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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 59

O sr. Ministro da Marinha: - Sr. presidente, entendi do meu dever, honrado como fui pelo convite do digno par, vir na primeira occasião dar rasão de mim e das minhas opiniões a respeito dos negocios cuja gerencia Sua Magestade houve por bem conferir-me.

Por este meu procedimento, e n'esta solicitude em correr ao seu convite, verá v. exa. e a camara dos dignos pares o profundo respeito que lhes consagro.

Cabendo-me a honra, que eu muito aprecio, de pela primeira vez fallar diante de uma assembléa em quem, a par da benevolencia com que me trata, eu sei que hei de encontrar sempre o conselho de que preciso e a lição que espero dos conhecimentos, prudencia e experiencia que me não saberá negar nenhum dos seus membros, é meu primeiro dever, depois de agradecer as palavras affectuosas que devo á benevolencia de antigos e bons amigos quando a primeira vez entrei n'esta casa, e hoje ao digno par, meu amigo, o sr. marquez de Vallada, fazer uma declaração, uma só, a respeito do meu procedimento futuro.

Essa declaração vem a ser que, em quanto estiver occupando a cadeira, de ministro, onde devia estar pessoa mais competente do que eu, a todos os respeitos, nenhum membro d'esta camara deixará de notar os esforços modestos, mas pertinazes, mas sinceros, com que hei de envidar todas as minhas faculdades no intuito de bem e honradamente servir o meu paiz.

E quando sair d'este logar, hei de fazel-o com a minha consciencia limpa e satisfeita, se não pelo bem que tiver feito, pelo desejo quer sempre me acompanhará e pelos esforços que empregarei no intuito de sustentar a honra e augmentar a prosperidade da minha patria.

E agora, sr. presidente, prestada esta homenagem á camara, ante a qual, como já disse, fallo hoje pela primeira vez, permitia-me v. exa. que me refira ás palavras do digno par e meu amigo o sr. marquez de Vallada.

Começarei alterando um pouco a ordem do discurso de s. exa.

Sr. presidente, não sei como chame á tendencia que desde menino me acompanha de desejar muito sinceramente, muito apaixonadamente bem ao meu paiz. Virtude ou peccado?

Eu sei que ha uma escola hoje, infelizmente, em Portugal que taxa de peccado o patriotismo, julgando que vale mais do que as sinceras crenças no nosso futuro, do que o amor pelo torrão natal, do que a cordeal devoção pelas nossas augustas tradições, um cosmopolitismo que nunca comprehendi, não comprehendo, e praza a Deus que nunca chegue a comprehender.

Sr. presidente, s. exa. chamou-me poeta, entre os elogios que me dispensou, e eu agradeço-lhe muito esta mensão especial.

Pois bem. A minha musa como poeta foi sempre o amor da patria.

Conhecem-me pouco certamente os dignos pares, mas conhecem-me o sufficiente para saberem isto.

Como homem publico foi sempre ainda o amor da patria quem guiou, em todas as circumstancias da minha vida, os meus passos e as minhas acções.

Estou certo que se alguem tiver este amor como vicio, esse alguem não está felizmente na camara alta de Portugal, onde eu acredito que todos estão ao meu lado no sincero desejo que me anima e no affecto generoso que me inspira.

Sr. presidente, é certo que ainda longe do poder, quando não pensava que me podia ser confiada tão invejada honra, escrevi, sob o pseudonymo Thomé de Diu, algumas reflexões sobre acontecimentos cujo alcance eu sinceramente receiei, não cogitando, ao escrever, nas conveniencias ou inconveniencias do meu procedimento, nem podendo crer, como ainda hoje não posso, que alguem podesse lançar-me e em rosto um procedimento generoso, ao menos pelo intuito que o dictava.

Se eu tinha ambições, o tem-nas, sr. presidente, quem tem entendimento e vontade, essas nunca podiam estar em desaccordo com o cumprimento do meu dever, nem ser contrariadas pelo patriotismo que n'um paiz livre o independente um cidadão consagra e ousa confessar.

Manifestei, pois, as minhas idéas, e disse sem pensar que n'isso praticava um acto de heroicidade, franca e lealmente ao governo as apprehensões que tinha n'aquelle momento.

É certo que quando um escriptor firma os seus escriptos com um pseudonymo, póde depois pedir, se não exigir, que esse pseudonymo seja respeitado.

As rasões por que eu não escrevi o meu nome podiam ser taes que me levassem a não querer que elle se revelasse. Pois bem, prescindo d'esse direito.

Sr. presidente, não nego nem renego o que disse; não tenho duvida nenhuma de me apresentar ante todos qual sou e qual tenho sido. Agora o que é preciso é completar a narrativa dos factos, para que o meu procedimento seja devidamente avaliado.

Ao meu appello patriotico respondeu-se-me sob inspiração do governo, segundo me pareceu, desmentindo cabalmente as minhas apprehensões, e aqui tem agora o digno par e meu amigo o que eu respondia no Jornal das colonias ao meu contradictor:

«É possivel que do ponto de vista que se abraça da eminencia do poder a questão que offereci á consideração do sr. ministro da marinha tenha outro aspecto; é possivel que seja da maxima conveniencia conservar e apertar ainda os vinculos da alliança que nos prende á Inglaterra; n'esse caso o governo cumpre o seu dever conservando com ella as melhores relações.»

Sr. presidente, eu tinha inteira confiança no governo que então geria os negocios do paiz, fiz um aviso a esse governo do que me pareceu bom, responderam-me que estava enganado, e o governo, que via de um logar, eminente, decerto via melhor do que eu, que me não achava no mesmo ponto culminante.

O sr. Marquez de Vallada: - A resposta foi do governo?

O Orador: - A resposta fui dada pela Revolução de setembro.

Após isto vieram os acontecimentos que v. exa. conhece e a camara. Refiro-me ás apreciações que fizeram dois estrangeiros, que viajaram no interior da Africa, Cameron e Young.

Nós fomos em verdade bem mal tratados por estes individuos, mas vae muita distancia do individuo á nação.

A camara recorda-se de que esses viajantes tiveram a honra de receber do parlamento portuguez o mais solemne desmentido n'uma discussão em que desejei tomar parte; porém debalde, porque a camara, cansada do debate, encerrou-o antes que me coubesse a palavra.

Passou algum tempo, e eu que desejo sempre ser justo, e que entendo que Portugal deve sempre manter pela justiça e pela rasão a sua independencia, manifestei no parlamento a minha opinião, como consta do respectivo extracto das sessões. Eru presidente do conselho v. exa., era ministro da marinha o meu illustre antecessor o sr. Mello Gouveia, que, como v. exa. deve recordar-se, não podia comparecer por doente, e não tendo tambem comparecido v. exa., que era ministro dos negocios estrangeiros eu na presença do sr. ministro da fazenda, que era o sr. Carlos Bento, disse o seguinte na sessão de 28 de março.

(Leu.)

Aqui tem v. exa. a opinião sobre o modo de proceder em materia de tanto alcance. O discurso é extenso, e eu não desejo fatigar a camara com toda a sua leitura, mas chamo ainda a attenção para os seguintes periodos.

(Leu.)

Aqui tem v. exa. como eu considero que devemos proceder para com todas as nações que nos accusarem para

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