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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 35

que está na constituição, seja applicado, quando natural e logicamente o deva ser.

Eu não protesto contra Deus. O que eu não posso acceitar como constitucional é a hibernação de um partido.

O sr. Conde de Cavalleiros: - Sr. presidente, eu pedi a palavra para quando estivesse presente o sr. presidente do conselho de ministros, por causa de um negocio serio e urgente e não para uma interpellação politica, porque n'esse caso, pela amisade e deferencia que tenho por s. exa., eu tel-o-ía procurado primeiro para o prevenir, porque não seria justo que fizesse arguições a s. exa. sem o prevenir, porque sou deveras amigo de s. exa., que tambem me honra com a sua amisade.

Seja-me porém permittido, sr. presidente, que eu de passagem faça algumas observações ao que acaba de dizer s. exa.

Eu não pertenço a nenhum partido; tenho bandeira de côrso ha muitos annos no parlamento; faço politica, guerra e opposição por minha conta.

Sr. presidente, se eu fosse um furibundo da opposicão estava contentissimo, ria-me, esfregava as mãos e dizia «bem», mais um erro politico. Porque ha effectivamente dois factos contradictorios e impoliticos; o primeiro é a saída de s. exa. o sr. Fontes do poder, e o outro é agora a sua entrada triumphal.

Ainda que é de absoluta necessidade haver um chefe para cada partido, não se segue que esse morra porque o chefe adoece, ou se aborrece de governar..

Esse partido deve ter homens que se substituam, ou então o partido não tem rasão de ser e de existir, não tem vida.

Quem elegeu a maioria da outra camara não foi para ella fugir na occasião do perigo, mas fugir quando adoecem os chefes, e entregar o poder aos inimigos é uma cousa que não entendo.

Houve um sacristão que não queria morrer porque não havia quem tocasse á missa depois d'elle; mas esse sacristão morreu e a missa foi sendo dita por diante, houve assim quem tocasse á missa. (Riso.)

Ora, se ao meu nobre amigo o sr. presidente do conselho e seus collegas um dia chegasse a occasião de dizer que não queriam sentar-se mais n'essas espinhosas cadeiras, o partido regenerador acabava, tinha de desapparecer!?

O sr. Fontes Pereira de Mello é o homem mais competente para dirigir um partido, e não é hoje que digo isto a s. exa., porque já ha muitos annos, antes do nobre ministro ser chefe do partido regenerador, eu lhe disse que estava talhado para occupar aquelle logar, e que o tomasse.

Por consequencia, julgo que não faço injuria nenhuma em lhe dizer que, se acaso deixasse de se sentar n'aquellas cadeiras por qualquer doença ou infelicidade, que Deus não permitta, o partido regenerador não devia morrer. Devia lançar mão das capacidades que em si encerra. Os homens passam, as cousas ficam.

Agora, sr. presidente, emquanto ás dissoluções, eu já tenho visto muitas.

Eu fui dissolvido a primeira vez; em 1852 fui dissolvido; depois seguiram-se outras dissoluções, e aqui estou resuscitado como qualquer pobre mortal, e como está o governo triumphante.

Sr. presidente, se o nobre marquez d'Avila e de Bolama, ao entrar no ministerio, não tivesse tão boa fé, tinha pedido logo a dissolução da camara dos senhores deputados, e a corôa annuiria, ou então não o encarregava da formação do novo gabinete; mas s. exa. pediu a dissolução no fim, e deu este triste resultado, quando a devia pedir no principio.

Aqui está como eu entendo estas cousas.

Sr. presidente, passo agora a occupar-me de outro ponto que é a restauração, de que s. exa. fallou com o seu lindo estylo e proficiencia propria do seu grande talento; mas eu, sr. presidente, chamar-lhe-hei resurreição em carne, osso e espirito, o que me parece um grande mal, porque aquelles que combatem o modo por que s. exa. gere a fazenda publica, receiam que, sendo necessario do quatro em quatro annos contrahir um emprestimo de 14.000:000$000 réis, para pagar a divida fluctuante, havendo um deficit constante, cheguemos ao ponto de não poder pagar nada.

Appliquem os srs. ministros esse systema de governo ás suas casas, vivam de emprestimos, e em pouco tempo se desenganarão.

Adoptado o systema para si morriam pobres!

A continuação d'esse systema é que se chama resuscitar em espirito.

Agora emquanto á resurreição em carne e osso é simples de explicar, por isso que voltaram ao poder os mesmos cavalheiros, até mesmo o que tinha já saído muito anteriormente do poder sem nos dizer porque! Mas o facto é que a resurreição agora foi completa, entrando até os que haviam saído anteriormente á queda do sr. Fontes! E, para dizer a verdade, eu acho que isto é mau, e não me parece politica uma organisação assim, e muito menos quando se quer captar certas benevolencias, o levar, como se costuma dizer, a agua ao seu moinho.

D'ahi provém certas contrariedades, que se apresentam muito pronunciadas.

Agora permitta-me s. exa. que eu renove um facto que se passou commigo ha vinte annos, a que s. exa. alludiu ha pouco.

Em 1858 eu trouxe ao parlamento uma questão do moralidade. N'aquelle tempo as questões de moralidade faziam um grande barulho, não porque se interessassem muito por ellas, mas porque era uma novidade, e era motivo para a gente morder nos outros.

É sempre agradavel á especie humana sermos mordazes com os outros, e benevolos comnosco, esses tempos passaram!

Pois, sr. presidente, apresentei eu a questão é houve sessões secretas e sessões publicas; no fim de oito dias de discussão, formulei um voto de censura ao governo, que foi approvado por dezesete votos, que tantos eramos os da opposição, e o governo caíu, com seis votos de maioria! Isto prova que nem sempre com grandes maiorias se póde governar, nem conservar, é precizo mais alguma cousa.

Sr. presidente, as rasões porque aquelle grande Rei, por quem todos ainda hoje choram como por um pae carinhoso que elle foi para o seu povo, não acceitou a lista de nomes, que lhe foi apresentada, e a que ha pouco se referiu o sr. presidente do conselho, não foram as que s. exa. indicou.

O motivo por que o Senhor D. Pedro V não quiz acceitar aquella lista, formada por dois cavalheiros distintos, os srs. Joaquim Antonio de Aguiar e conde do Casal Ribeiro, foi porque ella era exclusivamente composta de individuos pertencentes ao partido regenerador, e Sua Magestade entendeu que não era politico, nem mesmo prudente, fazer uma nomeação exclusiva.

Foi por essa rasão que o Senhor D. Pedro V não quiz acceitar a lista, e, ao fim de alguns dias, resuscitou o governo!

O que então pareceu mal ao Senhor D. Pedro V, parece-me hoje mal a mim.

Peço perdão de recordar estes factos, talvez seja mesmo uma inutilidade; mas o meu amigo, o sr. presidente do conselho, acceite estas palavras como prova da sinceridade do meu pobre coração, que é o que actualmente me dá mais cuidado, e que julgo não ser uma boa peça, que eu tenho cá dentro, para a minha conservação.

Agora, permitta-me a camara que eu diga, que sou o primeiro a, accreditar nos desejos que o sr. Fontes tem de organisar, armar e disciplinar o exercito; e se, ás vezes impugnei algumas das medidas apresentadas por s. exa. é porque, na minha opinião, não me pareciam as mais conducentes aos fins que o nobre ministro tinha em vista.

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