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104 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

stituição de 1838 e da constituição de 1842 a contra revolução. É para que não tenha de haver outro 42, é que eu não desejava que esta reforma actual fosse um 38; por isso eu queria ver em volta das instituições todos os partidos monarchicos, e de forma que não houvesse uma unica divergencia.

O governo veiu lembrar o exemplo, exemplo que eu deixei ficar no escuro, prudentemente, porque não quero que após 1838 venha 1842.

O que vier a ser resolvido quereria eu que fosse lei constitucional acceita por todos.

Por isso os meus votos são de que tudo se faça com sangue frio, por processos legaes e sem paixões senão aquellas que são permittidas nestes debates, porque as paixões politicas, segundo alguem diz, são a poesia da politica.

Sr. presidente, eu appello para a cordura da camara.

Deus nos livre que o governo, levado por quaesquer más vontades politicas, é claro, contra qualquer partido monarchico, venha como o cego Sansão abalar a columna do templo e nós o auxiliemos; ficâmos todos esmagados. mas nas ruinas ficará o governo tambem, ficarão as instituições e o paiz!

Sr. presidente, eu ouvi com toda a attenção o que disse o episcopado portuguez, que eu respeito, como toda a camara, e cujos representantes merecem a affeição filial de seus diocesanos.

Houve um momento em que eu dei um apoiado ao sr. bispo-conde 5 foi quando s. exa. fallou no sr. Antonio Brandão Pereira, cavalheiro respeitabilissimo, de quem sou amigo, e que é um caudilho notavel do catholicismo.

Veio que o governo desejou ter na camara dos senhores deputados um orador catholico.

Mas que pena que eu tenho de não saber que o governo andava nesse intento. Eu, que sabia de tres candidatos catholicos que se apresentavam pelo Porto e que eram combatidos com toda a força pelos amigos do governo: o sr. Senna Freitas, que julgo estar no gremio catholico; esse homem a quem ahi açularam a jacobinagem n'essas das e que bem merecia ter alguma prova de consideração da parte do governo; o meu amigo sr. D. José de Saldanha, que já por vezes se tem apresentado como candidato catholico, e bem conhecido, é em todo o paiz pelos seus grandes serviços e o sr. D. Thomás de Almeida, moço muitissimo sympathico, um dos oradores do congresso e presidente da Mocidade catholica, associação que, segundo creio, deve merecer ao episcopado portuguez toda a consideração.

Tenho pena de que n'essa occasião o sr. bispo-conde não lembrasse ao governo que havia aquelles tres candidatos, que os amigos do governo estavam combatendo a todo o transe e procurando que não viessem ao parlamento.

Sr. presidente, não quero cansar a attenção da camara; comtudo devo dizer ainda ao nobre bispo-conde que gostei muito de ouvir o que s. exa. disse com relação ao nenhum receio que deve haver das pretensões da Igreja. A Igreja não vera como catadupa que alaga os valles, mas como a agua que se infiltra por toda a terra, dá viço ao prado e faz que brotem flores da campina; mas nem por isso a sua doutrina deve estar só nos templos, mas tambem no coração do hamem, no lar, na escola, na officina, onde é necessario que se ensine o que deve ser o salario, não o que é hoje, sujeito á concorrencia desenfreada, mas o necessario para o sustento de uma familia e para que o operario, quando for velho, não precise de recorrer á caridade publica. A doutrina da Igreja deve estar ahi e tambem nas nossas leis e em todos os nossos actos, porque nós em parte nenhuma devemos esquecer-nos de Deus. Pois, sr. presidente, eu que jurei a Deus guardar e cumpri a carta constitucional, defendo-a; defendo-a, porque é a pedra angular do nosso edificio social.

Cuidado, dignos pares do reino, no que ides porventura fazer. Ergueis-vos contra a desordem e haveis de approvar processos de desordem!?

Sr. presidente, bem sei que não convenço a camara, mas entendo que ella praticaria um acto de bom criterio, de boa prudencia, se votasse a minha moção. Atrevo-me a suppor que será assim, não pelo que vale o seu auctor, mas pelo que valem as idéas ahi affirmadas, e que me parecem justas e dignas de serem attendidas.

Tenho dito.

O sr. Presidente: - Está esgotada a inscripção. Vou classificar as propostas.

Peço a attenção da camara.

A primeira moção enviada para a mesa é a do sr. arcebispo-bispo do Algarve, a qual, por me parecer da natureza de additamento, se ha de votar depois do projecto, sem que, no caso de approvada, possa ser n'elle incluida.

A segunda moção, que é do sr. conde de Bertiandos, como adiamento do projecto, tem de ser votada antes.

A terceira, do sr. Marçal Pacheco, tambem como adiamento do projecto, tem de ser votada antes, e a quarta do sr. conde de Lagoaça, que é uma substituição, fica para depois.

Vae ler-se a moção do sr. conde de Bertiandos.

Leu-se na mesa.

O sr. Presidente: - Os dignos pares que approvam a moção que acaba de ser lida, tenham a bondade de se levantar.

Foi approvada por cinco dignos pares e rejeitada pela maioria.

Vae ler-se a segunda proposta de adiamento do sr. Marçal Pacheco.

Leu-se na mesa.

O sr. Presidente: - Os dignos pares que approvam a proposta que acaba de ser lida, tenham a bondade de se levantar.

Está rejeitada por toda a camara com excepção do sr. conde de Lagoaça.

Vae ler-se o projecto.

Leu-se na mesa sendo approvado por vinte e oito dignos pares e rejeitado por cinco.

O sr. Presidente: - Está, portanto, prejudicada a moção do digno par, o sr. conde de Lagoaça.

Vae ler-se a do sr. arcebispo-bispo do Algarve.

Leu-se na mesa e foi approvada.

O sr. Presidente: - Na proxima sessão nomearei a deputação que ha de apresentar o autographo a Sua Magestade.

A primeira sessão terá logar amanhã, 11 do corrente, sendo a ordem do dia a continuação da que vinha para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas e dez minutos da tarde.

Dignos pares presentes à sessão de 10 de fevereiro de 1896

Exmos. srs. Luiz Frederico de Bivar Cromes da Costa; Cardeal Patriarcha de Lisboa; Marquezes, de Fronteira, das Minas; Arcebispo de Évora; Arcebispo-Bispo do Algarve; Bispo Conde de Coimbra; Condes, da Azarujinha, de Bertiandos, do Bomfim, de Cabral, de Carnide, de Lagoaça, de Macedo, de Magalhães, de Thomar; Bispos, de Beja, de Bragança, de Vizeu; Viscondes, de Athouguia, da Silva Carvalho; Moraes Carvalho, Sá Brandão, Serpa Pimentel, Arthur Hintze Ribeiro, Cau da Costa, Ferreira Novaes, Cypriano Jardim, Sequeira Pinto, Ernesto Hintze Ribeiro, Costa e Silva, Margiochi, Jeronymo Pimentel, Vellez Caldeira, Gomes Lages, Baptista de Andrade, José Maria dos Santos, Pessoa de Amorirm, Marçal Pacheco, Frederico Arouca, Sebastião Calheiros.

O redactor = Urbano de Castro.