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N.° 14

SESSÃO DE 8 DE FEVEREIRO DE 1882

Presidencia do exmo. sr. João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártens

Secretarios - os dignos pares

Eduardo Montufar Barreiros
Visconde de Soares Franco

SUMMARIO

Lê-se e approva-se a acta da sessão antecedente. - A correspondencia é enviada ao seu destino. - Ordem do dia: Continuação da discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa. - Usam da palavra os srs. Ferrer, Aguiar, presidente do conselho, conde de Valbom, Sampaio e Carlos Bento.

Ás duas horas e um quarto da tarde, sendo presentes 26 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Lida a acta da sessão precedente, julgou-se approvada, na conformidade do regimento, por não haver reclamação em contrario.

Mencionou-se a seguinte:

Correspondencia

Um officio do digno par Jayme Larcher, participando não ter comparecido á anterior sessão nem a esta, por incommodo de saude.

(Esteve presente o sr. presidente do conselho de ministros, e entraram durante a sessão os srs. ministros do reino, marinha, obras publicas e justiça.)

ORDEM DO DIA

O sr. Presidente: - Vae-se entrar na ordem do dia. Continua a discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa.

Tem a palavra o digno par o sr. Ferrer.

O sr. Ferrer: - Sr. presidente, o entrar n'uma discussão é objecto de um direito e não de uma obrigação. Quem diz direito diz liberdade juridica; quem diz obrigação diz liberdade publica. Quem tem direito póde usar ou deixar de usar d'elle.

Os meus collegas do partido progressista n'esta casa decidiram que não entrassemos na discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa, e que o votassemos como um mero comprimento ao chefe do estado. Portanto, os dignos pares que constantemente nos tem estado a chamar ao campo da discussão perdem o seu tempo, porque nós não lhes responderemos.

Declaro apenas que, querendo nós reformas politicas, entendemos que agora não é occasião opportuna para as fazer; nós levantaremos a questão quando entendermos que assim é necessario.

O sr. A. de Aguiar: - Peço a palavra.

O sr. Presidente: - Eu devo observar ao digno par que s. exa. já fallou duas vezes n'esta discussão, e que, segundo o regimento, não posso conceder-lhe a palavra pela terceira vez sem uma resolução da camara.

O sr. A. de Aguiar: - N'esse caso peço a v. exa. que consulte a camara.

Consultada a camara, permittiu que o sr. Aguiar usasse novamente da palavra.

O sr. A. de Aguiar: - Agradece á camara o ter permittido usar da palavra mais uma vez.

Era indispensavel que respondesse a alguns pontos do discurso do sr. presidente do conselho, não só pela extrema benevolencia com que s. exa. lhe dirigiu subidos, elogios, aliás immerecidos, mas tambem por haver feito certas apreciações que exigem algumas observações da sua parte.

O sr. presidente do conselho de ministros mostrára-se no seu discurso ultimo um grande conservador, talvez o maior conservador da nossa politica nos tempos que vão correndo.

Louva a sua franqueza e respeita a sua opinião, e, sem querer fazer censura a ninguem, pelas suas idéas, dirá que o ser conservador, alem de certos limites, póde ter serios inconvenientes para os povos.

Os partidos conservadores devem exercer é poder, mas devem fazel-o por tal modo que não façam rebentar antes de tempo e violentamente o que a evolução das idéas mais tarde póde trazer pacificamente.

Sabe que o sr. presidente do conselho não pertence a esse genero de conservadores que provocam essas explosões tremendas; pelo contrario, as suas idéas são de contemporisação; sabe até onde o seu espirito conservador deve ir: portanto, o seu fim é só notar a phase politica que assumiu s. exa.

Explica a rasão por que citou a Hespanha actual como exemplo de boa politica.

Entende que deve citar sempre os paizes, cujo exemplo póde ser util.

Não teve n'isso nenhuma outra intenção.

De resto, todos conhecem as suas idéas: em materia de allianças sómente deseja a da Inglaterra.

Não devemos nós ficar, em relação ao paiz vizinho, n'uma posição inferior; precisâmos reformas, não só debaixo do ponto de vista local, mas internacional; tanto no que diz respeito a liberdade, como á economia, á administração e ás finanças.

Assim, realisando todas essas reformas de um modo serio e efficaz, garantimos mais a nossa independencia do que o poderiamos fazer pelas armas.

Eis por que citára a Hespanha, que está mostrando hoje, no caminho que segue, que a monarchia constitucional póde dar todas as felicidades a um povo.

O sr. presidente do conselho rendeu-lhe grandes elogios a elle orador. Foram immerecidos.

Agradece as suas palavras generosas; mas tem a dizer que é apenas um homem bem intencionado; e que s. exa. considerando melhor as cousas, havia de achar que elle, orador, não póde ser o homem que phantasiou.

Tambem não póde deixar de reparar que se lhe fez uma injustiça.

O sr. presidente do conselho, ao fazer-lhe os mais rasgados elogios, collocára a elle, orador, n'uma das circumstancias mais difficeis em que um homem se póde ver: ser elogiado á custa do merito e das qualidades dos seus amigos.

Collocado tão alto, tendo tão pouco merito, para, ao mesmo tempo, se fazer descer tão baixo os seus amigos, sobretudo um, que tinha grandes qualidades e talentos, fôra para elle, orador, pouco grato.

Entende que se tiraram grandes resultados da discussão de que a camara se tem occupado: affirmaram-se as opiniões politicas do ministerio presidido pelo sr. Fontes; affirmaram-se as crenças politicas dos que estão no extremo opposto; ouviram-se os conservadores dizer que a carta

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