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106 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

se objecto, e desejo faze-lo estando presente o sr. presidente do conselho, o actual, ou o que se lhe succeder.

(Entrou o sr. minisiro da marinha,)

Digo este, ou o qus se lhe succeder, porque, segundo se diz, está proxima uma crise, e assevera-se que o ministerio durará pouco. Sie transit gloria mundi!

É notavel esta crise. Cáe o ministerio pela força do apoio; cáe com uma indigestão pela abundancia de força, e não pela falta d'ella. Entretanto, esperarei ou a vinda do actual sr. presidente do conselho ou de outro que está in petto, e que nos venha governar á Bismark; e então veremos se os novos ministros virão com maior fortuna, e com melhores auspicios de conservação do que os actuaes. Estimarei que tenham a lucidez de ergenho, a grandeza de vistas e a perseverança nos intuitos que tem o sr. de Bismark, e que não façam só uma parodia, porque estas não são boas em politica.

N'essa occasião farei reflexões sobre a necessidade de que haja alguem responsavel por tudo quanto são objectos da corôa, e que essa responsabilidade seja effectiva perante o rei, as côrtes e a nação.

Como acaba de entrar n'esta sala o nobre ministro da marinha, renovo na presença de s. exa. a interpellação que ha pouco annunciei.

Desejo interpellar o nobre ministro relativamente ás novas medidas adoptadas no seminario de Macau, e que deram logar á expulsão dos padres que serviam ali só com o desejo de bem servirem o paiz.

Rasões bem ponderosas haviam de ter-se dado para fazerem sair d'aquella cidade os missionarios a que me refiro, e que são ali tão estimados, que os habitantes de Macau fizeram uma representação pedindo a sua conservação.

Talvez que os pobres padres pertençam á internacional ou á inquisição. Quem sabe se elles estão filiados em alguma sociedade reaccicnaria ou revolucionaria! O que eu sei é que as nossas colonias carecem de bons cooperadores para o desenvolvimento dos principios christãos que n'ellas foram implantados pelos seus illustres descobridores, e que são os que ainda n'o-las podem conservar.

Se porventura existe um plano, e esse é o que foi apresentado por uma commissão nomeada pelo meu amigo e distincto collega, o sr. Rebello da Silva, durante o tempo que geriu a pasta da marinaa, não o sei eu. É possivel que o governo adoptasse os alvitres propostos por essa commissão.

Não sei, nem tambem se é regular, embora não se trate de um negocio diplomatico, pedir a remessa d'esse relatorio aonde se acham consubstanciados os alvitres d'essa commissão, para que possam ser avaliados. Eu, porém, não faço nenhum requerimento n'esse sentido, comquanto espere que, se não houver n'isso inconveniente, elle seja publicado ou pelo menos remettido a esta camara, para poder ser examinado.

A commissão que elaborou estes trabalhos é composta do sr. bispo de Angola, do sr. dr. Abilio e de outros cavalheiros competentissimos; e eu, apesar de tambem ter sido nomeado para ella, não aceitei por motivos de delicadeza, mas nem por isso deixo de agradecer o bom conceito que sempre tem feito de mim o sr. Rebello da Silva.

Portanto, o illustre ministro da marinha sabe já qual é a interpellação que eu tinha annunciado, e portanto nada mais direi agora a este respeito.

O sr. Ministro da farinha (Mello Gouveia): - Sr. presidente, uso da palavra para responder succintamente ao objecto da interpellação annunciada pelo digno par; e por esta occasião direi tambem que, tendo s. exa. avançado que o ministerio estava em crise, eu posso affirmar á camara e ao paiz que não sei de nada, e que é da bôca de s. exa. que pela primeira vez ouço esta novidade.

S. exa. adiou as suas considerações sobra este assumpto para quando estiver presente o sr. presidente do conselho, que lhe ha de dar mais amplas respostas e explicações mais satisfactorias, e ha de mostrar qus não ha nenhum fundamento para similhante acontecimento.

Pelo que toca á interpellação que o digno par annunciou para ser esclarecido com os documentos relativos ao objecto em que fallou, direi a s. exa. que não preciso de nenhum esclarecimento a este respeito, porque foi publicado ha mezes no Diario do governo o regulamento do seminario de Macau, em que se determina que este estabelecimento não póde ser professorado senão por professores portuguezes, e em consequencia d'isso os padres que ali estavam mostraram desejo de sair do seminario, mas não tiveram ordem positiva do governo para sair, nem podiam sair sem serem substituidos por outros professores nomeados pelo governo do reino.

Ora, emquanio esses professores não chegarem a Macau, não podam saír do seminario os professores que lá estão. E direi ainda mais ao digno par, porque não costumo nunca occultar os meus actos, principalmente quando elles são de natureza d'aquelles que aão se devem esconder, que eu recommendei ao governador de Macau que, emquanto aquelle estabelecimento não estivesse dotado de todos os professores que são necessarios, conservasse os que lá estavam se elles quizessem continuar a exercer as suas funcções, e portanto creio que a difficuld&de está na insistencia d'elles quererem saír do seminario.

Mas no caso de caírem não haveria rasão nenhuma para que se perturbasse a ordem n'aquella colonia, pois nem ha motivo, nem consta ao governo que haja o menor receio a este respeito.

É o que por ora posso dizer ao digno par, esperando que s. exa. fique satisfeito.

(O orador não reviu este discurso.)

O sr. Marquez de Vallada: - Sr. presidente, quando o nobre ministro estava, faltando, recordei-me de uma impressão que tinha recebido o meu espirito ha muitos annos, entrando na igreja de Belem quando olhei para o tumulo de D. João III, e li o seu epitaphio.

Eu creio que os professores, quando sejam bons e moraes, não deve prooccupar o animo dos srs. ministros se elles são estrangeiros, ou não.

Eu já disse que havia de tratar da questão do ensino n'esta camara, e por essa occasião hei de apresentar uma serie de relatorios, nãa só de chefes de repartições, mas tambem de ministros que se têem oscupado d'este assumpto na Europa, e muitos inqueritos a que se tem procedido a respeito dos professores, e então mostrarei o cuidado com que todos es homens de bom aviso têem tratado, não só da organisação do ensino emquanto ás disciplinas, mas tambem emquanto á escolha dos homens que as hão de ensinar, porque é pelo ensino que as instruem os povos, e quando as doutrinas são desvairadas, os povos pervertem-se. N'esta materia não póde haver mudança; todos os homens pensadores são concordes em desejar o triumpho da justiça e da verdade, e não se póde consegui-lo senão incutindo nos povos boas idéas pelo doutrinamento de bons mestres.

Por consequencia, creio que não deve preoccupar tão fortemente o animo dos srs. ministros a idéa das nacionalidades para o ensino da mocidade, porque a sciencia é de todas as nações, não é privativa de Portugal: a sciencia é cosmopolita, e não ha perigo em que ella seja ministrada por individuos pertencentes a esta ou a outras nações. Deve haver cautela, mas é n'outras cousas; deve haver cautela, como se disse ha pouco n'um jornal que se publica em Vizeu: caveant consules.

Acautale-se o povo, acautele se o Rei e acautele-se o paiz, mas acautele-se do desvairamento, porque esse desvairamento muitas vezes não parte do povo, que quasi sempre é enganado, mas parte, em muitas occasiões, das altas classes. Se a revolução francesa não fosse preparada de antemão pelas classes elevadas; se o antiga regimen, como diz um illustre escriptor francez, não se tivesse acobertado com