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152 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Veiga Beirão): - Sr. presidente, não tenho a honra de pertencer a esta camara, mas, fazendo parte do governe, não posso deixar de me associar com toda a sinceridade, e em nome do mesmo governo, ao voto de sentimento proposto, assim como ás palavras tão justas e sinceras com que v. exa. acaba de manifestar a sua magua pelo fallecimento do digno par Guilhermino de Barros, que era ao mesmo tempo um litterato primoroso, um politico honesto e um parlamentar distinctissimo.

O Frederico Laranjo: - Sr. presidente, a maioria d'esta camara sente profundamente o fallecimento do digno par, o sr. Guilhermino de Barros, que ha tão pouco tempo aqui tomou assento, que tão pouco tempo aqui esteve, e que tão distincto era como funccionario publico, como litterato e como parlamentar.

Bella figura de homem, illuminada ainda pela luz do talento, talento que em Coimbra, onde frequentou a universidade e se formou em direito, se manifestava nas aulas e cá fóra nas lettras, dictincções que nem sempre se reunem; saido d'alli, entrou na carreira administrativa, que illustrou e honrou, sendo secretario geral e governador civil em diversos districtos, um d'elles o de Lisboa, passando d'aqui para a direcção geral dos correios e telegraphos. N'esta qualidade nos representou lá fora com brilho em diversos congressos postaes; e dizem os conhecedores do assumpto que a elle se deve uma boa parte do desenvolvimento entre DÓS dos serviços do correio e telegrapho, que, sendo um resultado inevitavel do progresso do mundo, não dispensa todavia as iniciativas fecundas.

Do que elle era n'esse elevado cargo para o numeroso pessoal que lhe estava subordinado, da sua bondada e lhaneza foi um testemunho incontestavel o que se passou no seu enterro, em que, á beira, da campa, humildes carteiros encontraram na agudeza da sua magua ousadia e eloquen-para exprimirem bem o seu reconhecimento.

Como litterato deixou dois livros de merito; um o Castello de Monsanto romance referido ao seculo XV; outro, Canticos do fim do seculo, livro de poesias, em que canta os portuguezes que, de 1817 a 1834, pela conspiração infeliz, mas generosa, pelas ousadias da revolução triumphante, pela estrategia da guerra e valor das espadas, pelas lucubrações do pensamento e pela legislação, pela politica e pelas lettras, fizeram o Portugal moderno, que, diga-se o que se disser na hora presente, é superior áquelle a que succedeu. Estudou os homens que canta e caracterisa-os bem; passa ás vezes pelo livro um sopro da Legenda dos seculos; é um livro de poeta e de portuguez, mais ufano das glorias portuguezas do que em gerai costumamos ser. (Apoiados.)

Como politico, o seu papel foi mais esmaecido do que talvez poderá ser, porque seguiu quasi sempre mais um pequeno grupo de amigos intimos do que um grande partido ; mas todos que aqui estamos nos recordamos ainda da distincção innegavel dos seus dotes parlamentares. Relator de um projecto de lei sobre o estabelecimento e exploração de cabos submarinos entre os Açores, a America do Norte, a Gran-Bretanha e a Allemanha, fallou durante duas horas, sem que ninguem se cansasse de o ouvir, dando um tal colorido e poesia ao assumpto, de si arido, que a desconsoladora frieza d'esta camara, que parece que faz parte da gravidade da assembléa, quebrou as suas habituaes reservas para applaudir, felicitando-o todos no fim. Parecia uma estreia auspiciosa; eram infelizmente as suas ultimas palavras em publico; era o canto do cysne, um meteoro que passava para deixar um rasto de luz e de saudades.

Pouco depois faltava á camara; um dia, ao recolher da sessão, encontreio-o n'um carro descoberto, acompanhado de alguns amigos, com o rosto já descorado pela doença; ia ao estrangeiro procurar allivios e de lá voltou para morrer na patria. A illacrimavel natureza, cujas mudas injustiças na distribuição da dor e do goso, tantas vezes fazem esquecer as dos homens, converteu o leito dos seus derradeiros e prolongados dias n'um eculeo atrocissimo de dores, que elle tornou respeitavel pela resignação e coragem com que soffreu.

Por todos estes motivos, sr. presidente, a maioria d'esta camara associa-se ao voto de sentimento proposto por v. exa.; é digna a memoria d'este homem d'esta homenagem; é justo que ella fique consignada nas nossas actas.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Sr. presidente, em meu nome e dos meus amigos politicos associo-me ao voto de sentimento que v. exa. acaba de propor pelo fallecimento do nosso bom e digno collega o sr. conselheiro Guilhermino de Barros.

Não posso nunca esquecer, quando pela primeira vez fui chamado aos conselhos da coroa, com a pasta das obras publicas, que encontrei n'aquelle ministerio, como director geral dos correios, o nosso chorado collega e por isso n'esta occasião posso bem dar testemunho da competencia, lealdade e constante dedicação com que dirigia e conhecia os serviços de tão importante ramo publico, não só no paiz, como lá fóra, onde por diversas vezes, em differentes congressos, teve occasião de attestar a sua proficiencia e defender os interesses do paiz.

Foi meu companheiro no supremo tribunal administrativo, e ahi o conheci como um magistrado digno a todos os respeitos.

Por ultimo, foi meu collega n'esta camara e não me esquecerei nunca das palavras primorosas e francas que aqui proferiu. Apesar do seu modo de ver ser diverso do meu, isso não me impediu de lhe consagrar a grande estima, que desde muito lhe tinha.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Presidente: - Em vista da manifestação da camara, considero a proposta approvada por acclamação. (Apoiados geraes,)

O sr. Conde de Bertiandos: - Sr. presidente, associo-me inteiramente aos votos de sentimento prestados á memoria do nosso collega Guilhermino de Barros.

Apresentada esta homenagem de consideração e respeito ao illustre extincto, permitta-me v. exa. que eu diga algumas palavras com relação a dois factos gravissimos que sobresaltaram a opinião publica durante esta semana.

Vejo presentes dois membros do governo, e peço a attenção de s. exas. para os assumptos a que me vou referir, assumptos graves que todos nós conhecemos e lamentâmos.

O primeiro, em ordem chronologica, é o desastre acontecido no elevador da Estrella, que veiu mostrar a falta de vigilancia, a inteira deficiencia de fiscalisação n'estes serviços. Viu-se que os carros d'aquelle elevador, que precisam a cada passo de fazer uso do travão, carros que em toda a parte têem dois travões, não têem, aqui, senão um unico. Sabe-se que esses carros, em tempo rejeitados, foram admittidos a funccionar, sem se conhecer porquê; e, tendo-se dado já desastres, similhantes a este ultimo, nem por isso tem havido a mais pequena modificação n'esses meios de transporte.

Sabe-se mais, sr. prasidente, que n'outros elevadores, em que existem dois travões, são necessarios quatro empregados, dois para o carro que sobe e dois para o que desce. Ora, sr. presidente, isto não se cumpre, a companhia sophisma as cousas de fórma que emprega n'esses carros apenas tres homens, e da fórma seguinte: quando um dos carros vae para cima ou para baixo, e leva os dois empregados, um d'elles, a meia viagem, salta para o outro carro; de fórma que meia viagem é feita com grave risco de vida dos passageiros.

Reuniu-se, segundo dizem os jornaes, uma commissão de peritos para examinar e dar o seu parecer sobre as causas que motivaram o horrivel desastre do elevador da

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