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66 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

a minha presença no ministerio um motivo de inquietação aos negocios publicos ou á marinha tradicional da politica do partido a que me honro de pertencer.

Por consequencia, eu estou garantido por aquelles que me acolheram a seu lado, e estou garantido pelo alto poder do estado, que me escolheu para ministro.

Pois eu não disse ao digno par, que, quando quaiquer se propõe a fazer uma historia, não deve ficar no prologo, devo chegar ao epilogo? Eu não li ao digno par um periodo do Jornal das colonias, em que me referia a uma resposta que o governo dictára ou insinuára a um jornal do seu partido, resposta que eu acatára pela fé que tinha no patriotismo do governo que eu apoiava tambem?

(Interrupção do sr. marquez de Vallada, que não se ouviu.)

O Orador: - Muito obrigado, muitissimo obrigado. Quando escrevi aquelles artigos não tinha responsabilidade alguma politica. Disse o que entendia, estava no pleno uso do meu direito. O governo de então, tendo rasões para não dar credito á minha prevenção, continuou no seu caminho e avisou me de que era eu que estava em erro. Estava tambem no seu direito. Acceitei a sua competencia, visto que eu tinha duvidas, e elle devia saber. Acho que ficámos quites.

E demais, eu pedi na camara dos senhores deputados que se fizesse um inquerito pela secretaria da marinha sobre os assumptos coloniaes a que me tenho referido, inquerito que se está continuando ainda.

Ora, um homem que procede assim, póde ser porventura uma luva lançada á Inglaterra? Creio que s. exa. me faz n'isto muitissima honra, mas não repara que está amesquinhando a nação que pretende lisonjear, e que se porventura nos ouvir ha de julgar-nos a ambos com a serenidade de bom juiz. É provavel que n'este momento nos não ouça nem veja, porque tem muitissimo em que empregar a sua attenção.

No tempo em que o governo regenerador era poder, no tempo em que escrevi esse artigo, qus tanto escandalisou os brios patrioticos do digno par, disse e escrevi que acceitava o veredictum do governo. Disse isto quando não era ministro, quande não podia parecer que pressão alguma actuasse sobre a manifestação das minhas opiniões. Contente-se o digno par com isso, que eu nada mais tenho que lhe dizer.

Perguntou-me o digno par se effectivamente houve da parte da Inglaterra intuitos de estorvar o nosso andamento no ultramar? Respondi-lhe que estava ha vinte e quatro ou vinte e cinco dias no ministerio, e que não tinha encontrado ainda estorvo algum da parte d'aquella potencia. S. exa. disse-me que se referia a tempo mais antigo. O digno par, que tantas vezes faz comprimentos a v. exa., não se lembra de que é a v. exa. que está a dirigir esta pergunta.

Pois não é certo que v. exa. foi presidente do conselho desde a ultima, saída do governo regenerador até á minha entrada aqui? Se hovesse algumas d'essas tentativas, que s. exa. apodou de criminosas, quer da Inglaterra, quer da França, quer da Allemanha, a respeito dos nossos direitos, não acredita ao menos o digno par, que o nobre presidente do conselho de ministros, que então era, e o meu antecessor, o sr. Mello Gouveia, haviam de ter repellido com toda a força e energia do seu patriotismo essas aggressões, viessem ellas d'onde viessem?

Não quero mal a nação alguma, porém acima de tudo quero bem ao meu paiz, a este reino antigo, pequeno, mas nobilissimo, que se chama Portugal.

A minha declaração está feita: emquanto tiver a honra de ser ministro da marinha, eu e o governo a que me honro de estar associado havemos de repellir efficazmente quaesquer affrontas eu offensas aos nossos direitos.

Ha n'isto porventura offensa ao respeito que devemos ás outras potencias, e; portanto, áquella que tem sido a nossa mais antiga alliada?

Creio que nunca passou pelo espirito do digno par, que eu intentasse dar ordens á marinha de Portugal, para ir bloqueiar os portos da Inglaterra!...

Então porque é que o digno par se afflige tanto de me ver aqui sentado, a mim que desejo que me respeitem os direitos da nação que, como ministro, tenho tambem a honra de representar?

Quando se tratasse de desaggravar essa honra, que espero não será desacatada por ninguem, então nem mesmo o digno par quereria que se medisse a altura de muralhas, o numero de soldados, a lotação dos navios, o calibre de artilheria.

(Áparte do sr. marpuez de Vallada.)

É possivel que eu fosse um pouco mais transigente; mas não! não o seria por uma rasão muito simples - porque, quem se não respeita a si, não tem direito a que outros o respeitem.

Por tudo isto eu pedia a s. exa. que, em beneficio da nossa honra e dignidade, não estivesse constantemente a chamar a attenção da Inglaterra, que tem muito em que se occupar, para manter animosidade contra quem só deseja cuidar seriamente no muitissimo trabalho que lhe incumbe pelo destino que Sua Magestade houve por bem dar-lhe convidando-o para seu ministro.

Sr. presidente, eu não desejo de modo nenhum, com estas minhas considerações, nem de leve, melindrar o digno par, a quem realmente sou affeiçoado; mas peço a s. exa. um favor, e é que me accuse todos os dias dos erros que involuntariamente hei de praticar, e que de certo hão de ser muitos; mas de nenhum modo me accuse nem de falta de patriotismo, nem de falta de lealdade para com o Rei e para com a nação, porque eu não podia, (conheço-me perfeitamente), acceitar de bom animo uma similhante accusação.

Agora, sr. presidente, que passou este assomo em favor da minha dignidade, que sempre hei de resalvar, vou ainda dar algumas respostas ao digno par sobre o que é propriamente questão de ultramar. Eu peço a s. exa. desculpa de não o acompanhar em todas as suas digressões, quando por muitas vezes se referiu a pontos de administração e politica interna, porque a respeito d'elles não era especialmente a mim que s. exa. se devia dirigir.

Sr. presidente, fallou s. exa. a respeito da sua administração de Braga, e fallou n'ella umas poucas de vazes. Nada d'isto é commigo. Apresentou tambem, e leu o digno par um telegramma que o offendia. A que vem isto? Eu admirei-me, com tudo, de que s. exa. referisse nomes proprios de pessoas ausentes, o tanto mais que o fez para os citar desfavoravelmente. Não conheço o homem que s. exa. diz ser regenerador, e tor sido capitão de ladrões!

Como regenerador, que me honro de ser, permitta-me v. exa. que eu proteste contra este procedimento do digno par, lamentando que o nome de um ausente fosse aqui apresentado com tamanho desfavor.

Sr. presidente, eu já disse que os assumptos, a que s. exa. se referiu na sua digressão, não são da minha competencia, e por isso vou fallar nas cousas do ultramar o mais resumidamente possivel, porque eu creio que o sr. conde de Cavalleiros deseja entrar n'esta interpellação, e estou desejoso de o ouvir.

Sr. presidente, fallou o digno par, creio eu, na pressa com que quizemos entrar no poder, e fez-me arguições por eu não lhe responder cabalmente sobre não sei que assumpto, dizendo que nós tinhamos tido pressa de lançar fóra dos conselhos da corôa o sr. marquez d'Avila e de Bolama, e que por isso não tinhamos conversado antecipadamente sobre os negocios do estado. Eu peço perdão; mas creio que não comprehendi bem o que disse o digno par.

Quando eu respondi na outra sessão ao digno par, disse que ía expender em breves palavras o plano que o governo tinha ácerca do ultramar, e que o modo pratico de o realisar, as imnudencias, os detalhes, se me deixam dizer assim, dependiam da conferencia com os meus collegas; por