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58 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

sivel, tanto, porque nem o assumpto pede largos discursos, como porque o estado da minha saude não me consente, por emquanto, fallar por muito tempo. Mas faltaria a um dever de honra, e desertaria do meu posto, se, achando-me n'esta casa, ouvisse sem protesto, e quasi confirmasse com o silencio, as expressões que ao sr. bispo de Vizeu aprouve soltar em referencia ao partido historico, a que s. exa. pertenceu, e com o qual me honro muito de militar, porque nas lutas da civilização, da liberdade, e das grandes e verdadeiras reformas, esse partido póde ufanar-se de ter prestado longos e valiosos serviços ao seu paiz (apoiados).

Nenhum partido, com principios definidos, aspirações nobres, e elementos vigorosos de existencia, nenhuma facção mesmo, por mais pequena e desamparada, arreiaria as bandeiras, levantaria a campo, e aceitaria o suicidio, em virtude de promessas ignominosas para obter por meio de um pacto ignobil um quinhão no poder, A idéa de similhante opprobio, não tem outro nome, nunca entrou, nunca podia entrar na mente do partido historico, nem entraria na de nenhum partido, faço justiça a todos. Ha mais. Propostas similhantes nunca se fizeram, porque são cousas que não se dizem, não se ousam, e não se ouvem (apoiados). Deshonrariam tanto quem se atrevesse a faze-las, se houvesse intrepidez para isso! como quem ás primeiras palavras as não rspellisse com profunda indignação"

Nunca o sr. bispo, nunca nenhum dos seus collegas as apresentou, e por isso o meu espanto é grande sabendo agora que houve quem as concebesse!... O sr. bispo de Vizeu devia lembrar-se, de que foi soldado debaixo das bandeiras, que hoje desacata, de certo por não medir o alcance da injuria, cobriu-se com as pregas d'esse estandarte, que tem a gloria de inscrever nas suas devisas a abolição dos vinculos, a lei de desarmotisação, e a estincção dos monopolios do sabão e do tibaco, das reformas mais fecundas e mais amplas decretadas depois de 1834. S. exa. separou-se na questão das irmãs da caridade, quando affirmou do alto da tribuna, que as ordens religiosas eram essenciass ao christianismo, novidade que de certo lhe não grangeou applausos na escola liberal, de que hoje aspira a ser pontifice. Perdeu então o partido historico o apoio do illustre prelado, mas alcançou o de José Estevão, cuja voz eloquente deve estar ainda nos ouvidos do sr. bispo de Vizeu, porque foi severa, mas justa, a memoravel oração proferida por elle para o refutar"

Bandeiras com estas cores e com este moto não se arreiam, nem se bandeiram a troco de nenhuma consideração. Firmam-se, guardam-se, e rodeiam-se em nome do passado e do futuro. Não ha ambições impacientes e freneticas, ou pactos forçados, que o crigusm a incliná-las diante de ninguem, a esconde-las, ou a renega-las.

O partido historico não tem pressa. Sabe e póde esperar. Ha de cumprir sempre o seu dever, como hoje o cumpre, coadjuvando a administração presidida pelo sr. ma-quez d'Avila sem condições, sem parte no poder, sem exigencias, sobretudo sem reservas mentaes, ou planos incidiosos (apoiados).

O partido historico ficou no seu campo, não pediu nada, e nunca buscou negociar a sua cooperação. Offereceu-a, como podia e devia da-la, pura de interesse, e nobilitada pela abnegação, a fim de ajudar a resolver as difficuldades financeiras do paiz. Quem o procurou, quem solicitou conferencias com os seus chefes e com o partido regenerador, propondo divisão de pastas e accordo de influencias foram os membros do gabinete, em que s. exa. tinha a pasta politica - a do reino. Ignorava o facto? Já confessou que não. Desapprovou-o. Disse que sim. Porque não se oppoz então? Dormia o somno de Epmenides enquanto os seus collegas visitavam as estações politicas cobertos pela cumplicidade tacita do seu silencio?

