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N.º 24

SESSÃO DE 21 DE FEVEREIRO DE 1881

Presidencia do exmo. sr. João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártens

Secretarios - os dignos pares

Visconde de Soares Franco
Eduardo Montufar Barreires

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta da sessão antecedente. - A correspondencia é enviada ao seu destino. - O sr. presidente da camara, Mártens Ferrão, participa o fallecimcnto do digno par marquez de Fronteira e de Alorna, e nomeia a deputação que ha de assistir ás ceremonias funebres. - O digno par, o sr. Fontes Pereira de Mello, propõe que se suspenda a sessão. - Discurso do sr. marquez de Ficalho.

Ás duas horas e um quarto da tarde, sendo presentes 39 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Lida a acta da sessão precedente, julgou-se approvada na conformidade do regimento, por não haver reclamação em contrario.

Mencionou-se a seguinte:

Correspondencia

Um officio do digno par visconde de Chancelleiros, participando não poder comparecer por incommodo de saude.

Outro do ministerio da guerra, remettendo 80 exemplares das suas contas relativas á gerencia de 1879-1880 e do exercicio de 1878-1879.

Mandaram-se distribuir.

O sr. Presidente: - Senhores, cabe-me o dever de communicar á camara, que acaba de ser recebido na mesa um officio do digno par, o sr. conde da Torre, communicando que o digno par marquez de Fronteira e Alorna deixou de existir na dia 19, pelas seis horas da tarde, e que ámanhã terá logar o saímento funebre da sua residencia, em Bemfica. Não me cumpre n'este momento fazer o largo elogio do illustre finado; mas, interpretando o voto unanime da camara, registar com seu nome o sentimento doloroso e profundo com que esta participação foi recebida. (Apoiados geraes.)

O marquez de Fronteira e Alorna, senhores, era o mais antigo membro da camara dos pares, tendo sido nomeado par em 1826, e tomando posse em começo de 1828.

Pela sua constante adhesão á legitimidade do throno e ás instituições liberaes soffreu o exilio, pelejou com o denodo de valente soldado, e consagrou a melhor parte da sua vida ao serviço da patria na carreira das armas e na ordem civil. (Muitos apoiados.)

Valente como os mais esforçados, leal ao rei, ás instituições e aos seus amigos até ao extremo; (Muitos apoiados.) piedoso, nobre e honrado como portuguez, a sua vida é modelo do homem publico e do chefe do familia. (Muitos apoiados.) A nossa respeitosa saudade, senhores, e a recordação das altas qualidades que illustraram o seu nobilissimo caracter são a triste immortalidade que a patria póde dar á sua memoria tão respeitada! Interpreto os desejos da camara propondo que se lance na acta um voto de sentimento; que não haja sessão ámanhã, (Muitos apoiados.) não só como testemunho do profundo sentimento da camara, mas para que a camara possa concorrer ás honras funebres que se hão de prestar ao seu illustre decano.

Vae ler-se o officio que se recebeu na mesa.

O sr. Secretario: - Leu um o fficio do sr. conde da Torre, participando o fallecimento do digno par do reino, o exmo. sr. marquez de Fronteira e Alorna.

Ficou a camara inteirada.

O sr. Presidente: - A deputação que deve acompanhar o saímento, e assistir ás ceremonias funebres, que hão de celebrar-se ámanhã, e á qual se deverão aggregar todos os dignos pares, que quizerem prestar este tributo de homenagem á memoria d'aquelle nosso sempre chorado collega, é composta, alem da mesa, dos dignos pares:

Marquez de Ficalho, que fica sendo o decano d'esta casa.

D. Antonio José de Mello e Saldanha.
Augusto Xavier Palmeirim.

osé Manços de Faria.
Fortunato José Barreiros.
José Baptista de Andrade.
Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello.

O sr. Fontes Pereira de Mello: - Sr. presidente, não posso referir melhor, nem tão bem como v. exa., os distinctos serviços e as altas qualidades que adornavam o illustre collega, cuja perda todos nós deploramos; mas creio ser fiel interprete da camara dizendo que ella se associa nobremente a todas as manifestações de profundo sentimento, e respeito, pela memoria de tão prestante cidadão.

Vão desapparecendo todos os dias os homens que, ao lado do Imperador, pelo seu esforço, e muitas vezes com o seu sangue derramado no campo de batalha, ajudaram a conquistar as liberdades publicas e a consolidar o throno da senhora D. Maria II. Entre esses avultava ainda o nobre marquez de Fronteira, e a morte acaba de o roubar aos extremos da sua familia e dos seus amigos, e á patria que elle tanto estremeceu, e pela qual se dedicou constantemente.

