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SESSÃO N.° 19 DE 6DE MARÇO DE 1896 185

companhia estão, para perda e vergonha nossa, apodrecendo no Tejo. (Apoiados.)

Pena será que nós não possâmos obviar a uma necessidade urgentissima, qual é a de estabelecermos carreiras directas commerciaes para os portos do Brazil.

Sei, ou consta-me, que o governo tem facilitado concordatas em relação á companhia de que estou incidentemente fallando, mas eu desejava que elle desse toda a sua attenção a este assumpto, quando podesse estar despreoccupado das suas ou nossas questões de pequenina politica em que presentemente nos vemos envolvidos, e que eu vejo com muita tristeza ser o assumpto quasi exclusivo da nossa imprensa, do nosso parlamento, que podiam e deviam inspirar sentimentos de cordura e doutrinar preceitos de juizo a este paiz tão carecido de entrar e de se manter no caminho de emprehendimentos praticos de uma administração util e proficua.

O que se vê, porém, é que não se faz senão fallar, senão gritar e criticar, senão escarnecer, e quando a necessidade, quando a urgencia é trabalhar, não se sabe ou não se quer.

Eu achava muito bom que o governo tivesse chamado os encarregados da administração d´aquella companhia, e conversasse com os respectivos interessados, a ver se era possivel, mesmo pendente o pleito, estabelecer, com os seus navios, carreiras de navegação para o Brazil.

Podia agora dizer quaes eram as vantagens d´essas carreiras, mas creio que todos os dignos pares as conhecem.

Que se pede n´esta representação? Que pedem quatorze companhias de seguros? Que o governo ajude, sem prejuizo seu, antes com muito ganho para a nação, as emprezas constructoras do paiz; que restitua a vida aos seus extinctos estaleiros e n´elles fontes abundantes de riquezas que estamos loucamente perdendo.

Não é, porém, só isto que advogo e peço.

Pois que a Providencia nos concede, após longa e pesada noite, uma aurora formosissima de gloria e de ventura, que foi esta que nos alvoreceu nas terras de Africa, onde vemos restabelecido o nosso prestigio, quizera eu que não ficassemos só n´isto, e fizessemos alguma cousa util, digna e nobre em vez de andarmos boquiabertos esperando dia a dia e a cada hora a vinda do Gungunhana, para gaudio da nossa incorrigivel preguiça e perniciosa ociosidade.

A proposito do Gungunhana, sinto que o governo não tivesse deixado este regulo infeliz, nosso inimigo matreiro, mas victima talvez de intrigas que não sei de onde vieram, em Cabo Verde.

Assim, escusava de o dar em espectaculo e evitava-se-lhe qualquer desaire. Eu estou crente, ou tenho esperança, de que o povo de nenhuma fórma empregará com elle o insulto (Apoiados.) ou o vilipendio. É preciso não deslustrar as alegrias nobres, sincerissimas que todos experimentaram ao terem conhecimento dos grandes acontecimentos da Africa, com desacatos ou desprimores, seja com quem e para quem for.

Espero que assim será, porque, sr. presidente, não posso deixar de dizer a v. exa. que me encheu de prazer o meu animo, o meu coração patriota, ver a maneira por que o paiz, por que o povo, recebeu as noticias e os homens que nos trouxeram as nossas novissimas glorias, e deploro profundamente que n´esta questão, tão grande, tão digna, tão levantada, viesse a politiquice azedar e desvirtuar tudo. (Apoiados.)

O paiz, em honra sua, e para honrar aquelles que o honraram saudou enthusiasticamente esses bravos, esses heroes (Apoiados.) dignos de todo o nosso affecto.

E, entre parenthesis, seja-me licito dizer que louvo de todo o coração o procedimento do sr. ministro da guerra e, por consequencia, do governo, mostrando-se favoravel e acceitando a iniciativa da outra camara a respeito de serem galardoados com premios de distincção e de accesso homens que praticaram os mais brilhantes feitos. (Apoiados.)

Eu voto por isso (Apoiados), voto por que se dêem as maximas distincções que se poderem dar aos homens que, com o mais acrisolado patriotismo e rara abnegação, serviram este paiz. (Apoiados.)

Bem sei que me dizem, ou que me poderão dizer, que o commandante das forças de Africa declarou que não queria haver um posto por distincção.

Seja muito embora assim, mas a nossa obrigação é dar-lh´o (Apoiados), cumprâmos a nossa obrigação, elle que proceda segundo for da sua devoção. Nem eu quero nomear os mais benemeritos. Assim os designo; a justiça do governo que os escolha.

Hesitar, duvidar, vacillarna offerta d´estas recompensas, podia crear suspeitas nada honrosas para o exercito portuguez.

Premios e distincções aos que honraram este paiz! Officiaes e soldados!

Folgo de affirmar aqui que lealmente considero todos os soldados portuguezes, os que foram e os que ficaram, capazes de se dedicarem pelo bem publico, pelo engrandecimento da patria, pelo incremento do seu prestigio, dignos descendentes dos que outrora, rejeitando louros em justas e torneios, iam tambem á Africa, em Ceuta, ganhar esporas de oiro e a cruz de cavalleiros.

Eu peço a todos aquelles que andam por ahi a fazer politica, que se ponham n´esta questão ao lado do governo e, por amor de Deus, não denigram nem deixem enxovalhar os feitos d´aquelles que tanto nos honraram.

Depois de liquidada a questão da india, que eu creio que não será tão seria como a muitos se afigura, depois de liquidada essa questão, repito, nós precisâmos de governar.

Tratemos, pois, de governar, tratemos de administrar! eu estou persuadido, estou certo, de que são estes os desejos do governo; pelo menos, é isto o que elle tem demonstrado no grande desejo de nos dar o equilibrio que nos faltava.

Uma das nossas mais urgentes necessidades administrativas é pormo-n´os em relações directas com todo o mundo commercial e politico; é estabelecer navegações directas com as nossas colonias e com o Brazil.

Nós somos uma nação rica de excellentes portos; nós somos o caes da Europa.

No dia em que possa haver uma aragem favoravel, que se não faça o que se tem feito até hoje; que se não feche a porta com estrepito e com escandalo na cara dos amigos. Antes, não póde ser.

Reformem o lazareto, que me pede para fumigar as roupas que trago dentro das malas e não quer fumigar aquellas que trago vestidas.

Nunca percebi as rasões que havia para estas differenças; e emquanto houver em Lisboa taes incongruencias muitos viajantes deixam de desembarcar no nosso porto, indo a Vigo, vindo depois visitar os seus companheiros de viagem ao lazareto.

Estas e outras anomalias é que fazem com que por emquanto as cidades de Lisboa e do Porto, não possam ser consideradas o caes da Europa.

Pois a geographia teima em que o devem ser.

E tambem quer que sejamos um grande centro commercial de uma grande parte do mundo.

Houve em tempos um ministro em Portugal, ministro que ainda vive e que todos nós conhecemos, admirâmos e respeitamos, que se lembrou um dia de estabelecer um porto franco em Lisboa, ou em Cascaes.

Foi sufficiente a lembrança para que se levantassem todas as difficuldades que n´essa occasião se podiam levantar contra tal idéa, o que prova que, principalmente, desconfiamos de nós mesmos.

Eu conversei com alguns commerciantes no Brazil e