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340 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Franco Castello Branco se levantou, irado e facundo, pondo a questão politica e dizendo que o governo era todo solidario, que não havia divergencias de opinião, e appellando para a camara, a qual Deus sabia com que vontade lhe dera o voto de confiança, em resultado da moção do antigo chefe, se ainda o era, do partido regenerador; desde que o sr. Franco Castello Branco, dizia o orador, pozera a questão politica e arrancara o voto de confiança a esta camara; desde esse momento o sr. Pimentel Pinto não podia sair do ministerio sem que o acompanhasse todo o governo.

Era por isso que, o sr. presidente do conselho não podia dar as rasões verdadeiras do pedido da demissão do sr. ministro da guerra. Podia assegurar o orador que o celebre conselho de ministros, em que se resolvera a demissão do sr. ministro da guerra, tinha-se realisado muitos dias depois do sr. Pimentel Pinto estar demittido.

Portanto, a reforma do exercito não fôra a causa da demissão.

Nem no actual momento se devia dizer á camara que o motivo por que uma reforma do exercito não era opportuna, era o augmento de despeza que ella acarretava.

Houvera, sim, tempo em que o paiz dizia que o exercito não servia para nada, a não ser para procissões e para arraiaes.

Mas a hora do perigo chegara, e o exercito portuguez, cheio de abnegação e enthusiasmo lá fôra para Africa, aonde levantou bem alto o nome portuguez, fortalecendo o seu prestigio e mantendo energicamente a integridade dos nossos territorios.

Quem sabe se elle era n’este momento a unica força real que existia ainda?

Se havia augmento de despeza, porque não dizia o sr. presidente do. conselho á camara qual era a importancia d’esse augmento?

Porventura o sr. Pimentel Pinto proporia alguma despeza tão urgente que não coubesse na possibilidade de uma discussão parlamentar?

Ou era cousa que podesse ser logo resolvida no conselho?

Se o orador combateu o sr. Pimentel Pinto com violencia, toda a gente sabia que o combatera principalmente pela posição desastrosa e insustentavel era que s. exa. se collocara na questão das recompensas aos expedicionarios; questão em que o governo era todo solidario; mas não podia deixar de dizer que o sr. Pimentel Pinto prestou, na gerencia da sua pasta, valiosos e relevantes serviços ao exercito e ao paiz.

E era agora, quando o exercito portuguez acabava de praticar feitos heroicos em Africa, quando havia em torno de nós tantos perigos não só por questões a que podiam dar origem os territorios ultramarinos, mas por outras que, em virtude de qualquer circumstancia mais ou menos imprevista, podessem surgir do estrangeiro; quando não havia soldados, não havia armamento, não havia munições, era n’esta occasião que o sr; presidente do conselho vinha dizer que fora em consequencia de propostas sobre a reforma do exercito, com as quaes o ministerio não concordou, que o sr. Pimentel Pinto pedira a demissão!

Não se comprehendia isto.

Ao governo não faltava dinheiro; tinha-o para embaixadas, para commissões aos amigos, competentes uns, mas outros incompetentes, tinha-o para comprar navios velhos e em mau estado, só o não tinha quando o sr. Pimentel Pinto pedia, a julgar pelas declarações do sr. presidente do conselho, um augmento de despeza para melhorar e reformar o exercito, que representa a força, a ordem, a sustentação do nosso prestigio e a integridade do nosso territorio!

Era n’essa occasiao que o sr. presidente do conselho entendia dever abrir uma crise e pôr fora do governo o gr, Pimentel Pinto!

Felizmente que a rasão que deu o sr. presidente do conselho não era verdadeira, não era exacta. Dera essa á falta de outra melhor.

Sem duvida que o nobre presidente do conselho reconhecia que a camara não acreditava, na rasão que s. exa. deu para explicar a saida do sr. ministro da guerra. Fazia-lhe essa justiça, por certo.

Mas mais uma vez o governo saltara por cima do parlamento, instituição que, pelo que se tem visto, não adorava.

Esteve largo tempo fóra do parlamento, vivendo em dictadura. Dá-se agora uma crise ministerial com o parlamento aberto. E não é ao parlamento que se vae buscar o individuo para preencher a pasta da guerra!

Não diz isto porque cousa alguma tenha que assacar ao nobre ministro da guerra agora nomeado. Conhece-o do tempo em que s. exa. fazia parte da outra casa do parlamento, aonde, por vezes, o ouviu. Sabe, que é homem recto, intelligente e illustrado, mas isso não é o bastante.

Então, o sr. presidente do conselho não tinha, em qualquer das casas, do parlamento, nenhum militar illustrado, d’esses que têem defendido o governo, e até de patente superior á do sr. Moraes Sarmento, para exercer o elevado cargo de ministro da guerra? Que figura ficam fazendo os generaes que pertencem á outra camara?

Não constitue um diploma de incompetencia, passado pelo governo, o facto de ir escolher, fóra do parlamento, o ministro da guerra, quando, no seio da representação nacional, o governo tinha tantos e tão illustrados membros, que poderiam ser seus companheiros de trabalho na pasta da guerra?

O governo, porém, não o entendeu assim, porque faz o que quer; não obedece ás praxes, aos principios, e o seu unico desejo parece ser o de saltar sempre por cima da camara, ou dissolvendo, ou reformando, ou demittindo, ou adiando, sempre sem ouvir ninguem, sem consultar pessoa alguma, sem dar ao parlamento uma unica rasão do seu proceder.

Pela sua parte, o orador, no exercicio de um direito, tem feito opposição ao governo, mas na camara havia uma maioria, que tem dado provas da sua lealdade, acompanhando desinteressadamente o governo, e que não merecia o que se lhe fez.

O peso que actualmente impende sobre a cabeça do sr. ministro da guerra é grande, visto que foram grandes e relevantes os serviços prestados pelo seu antecessor, a quem não regateia elogios. Insiste n’este ponto, para que se não julgue que ha contradicção entre os ataques que a s. exa. dirigiu e os elogios que hoje lhe faz. Dissera-o muitas vezes a s. exa. em particular.

Censurava-o violentamente, porque, na realidade, a sua situação era insustentavel depois da questão das recompensas.

Quanto, porem, ao resto, e. exa. prestou serviços ao exercito.

Portanto, perguntava a s. exa. qual era o plano do governo, pelo que respeitava á pasta da guerra.

É sabido que ha muito poucos soldados, que elles não chegam para os mais insignificantes serviços, ás vezes nem para as guardas nos quarteis. Não ha reserva, não ha armamento, não ha munições, não ha nada.

Ouvira ha tempos dizer na camara dos senhores deputados que espadas de cavallaria havia apenas dez para as reservas, e n’essa occasião houve um apoiado do sr. ministro da guerra. Não ha, por consequencia, nada, ha simplesmente o valor sempre provado do brioso exercito portuguez, mas isso não é sufficiente, é necessario dar-lhe os meios de que carece para que na hora do perigo possa sair triumphante.

O sr. Pimentel Pinto quiz fazer alguns melhoramentos para- os quaes era necessario augmentar a despeza, mas