V. exa. propoz que não houvesse sessão ámanhã, em honra das virtudes e qualidades do finado, que era o decano d'esta camara, e eu atrevo-me a propor que no mesmo intuito se suspenda hoje a sessão, e a assembléa testemunha por este modo a elevada consideração em que tem a memoria de um dos seus membros mais illustres.

O sr. Marquez de Ficalho: - Não sei se me será possivel dizer duas palavras. Não sei se o poderei fazer, porque o estado em que me encontro é tal, sinto-me tão consternado, que julgo não terei forças para dizer o que desejava.

Sou suspeito para poder fazer o elogio do nobre e respeitabilissimo marquez de Fronteira.

Fui seu amigo e seu camarada. Compartilhámos das mesmas angustias, dos mesmos soffrimentos.

Não posso dizer muito; mas, para fazer o seu elogio, basta que diga que era o homem que ainda conheci mais verdadeiramente catholico apostolico romano e mais liberal.

Soube o nobre marquez sempre alliar uma cousa á outra, no que deu uma lição a todos.

Era o homem mais honrado e mais fiel ás suas opiniões, que tenho visto. Muitas vezes para alguns poderiam não ser as melhores, mas eram as suas.

Como parlamentar, nenhum mais activo e desejoso de que o parlamento remediasse as difficuldades do paiz.

Já vê v. exa. que sou suspeito, porque fui, como disse, companheiro, camarada e amigo do illustre marquez.

De tantos que eramos camaradas resto eu sómente.

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204 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Estou sósinho!

Eramos quarenta e dois os que fomos á ilha Terceira. N'esse numero entrava o então conde de Villa Flor.

Fomos oitocentos a defender a villa da Praia em 1.º de agosto de 1829. D'esses oito centos existe sómente um.

Concluindo, sr. presidente, não posso deixar de dizer que raras vezes tenho tido um sentimento tão profundo e verdadeiro como n'esta occasião.

Peço desculpa; mas não posso continuar, porque o meu estado physico não me permitte.

O sr. Presidente: - Os dignos pares que approvam as propostas feitas, uma pelo digno par, o sr. Fontes, e outra por mim, para que se suspenda a sessão de hoje e para que amanhã não haja sessão, tenham a bondade de levantar-se.

Foi approvado.

O sr. Presidente: - Agora vou consultar a camara sobre se approva que se lance na acta um voto de sentimento pela morte de tão prestante cidadão, como honrado collega, e que d'esta resolução se dê conhecimento ao sr. conde da Torre, enviando-lhe copia da acta da sessão de hoje.

Consultada a camara sobre estas duas propostas, approvou-as unanimemente.

O sr. Presidente: - Ficam convidados os dignes pares para assistirem ámanhã ao saímento funebre, que deve effectuar-se da casa do ficado para a igreja de S. Domingos de Bemfica.

A primeira sessão será na quarta-feira, 23 do corrente; e a ordem do dia a mesma que estava dada para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram duas horas e meia da tarde.

Dignos pares presentes na sessão de 21 de fevereiro de 1881

Exmos. srs.: João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártens; Marquezes, de Ficalho, de Monfalim, de Penafiel; Arcebispo de Evora; Condes, dos Arcos, de Avillez, de Cabral, de Castro, da Ribeira Grande; Bispos, de Vizeu, eleito do Algarve; Viscondes, de Algés, de Alves de Sá, de Borges de Castro, da Borralha, das Laranjeiras, da Praia Grande, de Seabra, do Seisal, de Soares Franco; Ornelias, Mello e Carvalho, Quaresma, Francisco Machado, Barros e Sá, D. Antonio de Mello, Couto Monteiro, Fontes Pereira de Mello, Magalhães Aguiar, Rodrigues Sampaio, Cau da Costa, Xavier da Silva, Palmeirim, Carlos Bento, Montufar Barreiros, Fortunato Barreiros, Francisco Cunha, Serpa Pimentel, Margiochi, Andrade Corvo, Ferreira Lapa, Mendonça Cortez, Abreu e Sousa, Braamcamp, Reis e Vasconcellos, Mancos de Faria, Ponte e Horta, Mexia Salema, Luiz de Campos, Camara Leme, Daun e Lorena, Seixas, Vaz Preto, Pereira Dias, Franzini, Canto e Castro, Calheiros, Thomás de Carvalho, Ferreira de Novaes, Vicente Ferrer, Seica e Almeida.

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