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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 65

ra; repetiu a instancia sobre se o sr. ministro da marinha adoptava como politico, e sobretudo como ministro, as idéas enunciadas sob o pseudonymo Thomé de Diu, pergunta igualmente quaes os planos de s. exa. em relação ás colonias.

O orador continuou reportando-se á sua administração no districto de Braga, fez varias considerações sobre o estado do mesmo districto, e concluiu aguardando do sr. ministro resposta cathegorica aos pontos enunciados na sua interpellação.

O sr. Presidente: - Vae dar-se conhecimento á camara de uma mensagem que acaba de ser enviada da camara dos srs. depudados.

O sr. Secretario: - Leu.

Um officio da presidencia da camara dos senhores deputados, remettendo o projecto de lei, que tem por fim auctorisar o governo a adjudicar em hasta publica a construcção e exploração do caminho de ferro da Beira Alta.

Remettido ás commissões de obras publicas e fazenda.

O sr. Presidente: - Vae ler-se a proposta mandada para a mesa na ultima sessão pelo sr. marquez de Vallada.

Leu-se ha mesa, e é do teor seguinte:

«Proponho que seja nomeada uma commissão de inquerito, com o fim de examinar o estado em que se acham as misericordias e hospitaes do reino.

«Camara dos pares, 23 de fevereiro de 1878. = O par do reino, Marquez de Vallada.»

Ficou para ser discutida na seguinte sessão.

O sr. Presidente: - Vae ler-se o projecto de lei mandado tambem para a mesa pelo digno par o sr. marquez de Vallada.

O sr. Secretario: - Leu, e é do teor seguinte:

Projecto de lei n.° 271

Artigo 1.° É prohibido aos governadores civis e secretarios geraes o tomarem parte nas administrações de quaesquer corporações de beneficencia e piedade.

Art. 2.° É prohibido aos administradores de concelho o tomarem parte na administração de quaesquer corporações de beneficencia e de caridade, nos respectivos concelhos. = O par do reino Marquez de Vallada.

Foi enviado á commissão de administração publica.

O sr. Ministro da Marinha: - Felizmente tive a inspiração de pedir a v. exa. que concedesse antes de mim, a palavra ao digno par, o sr. marquez de Vallada, para continuar nas reflexões iniciadas por s. exa. na ultima sessão, a respeito, segundo eu cria, dos negocios do ultramar, hoje a meu cargo.

Sr. presidente, a primitiva benevolencia com que s. exa. me tinha tratado na ultima sessão, transformou-se hoje, se a minha phantasia me não engana em aberta hostilidade. Isto maguou-me profundamente, porque, em verdade, é talvez o digno par a unica pessoa, não direi já dentro d'esta casa nemda outra casa do parlamento, mas em todo o paiz, que possa fazer tão triste idéa do meu caracter, como s. exa., segundo acaba de o manifestar.

Sr. presidente, a que vieram os inimigos da nossa patria, tratando-se da questão do ultramar? A que vieram os tramas que se estão urdindo nas trevas contra a nossa independencia? A que vieram o tratado de Fontainebleau é os perigos a que esteve sujeito este paiz quando Napoleão, o omnipotente, retalhava a seu talante a Europa, e queria derrubar o throno dos nossos réis, para o offerecer em holocausto de ambições mesquinhas de não sei que mesquinhos pretendentes, como era o principe da paz, de pouco feliz memoria?

A que proposito vem isto quando se trata da entrada de um ministro novo para a pasta do ultramar?

Ouvi em profundo silencio e com o mais profundo pezar o sr. marquez de Vallada expor as suas tenebrosas apprehensões, um pouco veladas em reticencias e phrases mysteriosas; mais veladas, certamente, do que eu desejava, por que paiz, e fallo agora em nome d'elle tem direito a exigir do digno par que diga, que explique francamente as suas apprehensões a respeito de negocio de tanta magnitude como é a nossa independencia.

De duas cousas uma, infallivelmente:

Imagina o digno par que eu seja capaz de conspirar com a Hespanha contra a independencia de Portugal?

O sr. Marquez de Vallada: - Não, senhor.

O Orador: - Ou parecia a s. exa. que nos queriamos afastar das nossas tradicionaes allianças, e procurar novos e criminosos convenios ao norte da Europa, com a Prussia por exemplo, offerecendo-lhe de mão beijada Portugal, para constituido o forte reino iberico podermos esmagar, em proveito seu, a França?

Pois um homem que, na sua obscuridade e modestia, começou a sua carreira litteraria escrevendo um livro, que é um brado energico em favor da independencia da sua patria, um protesto vehemente contra a propaganda iberica e em favor da terra que conta para sua gloria as tradições mais illustres, póde ser suspeito de machinar contra ella? Podia passar pela idéa de alguem que eu sonhasse alliar-me para tão hediondo procedimento com quem quer que fosse?!

O sr. Marquez de Vallada: - Explicou o sentido das suas palavras quando se reportára aos acontecimentos de 1870, e outras epochas, é ao ministerio do sr. duque de Saldanha, quando, dissera que desejava a alliança ingleza.

O Orador: - Eu tenho consagrado sempre muita amisade ao digno par, e espero em nome d'ella, que s. exa. diga bem claramente que não póde suspeitar de mim uma cousa que seria sempre uma aleivosia ignobil, porém muito mais tendo eu a honra de tomar parte nos conselhosdar corôa.

(Áparte do sr. marquez de Vallada, que se não ouviu.)

Mas então se s. exa. não receia que o governo, que presentemente gere os negocios publicos, ponha em perigo a independencia do paiz, porque motivo levantou umas poucas de vezes os seus clamores pedindo que conservassemos a actual dynastia?

Ha só outro meio de conspirar contra a dynastia, que é imaginar-nos s. exa. alliados com o partido republicano. A não ser que conspiremos com as nações estrangeiras, só podemos conspirar com o partido, republicano ou com o miguelista.

Era certamente esta a occasião de s. exa. esclarecer aquelles pontos negros, que descobriu no horisonte, para podermos saber aquillo de que somos accusados ou suspeitados, e fazermos penitencia publica se por nós foi prejudicada em alguma cousa a dynastia reinante, á qual queremos, pelo menos, tanto como o digno par.

Sr. presidente, sou eu a luva lançada á Inglaterra! Em que sou eu a luva lançada á Inglaterra?

Sabe o digno par que me parece pouco patriotico o seu procedimento? Tem porventura o digno par a consciencia de que está fazendo á accusação de um seu compatriota, não aos poderes publicos de Portugal, o que era licito más a uma nação estrangeira, por mais amiga que a considere?!

Sr. presidente, eu respeito muito e estimo todos os paizes, especialmente aquelles aquem mais devemos, e ainda especialmente aos que, por suas virtudes e serviços, se tornam mais benemeritos da humanidade; mas não reconheço em nenhum mais direito a sustentar as suas prerogativas e franquias do que ao meu, que acima de todos considero e prezo.

Alem d'isso, El-Rei escolheu-me para seu ministro, para tomar parte nos conselhos da corôa, e El-Rei de Portugal escolhe livremente, sem audiencia ou beneplacito de nenhuma nação estrangeira.

Os meus collegas, julgando-me digno da sua honrosa carmaradagem, é porque entenderam que eu não vinha estorvar-lhes a sua marcha politica, nem eu quereria trazer com