi visto pouco depois no quadrado, continuando a fazer fogo.

Ora, não será este soldado muito digno de uma distincção, pela sua conducta heróica?

Então o governo esquece o simples soldado?

É que o soldado, como dizem os francezes, c'est la chair a canon.

Não me parece que deva ser assim.

É necessario que a justiça seja igual, e que se faça justiça a todos.

Não é fazer justiça o tratar-se com a mais negra ingratidão aquelles que se distinguiram em campanha.

Pois então será o sr. commissario regio, pessoa que eu muito respeito, homem inteliigentissimo e estadista notavel, será s. exa. o mais competente para fazer o relatorio dos feitos praticados em campanha pelos expedicionarios, s. exa. que estava a 50 ou 100 leguas de distancia do campo de batalha, é que tem de apreciar os feitos dos nossos soldados?

Pois não devia ser o commandante da expedição, assim como os commandantes das companhias ou unidades, que deviam dar informações seguras relativamente aos militares que mais se distinguiram em combate?

Não eram estes os que estavam em contacto com os soldados?

A verdade é que não houve um unico sargento que merecesse ser condecorado com a cruz de Torre e Espada!

Não sabem todos que D. Pedro IV, nas linhas do Porto, condecorava os militares que ali mais se distinguiam, pondo com a sua propria mão no peito dos soldados as respectivas insignias?

Hoje está tudo mudado.

Hoje a ordem da Torre e Espada é para as classes.

Nem o proprio sargento póde já ser condecorado com esta ordem.

Sr. presidente, v. exa. não ignora que foi creada a medalha D. Amelia.

Sabe v. exa. o que eu desejaria que fosse a medalha D. Amelia?

Desejaria que fosse uma medalha igual tanto para os soldados como para os generaes. A medalha D. Amelia não deve significar outra cousa senão que todos os que a receberam estiveram na campanha de Africa oriental. Medalha de oiro para os officiaes superiores, de prata para os officiaes inferiores e de cobre ou de bronze para os soldados. Não tem rasão de ser.

O sr. Baptista de Andrade: - Foi assim que se procedeu em 1860.

O Orador:- Diz-me agora o digno par o sr. Baptista de Andrade que na campanha de Angola se procedeu como se está procedendo agora. Desconhecia o facto; mas, nem por o conhecer, merece a meu applauso.

Aquella medalha é apenas no meu entender um attestado de presença e mais nada. Tanto póde tel-a o soldado que assistiu a toda a campanha, sem nunca só distinguir, como o que praticou feitos de indiscutivel heroicidade.

(Aparte do sr. Margiochi).

O sr. Baptista de Andrade: - Na campanha de Angola tambem se fez a mesma cousa. Houve medalha de oiro para o commandante em chefe; de prata para os officiaes de patente, e de cobre para as praças de pret.

O Orador: - Pois lamento que se tivesse feito assim, e entendo que d'esta maneira não se galardoa devidamente quem se destingue no campo da batalha.

Sr. presidente, eu peço aos nobres ministros que se sentam n'aquellas cadeiras que se desprendam de quaesquer preoccupações politicas. Se não fosse a politica, as cousas teriam caminhado por outra fórma; mas desde o desembarque dos expedicionarios até o momento presente, não tem havido senão uma serie de desastres.

Sr. presidente, eu vou citar a v. exa. o que me garantiu um deputado, creio que do Porto, e que, em todo o caso é ministerial.

Sabe v. exa. o estado em que chegaram ao Porto os soldados que se dirigiam a Bragança?

Chegaram cobertos de bichos e levavam no corpo a camisa com que tinham saído de Lourenço Marques.

No Porto, sabendo-se isto, fez-se uma subscripção, a qual em pouco tempo attingiu a somma de 1:200$000 réis, e com este dinheiro compraram-se camisas, ceroulas, camisolas, etc., etc.

Menos festas e banquetes e melhorias de rancho e mais