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N.º 22

SESSÃO DE 21 DE ABRIL DE 1900

Presidencia do exmo. sr. Eduardo José Coelho

Secretarios - os dignos pares

Julio Carlos de Abreu e Sousa
Antonio Luiz Rebello da Silva

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta. - Correspondencia.- O sr. presidente faz a commemoração funebre do digno par fallecido Guilhermino Augusto de Barros, propondo um voto de sentimento, que é approvado por acclamação, depois de palavras allusivas pronunciadas pelos srs. ministro dos negocios estrangeiros, Frederico Laranjo e Hintze Ribeiro. - O sr. Frederico Laranjo requer que se reuna a commissão de obras publicas durante a sessão. E concedido. - O sr. conde de Bertiandos refere-se ao desastre succedido no elevador da Estrella e aos factos que se deram no asylo municipal de surdos-mudos. Responde o sr. ministro dos negocios estrangeiros.- O sr. Cypriano Jardim apresenta um requerimento, que acompanha de algumas considerações.- O sr. Mattoso Corte Real faz observações sobre a legislação vigente da contribuição de registo. Responde o sr. ministro da fazenda, agradecendo em seguida aquelle digno par. - Têem depois a palavra os srs. Hintze Ribeiro e ministro da fazenda, que d'ella usam successivas vezes.- O sr. Frederico Laranjo manda para a mesa o parecer da commissão de obras publicas sobre o projecto do cabo submarino.-É encerrada a sessão e aprasada a subsequente.

Pelas duas horas e cincoenta minutos da tarde, verificando-se a presença de 24 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Foi lida, e seguidamente approvada, a acta da sessão antecedente.

Mencionou-se o seguinte

EXPEDIENTE

Officio do sr. ministro da guerra, satisfazendo a um requerimento do digno par conde do Bomfim, sobre as despezas feitas em diversos quarteis, escolas e estabelecimentos militares desde 1898.

Á secretaria.

Officio da direcção geral de instrucção publica, remettendo, em satisfação de um requerimento do digno par Almeida Garrett, as copias das actas da faculdade de mathematica da universidade de Coimbra, de 10 de dezembro de 1879, de 23 de outubro e de 9 de dezembro de 1884, de 10 de março de 1888 e de 15 de abril de 1893.

Á secretaria.

Officio do comité central da paz, enviando uma mensagem na qual se pede o emprego de diligencias que logrem á celebração da paz entre a Inglaterra e as republicas da Africa do sul.

Á secretaria.

Officio do sr. ministro da marinha, remettendo, em satisfação de um requerimento do digno par conde de Bertiandos, uma copia do auto de vistoria mandada passar ao vapor Açor da empreza insulana de navegação.

Á secretaria.

(Ao começo da sessão achavam-se do governo os srs. ministros da fazenda e dos negocios estrangeiros; entraram mais tarde os srs. ministros da guerra e das obras publicas.)

O sr. Presidente: - Cumpro o doloroso dever de participar á camara a morte do digno par Guilhermino Augusto de Barros, em cujo funeral a camara foi representada pela deputação nomeada na conformidade do regimento.

A camara, sem duvida, deseja que na acta se lance um voto de sentimento pela morte do illustre extincto, o qual nas variadas manifestações da sua poderosa, e culta intelligencia, tão dignamente e com tão superior distincção, serviu e honrou o paiz.

Guilhermino de Barros, desde o principio da sua carreira estudiosa e publica, revelou como o seu espirito se adaptava ao que para muitos parece tarefa impraticavel.

Disse e escreveu Feliciano de Castilho, que, sem um Mondego para consolo, não haveria moço que resistisse ao secco, peco e senil estudo da jurisprudencia; e, todavia, Guilhermino de Barros, que já então era poeta distincto, mereceu á veneranda universidade o galardão conquistado no estudo secco e senil da jurisprudencia, no estudo serio e reflectido das pandectas e do direito romano.

Opinam graves philosophos que aos poetas e litteratos se póde e deve levantar estatuas; mas a quem quizer arruinar qualquer serviço publico, é suficiente entregar-lhes a direcção d'elles. Guilhermino. de Barros, que amou e cultivou, as boas lettras, foi modelo no desempenho das mais arduas funcções do serviço publico: apostolo e propagandista e executor assiduo, tenaz e paciente, em especial, os serviços publicos dos telegraphos e correios, que tanto concorreu para o fomento e para elevar o nivel intellectual de um paiz, deveu-lhe relevantissimos melhoramentos que jamais serão esquecidos. Os seus trabalhos são volumes que todos hão de ainda, e por largo tempo, compulsar e aproveitar.

Na vida politica, e entrando n'ella no periodo mais ardente das luctas partidarias, depois do quasi pacto de treguas da revolução de 1851, foi Guilhermino de Barros intransigente, intractavel no dogma, primoroso na tolerancia e respeito pelas opiniões alheias.

Não era calculo; era virtude e prenda de caracter, o que vale mais.

Ainda ha pouco esta camara lhe ouviu um d'esses discursos formosissimo na fórma e não esquecendo até a mais pequena minudencia, e que podia realçar a efficacia e utilidade da proposta ministerial, que relatava.

Ouvira-o a camara com profunda attenção e respeito; e eu tambem com profunda tristeza, porque bem sabia que aquillo era um esforço supremo,, porque a morte, na sua ferocidade implacavel, matara desde tempos aquelle organismo, avassalava-o dia a dia, e a breve trecho o prostrou.

Sinto não poder fazer um elogio mais completo das virtudes do illustre extincto, como funccionario publico, como litterato, como politico e como parlamentar; mas o que disse e o que todos sabem, é sufficiente para convencer a camara a votar por acclamação que se exare um voto de sentimento na acta, enviando-se copia d'ella á familia do extincto.