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320 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

volencia da Camara. Fará todas as possiveis diligencias para resumir ou restringir as considerações que deseja fazer.

Antes, porem, de entrar no assumpto em discussão, seja-lhe permittido cumprimentar o orador que o precedeu no uso da palavra, o Digno Par Sr. Teixeira de Vasconcellos.

É S. Exa. um antigo e distincto parlamentar, que todos ouvem com especial agrado, não só pela fluencia da sua palavra e vigor da sua argumentação, mas porque fala sempre n'um tem de grande sinceridade e ainda pela sympathia que a todos inspiram os primores do seu caracter.

Dirá agora que faltaria á verdade se dissesse que o Sr. Teixeira de Vasconcellos havia respondido á moção apresentada n'esta Camara pelo Digno Par Sr. Sebabtiào Baracho.

Elle, orador, não subscrevia a moção de S. Exa. mas é forçoso confessar que tal documento revela não só muito estudo e trabalho, mas tambem muito espirito de observação e talento.

A moção do Digno Par é um documento de alto valor e de incontestavel merecimento politico. E, para provar que o Digno Par Sr. Teixeira de Vasconcellos em nada respondeu ao Sr. Sebastião Baracho, bastará dizer que o defensor do Governo gastou só 50 minutos para responder a um discurso de tres dias.

S. Exa. o Sr. Teixeira de Vasconcellos limitou-se, pode dizer-se, a elogiar o Governo e a clamar contra os partidos, não se lembrando que, momentos antes, o Sr. Presidente do Conselho declarara que estava nos bancos do poder devido á força do partido progressista.

O Digno Par que o precedeu no uso da palavra foi ouvido com grande attenção e até com geral agrado; mas a elle, orador, não o convenceu. E não o convenceu porque? Porque, para convencer alguem, é preciso que quem pretende convencer mostre que está convencido; e S. Exa. não deu ás suas palavras o calor e a vida que demonstram convicção. Pelo contrario, quando S. Exa. falava, via-se que a consciencia se insurgia contra as suas palavras.

S. Exa. não disse quaes os serviços prestados pelo actual Governo durante os seis meses que eatá no poder; e só os serviços prestados poderiam dar logar aos elogios do Digno Par.

S. Exa. clamou contra os partidos; mas decerto nos seus clamores ou censuras não incluia o partido progressista, cujo chefe está aqui representado pelo Digno Par Sr. Sebastião Telles.

Se não censurou o partido progressista, censurou decerto o partido regenerador.

O Sr. José de Azevedo: - Censurou todos, regeneradores e progressistas.

O Orador: - É de crer; mas S. Exa., que ainda ha pouco ouviu n'esta Camara a palavra auctorizada e correctissima do Sr. Conselheiro Hintze Ribeiro, não ousou pôr em duvida os serviços prestados ao paiz pelo Governo regenerador; Ministerio que, em 58 dias de existencia, resolveu importantes questões e prestou relevantes serviços, como, por exemplo, a resolução da questão dos tabacos, a quasi resolução da questão dos sanatorios da Madeira, a ordem para não marchar para a Africa uma expedição que representava uma aventura e com a qual se gastariam mais de 3:500 contos e sabe Deus quantas vidas. (Apoiados).

S. Exa. só se lembrou de mostrar que os partidos progressista e regenerador haviam liquidado.

Uma voz: - O partido progressista nau liquidou; está concentrado.

O Orador: - Está concentrado o partido progressista com o partido regenerador liberal. E é bastante para estranhar tal concentração, quando ainda ha pouco esses partidos se injuriavam e difamavam.

Onde fica a coherencia dos homens quando se vê agora unidos em doce e amoroso connubio o partido progressista com o regenerador liberal! Como foi que elles se reconciliaram?

O Sr. João Arroyo: - Ha cousas que se praticam ou se fazem mas que não podem vir a publico. (Grande hilaridade).

O Orador: - Talvez V. Exa. tenha muita razão; mas eu desejava saber como se effectuou a reconciliação.

O Sr. Luciano Monteiro: - Em politica on ne jure de rien.

O Orador: - Comment ? Oh! perdão, como?

O Sr. Luciano Monteiro: - Em politica on ne jure de rien; talvez V. Exa. ...

O Orador: - Com certeza nunca serei senão regenerador; mas se algum dia deixasse de o ser, o que não succederá, ficarei como o Sr. Baracho.

O Sr. Sebastião Baracho fez um signal negativo com o indicador erguido, ao que o Sr. Pimentel Pinto diz:

Punha-me ao lado do Sr. Baracho, mas não iria com elle, claro. Estaria afastado de toda a gente.

O Sr. Sebastião Baracho: - E um do outro.

O Orador: - Não pode deixar de estranhar que o Digno Par Teixeira de Vasconcellos se não referisse á concentração liberal. Se realmente o partido progressista liquidou, conforme S. Exa. disse, bom é que todos saibam como se deu essa liquidação.

Tambem desejava saber como é que foi possivel a juncção de dois partidos que tão insistentemeste se digladiavam.

Foi o Sr. Conselheiro João Franco a casa do Sr. José Luciano, de baraço ao pescoço, rezar o acto de contrição, ou deu se a inversa?

O paiz, perante esta scena, sorri-se, e n'esse sorriso, cheio de uma certa philosophia, que deve ser desculpada, diz que tão bons são uns como tão outros, e talvez tenha razão.

Não acompanhará todas as considerações do Digno Par Teixeira de Vasconcellos, mas ha um ponto do discurso de S. Exa. que se lhe afigura importante e que desejaria ver devidamente explicado.

Disse o Digno Par que actualmente a lei era rigorosamente cumprida.

Pois elle, orador, mostrará que, ao contrario, este Governo está sempre, completa e absolutamente, fora da lei, e será este o ponto essencial do seu discurso.

Disse o Digno Par que o actual Governo queria fazer uma administração seria e honesta para deixar de si um nome honrado.

Não nega que os homens que actualmente se sentam nas cadeiras do poder se sintam animados do desejo de fazer uma administração seria e honesta; mas será isso proposito exclusivo de S. Exas. e a que se não tenham submettido os que os antecederam na missão de governar? Diga o Digno Par se foi isso que pretendeu affirmar.

O Sr. Teixeira de Vasconcellos (interrompendo): - Quando falou em administrações serias e honestas não pretendeu ferir a honra individual de ninguem nem os Governos anteriores.

O Orador: - Attenta a declaração do Digno Par despede-se de S. Exa. e não alludirá mais ao seu discurso.

Antes de proseguir nas suas considerações convem accentuar que vae dizer desassombradamente o que pensa, sem a minima preoccupação de agradar ou desagradar seja a quem for.

Está sendo julgada perante o paiz uma causa em que é auctor o Governo, e reus todos aquelles que fizeram parte de passadas situações governativas.