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122 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

com a Inglaterra, e a natureza cordial e a antiguidade d'essas relações, é confirmar uma verdade que me parece não carecer de confirmação, por ser bem conhecida e bem apreciada de todos.

Assusta-se o digno par com o receio de que a entrada do sr. Thomás Ribeiro para o ministerio possa ter desgostado a Inglaterra.

Sr. presidente, a Inglaterra é um paiz essencialmente liberal e parlamentar; e sabe perfeitamente que as nações nada têem com a constituição dos governos das outras nações, mas tão sómente com a marcha politica que os governos seguem nas suas relações internacionaes.

Ora a alliança de Portugal com a Inglaterra não corre risco algum com o actual governo.

Sempre temos vivido e viveremos, se Deus permittir, na maior e mais perfeita harmonia.

A Inglaterra não é um paiz que se perturbe, como o digno par, por factos que não teeni gravidade nenhuma,, ella não se resentiu de certo por ver subir ao poder um homem que ganhou a pasta de ministro no parlamento. (Apoiados.)

A Inglaterra é um paiz essencialmente liberal, e comprehende perfeitamente o systema da discussão, a constituição parlamentar do governo, e por isso não se importa com a maneira por que se constituiu o gabinete portuguez.

Fique descansado o digno par; o que a Inglaterra deseja, como nós desejâmos, é manter boas relações com Portugal, e sendo estas ao presente as mais cordiaes, como ha pouco disse e agora repito, a Inglaterra nada tem com as individualidades dos ministros.

O sr. Thomás Ribeiro no seu pseudonimo authentico, como disse o digno par, escreveu algumas reflexões sobre factos que podiam dar-se nas nossas colonias vizinhas das colonias inglezas; as phrases d'esse escripto, porém, não eram outra cousa mais do que a expressão do receio patriotico que s. exa. tinha de que aquelles factos redundassem em prejuizo para nós.

Mas esses mesmos receios não podem nem devem, tenho essa convicção, ter logar, por isso que a Inglaterra reprova muitas vezes (quando d'isso tem conhecimento) os factos que se dão nas suas colonias que nos possam prejudicar. Pois, desapprovando a propria opinião ingleza esses factos, quando se dão, por que rasão nos havemos nós de calar?

Por que rasão devemos julgar muito bom o que a esclarecida opinião da Inglaterra e dos seus mais eminentes homens de estado confessa ser muito mau?

Não me parece, sr. presidente, que haja o menor inconveniente em nos queixarmos quando nos advem prejuizos, nem me parece porém tão pouco que seja necessario para constituir governo no nosso paiz ir consultar a Inglaterra; (Apoiados.) assim como o não precisâmos fazer para exprimirmos na imprensa, que é tão livre como é livre a imprensa ingleza, quaes são as nossas opiniões sobre qualquer assumpto da publica administração. (Apoiados.)

Não é, pois, de um paiz livre, como nós o somos, que devemos receiar malquerença por manifestarmos as nossas queixas. Pois no tempo do marquez de Pombal não havia tambem queixas contra a Inglaterra? Produziram ellas conflictos? Não.

O digno par póde estar descansado que não temos tido conflictos nem os havemos de ter, as nossas relações são cordiaes e o mais satisfactorias; as minhas proprias relações com o dignissimo e esclarecido ministro de Inglaterra em Lisboa não podem ser melhores.

Mas, como disse, no tempo do marquez de Pombal houve queixas. Se o digno par visse os despachos do tempo do marquez do Pombal, s. exa. comprehenderia que não tem rasoes para actualmente se deixar tomar de tamanhos sustos.

Sabe o digno par o que dizia o marquez de Pombal ao ministro de Inglaterra, queixando-se de varios successos, quando o ministro se admirava das nossas queixas? O marquez de Pombal dizia: "As nossas ligações com a Inglaterra?ão de tal modo intimas que somos como marido e mulher, que dentro da familia podem ter pequenas disputas, sem que por isso se cortem as relações; e se alguem de fóra lhes vem perturbar a paz domestica, logo se juntam para se defender".

E mais de uma vez, depois de grandes queixas, ácerca do commercio dos vinhos, por exemplo, a Inglaterra nos estendia braços amigos, e as relações
estreitavam-se cada vez mais; sempre assim se entendeu e se entenderá a nossa alliança com a Inglaterra, emquanto formos paiz livre, onde governa a opinião. (Apoiados.)

Queixemo-nos embora de um ou outro facto da Inglaterra, sem que n'isso haja offensa; quando tivermos rasão será ella a primeira a dar-nol-a. Tambem não ignora o digno par a maneira como se havia no que toca ás nossas relações com a Inglaterra o sr. conde de Lavradio; aquelle cavalheiro que era recebido com tanta benignidade pela propria soberana da Gran-Bretanha, a virtuosa Rainha
Victoria.

Não deixava o conde de Lavradio de se queixar quando tinhamos motivo para isso; e se o digno par lesse os despachos d'elle veria que não eram sempre muito affaveis.

Entretanto os ministros inglezes entendiam que isso não impedia de continuarem as relações dos dois paizes.

Podemos queixar-nos, repito, mas isso não impede que as nossas relações com a Inglaterra se mantenham inalteraveis.

Pedi a palavra, sr. presidente, para socegar o animo do digno par, que suppunha estarmos em risco de quebrar a nossa alliança com a Inglaterra. Enganou-se s. exa. a tal respeito. A opinião do governo é que a nossa alliança com aquella nação deve manter-se e estreitar-se cada vez rnais. É uma alliança tradicional ssmpre inalteravel, e que é no reciproco interesse das duas nações. As cousas estão hoje por tal fórma dispostas, que me parece não haver motivo para que mesmo uma sombra de dissidencia possa levantar-se nas relações do governo portuguez com o governo da Gran-Bretanha. (Apoiados.)

O sr. Marquez de Vallada: - Quando apresentei a minha moção relativamente aos negocios do ultramar, o sr. ministro da marinha ouvindo as palavras que eu então proferi, quando disse que ella não tinha caracter algum de aggressão ou censura a s. exa., mas que era apenas a expressão de um desejo ou antes de esperança de que s. exa. houvesse de tomar medidas convenientes para regenerar as nossas colonias, o sr. ministro, digo, pareceu-me duvidar nessa occasião da sinceridade das minhas palavras, acreditando talvez que eu apresentava uma censura encapotada n'aquella minha moção. Pois, se assim julgou, não julgou bem, e tanto que desejo retirar a moção, porque consegui completamente o meu fim.

Fui o primeiro a chamar a attenção do illustre ministro para a questão do ultramar, ou antes colonial, questão importantissima e momentosa; s. exa. comprometteu-se a apresentar na proxima sessão legislativa algumas medidas para melhorar a situação das nossas possessões ultramarinas, e não é tal a minha soffreguidão que venha aqui exigir providencias rapidas e impensadas com relação a essas possessões; portanto o meu fim está conseguido.

Sr. presidente, hoje descreio muito das moções, porque mais tarde os factos vem provar que ellas não exprimem o que parecem exprimir, e como eu costumo dar verdadeiro sentido ás minhas palavras, não desejo que se interpretem de modo a dar-lhes significação diversa d'aquella que realmente têem.

Seria triste tarefa seguramente, querer eu dirigir uma moção de censura ao sr. ministro da marinha, seria emprehendimento esteril um similhante proposito, e por consequencia completamente inutil procurar levar a camara a votar uma censura a s, exa., como foi votada na outra