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N: 14

SESSÃO DE 9 DE AGOSTO DE 1897

Presidencia do exmo. sr. José Maria Rodrigues de Carvalho

Secretarios – os dignos pares

Julio Carlos de Abreu e Sousa

Conde de Bertiandos

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta,— Expediente.— O sr. presidente propõe um voto de pesar e o encerramento da sessão em homenagem á memoria de Cánovas del Castillo.— Em nome do governo, associa-se o sr. Mathias de Carvalho á proposta do sr. presidente— O sr. conde de Macedo profere palavras de preito e louvor á memoria de Cánovas e propõe que o voto da camara seja communicado ao governo hespanhol e á familia do finado. — Celebram com a sua palavra a commemoração da morte de Cánovas os dignos pares Antonio Candido, Hintze Ribeiro, bispo de Coimbra e conde do Casal Ribeiro.— É approvada por acclamação a proposta.— Encerra-se a sessão.

Foram presentes os srs. ministros dos negocios estrangeiros, da guerra e da marinha.

Pelas duas horas e dez minutos da tarde, verificando-se a presença de 25 dignos pares, foi aberta a sessão.

Foi lida e approvada a acta da sessão antecedente. Mencionou-se o seguinte expediente:

Officio do ministerio da justiça, datado de 5 do corrente, declarando, para satisfação ao requerimento do digno par Jeronymo da Cunha Pimentel, que é de sessenta e sete o numero de juizes que, tendo pertencido aos extinctos tribunaes administrativos, foram collocados em comarcas ou tiveram outra colocação até ao dia 30 de junho ultimo, e bem assim que é de quinze o- numero de agentes do ministerio publico que, tendo tambem pertencido aos mesmos extinctos tribunaes, foram collocados em comarcas até ao referido dia.

Para o archivo.

O sr. Presidente: — Victima de um repugnante e odioso attentado falleceu hontem em Hespanha o sr. Cánovas dei Castillo, presidente do governo d’aquella nação, e um dos seus homens mais distinctos e benemeritos, e que ali gosava de um grande prestigio e consideração, pelas suas brilhantes qualidades de estadista eminente, de escriptor abalisado e de eloquente orador parlamentar.

Creio que interpreto os sentimentos da camara, propondo que seja consignada na acta a expressão da sua profunda magua por tão doloroso acontecimento, (Muitos apoiados.) que em seguida se encerre a sessão, não só para honrar a memoria d’aquelle glorioso estadista, mas como protesto de indignação contra tão abominavel attentado. (Muitos apoiados.)

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Mathias de Carvalho): — Sr. presidente, o execrando attentado de que ha pouco foi victima o sr. Cánovas del Castillo não póde deixar de levantar em todo o mundo civilisado um brado unanime de horror e de indignação. (Apoiados.)

Perdeu a Hespanha um dos seus filhos mais dilectos, a Europa um estadista notavel, entre os mais notaveis de todos os tempos, (Apoiados.) e nós perdemos, por tão infausto acontecimento, um amigo sincero e verdadeiro. (Apoiados.)

A orientação politica d’aquelle grande espirito, no tocante ás relações internacionaes entre a Hespanha e Portugal, foi sempre de estreitar cada vez mais os laços de amizade que existem felizmente entre os dois povos da peninsula, conservando cada um delles a sua inteira e completa independencia.

Sr. presidente, a nação portugueza toma parte a mais sincera na dor pungente, no immenso pesar, que aflige neste momento a nobilissima Hespanha, (Apoiados.) e o governo, interprete destes sentimentos fraternaes, associa-se com profunda emoção á sentida proposta que v. exa. acaba de apresentar á camara, e que me parece corresponder perfeitamente ao sentir desta illustre assembléa, do governo e do paiz. (Muitos apoiados.)

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Conde de Macedo: — Sr. presidente, cumpre-me começar por declarar que me associo com inteira convicção e do fundo de alma á proposta que v. exa. acaba de submetter á approvação da camara.

Direi mais, sr. presidente; fui prevenido por v. exa. na apresentação dessa proposta, que eu, antes de ouvir a v. exa., tomara in mente sobre mim o encargo de apresentar em termos quasi identicos, convencido de que procedendo assim cumpria o duplo dever que para mim resulta da circumstancia especial de ser a um tempo membro desta casa e representante de Portugal em Hespanha.

Não lamento, porem, o facto de ter sido prevenido por v. exa. sr. presidente. O facto desta proposta vir da presidencia da camara imprime-lhe um cunho de auctoridade, dá-lhe alcance e importancia, que não teria, formulada pela minha humilde voz.

Não se interrompeu, sr. presidente, não cessou ainda a larga serie nefasta de calamidades e desditas com que á Providencia apraz de ha muito como que pôr á prova todas as energias sempre vivas e a cada golpe crescentes da nobre nação hespanhola.

O espantoso, o infausto successo de que v. exa. acaba de nos dar noticia, o infame e execrando attentado de que foi victima o sr. Cánovas del Castillo, é, por agora, e oxalá que o seja por muito tempo, o ultimo elo (e tambem um dos mais pesados) de uma longa cadeia de notorias e tão immerecidas como enormes desgraças que teem ferido aquella grande nação, para nós mais que amiga, irmã.

Sr. presidente, não foi apenas como particular, não foi só em nome da amisade pessoal, contrahida e, — vanglorio-me de dizel-o, — conquistada no trato constante que desde ha quatro annos tive a honra e o gosto de manter com o sr. Cánovas dei Castillo; não foi só tambem como portuguez amante e respeitador da nação vizinha e irmã; foi tambem como par do reino e como homem publico que eu formulei na minha mente a proposta que v. exa. tão opportunamente apresentou; e sobravam-me para isso os impulsos e as rasões.

É que o sr. Cánovas dei Castillo não era só o parlamentar eminente que tantos de nós tivemos o gosto de ouvir; não era só o primoroso e notabilissimo homem de letras, cujas obras todos nós tivemos occasião de ler; não era tambem apenas o philosopho e historiador profundo,