É nova e singular a scena de um gabinete, em que se propunha como base aceita a conciliação, para depois vir um ministro interpor-se, declarando-se contrario a ella. Esteve de braços cruzados, e só pronunciou o véto á ultima hora, ufano de ser o Deus ex machina da mutação final e exclusivista!

Não se fez mercancia de pastas. Nunca se pediram, e não se aceitaram mesmo as offerecidas sem condições. Esta é a verdade em relação ao partido historico. Quanto ao partido regenerador ouvimos o sr. Fontes e a camara sabe o que occorreu. "Quero adhesões e não fusões, exclamou o sr. bispo de Vizeu. Aceito todos os que vierem para mim, e não pergunto donde saíram". Admiravel munificencia!

Arreiem bandeiras os partidos, formem bandos de desertores avulsos, e corram a alistar-se no exercito de Xerxes! Um novo Annibal os guiará á Capua da absolvição plenaria. Que modestia exemplar!

S. exa. abre os braços e o regaço aos profugos de todos os partidos. Nada de fusões que deixam intactas a honra, as devisas, a individualidade, as aspirações, e os principios. As fusões significam mercancia. O que é nobre, moral, e profundamente pratico são as adhesões!

As adhesões, se engrossam as fileiras, acanham, aviltam os homens e as cousas, e fulminam com o ferrete dos pactos pessoaes a deserção das idéas. Por isso mesmo é que as adhesões são recommendadas! Sonhára o illustre prelado representar um papel parecido ao da bolla de neve dos jogos infantis. Deixava-se resvalar pela encosta da montanha, ia enrolando os frocos de adhesões, e chegava á planicie na mais opulenta retundidade, e rico dos despojos de todos os partidos. É maravilhoso por não dizer ingenuo de mais! (Riso. - Apoiados}.

Fallemos de cousas serias. A primeira de todas é que s. exa., depois de nos encarecer as vantagens da rotação constitucional dos partidos, queria por uma logica nova concorrer para ella, minando-as, corrompendo-as pelo systema das defecções pessoaes, e por ultimo (rasgo de sinceridade que o honra!) pela absorpção em massa, arrancadas as bandeiras e arrasados os campos. S. exa. deve ter acordado do sonho, e estou certo de que se ri comsigo da vaidade d'elle.

O sr. duque de Loulé, dignissimo presidente d'esta camara, encarregou-me de participar, que, posto se ache melhor do incommodo, que tem padecido, não póde comparecer ainda ás sessões. Incumbiu-me era segundo logar, assim como o sr. Anselmo Braamcamp, de declarar, que ninguem ousou nunca propor-lhes, que, para entrarem elles, ou os seus amigos no ministerio, amassem as bandeiras do partido historico, antes, pelo contrario, o sr. bispo de Vizeu em pessoa offerecera ao sr. duque de Loulé e ao sr. Braamcamp as pastas da marinha e das obras publicas sem as mais leves condições.

Fui auctorisado por s. exas. para asseverar estes dois factos á camara Achava-me enfermo e afastado da capital, quando ss discutiam as propostas para a reeonstrucção do gabinete do sr. marques de Sá, e por isso só em nome dos dois cavalheiros, e com expressa auctorisação d'elles, podia, e posso fazer estas declarações, roboradas pelo caracter probo, verdadeiro, e respeitado geralmente de ambos (apoiados}.

Eis a verdade pois! O sr. bispo quiz e não quiz a conciliação, Offereceu pastas fóra do seu partido, violando o dogma da exclusão, que acaba de professar, e, quando os srs. duque de Loulé e Braamcamp ss negaram, foi offerece-las ao sr. marques d'Avila e de Bolama, politico de idéas proprias, e não do gremio denominado reformista. N'isto vieram parar aquelle odio pudico á veniaga das pastas, as repugnancias ao accordo, ou tregua dos partidos, e o famoso plano das adhesões. Ninguem arriou bandeiras, e a do sr. bispo, a bandeira exclusivista, com a entrada dos srs. marquez d'Avila e general Rego, tornou uma côr mais suave, e quarteou-se com a faxa branca da tolerancia (riso - apoiados}.

O sr. marquez de Sá, malograda a idéa da conciliação, que elle queria que fosse a base do seu gabinete, retirou-