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APPEND1CE A SESSÃO N.° 29 DE 8 DE MARÇO DE 1904 332-A

Discurso proferido pelo Digno Par do Reino Ferreira do Amaral, que devia ler-se a pag. 315, col. l.ª, da sessão n.° 29 de 8 de março de 1904

O Sr. Ferreira do Amaral: - No numero das accusações feitas á construcção do cruzador D. Amélia, avulta a que se refere ao leme electrico.

É claro que, no rigor da expressão, é errónea a classificação de leme electrico dada ao leme do D. Amélia, que é igual aos dos outros navios, e se alguma differença ha é ter a vantagem, sobre mui tos outros, de estar por tal forma equilibrado que a rotação completa se faz com o auxilio das machinas e do leme descrevendo o navio um circulo que não tem diametro superior ao seu cumprimento, o que é o ideal em materia de rotação produzida pelos lemes.

Alem d'isso o governo do navio é perfeito e completo; nenhum dos officiaes que o tem tripulado ou commandado ainda se queixou de qualquer defeito d'esse genero.

Os lemes, na technologia naval, são classificados segundo o motor que se applica ao seu funccionamento: ha lemes chamados de mão, que são aquelles que trabalham por meio de rodas de leme, movidas á mão pelas praças; ha lemes de vapor que são aquelles cujo movimento é feito por transmissão de uma roda do leme especial a um motor de vapor tambem especial; ha leme electrico, que é aquelle em que o motor é electrico.

Assim, pois, as irregularidades que possam ter-se notado no funccionamento do leme do D. Amélia dependem do motor applicado, e não da natureza do leme.

Para fazer a historia dos motivos que o Sr. Croneau teve para adoptar este motor para o leme do D. Amelia, deverei dizer que ao tempo em que foi applicado era este systema preconizado por muitas razões, sendo as duas principaes: a facilidade de reparação n'um caso de avaria em combate, por isso que é mais facil concertar um fio conductor do que um tubo de vapor, desde o momento que seja ferido por qualquer estilhaço ou por outro qualquer motivo, o que sempre determina uma fuga de vapor, ás vezes em altissima pressão e com grave risco d'aquelles que teem de intervir na reparação da avaria.

O outro motivo é que, tendo a machina motora do leme de se montar á ré, na proximidade da cabeça do leme, e sendo as caldeiras avante dos alojamentos, a passagem do vapor das caldeiras para o motor determina um aquecimento nos alojamentos que tornam estes muito menos habitaveis, emquanto que o motor electrico não interrompe, não toma espaço nem aquece os alojamentos.

Outra razão tambem determina a adopção do motor electrico, e é a que diz respeito aos explosivos chimicos usados na artilharia moderna.

Estes explosivos teem uma estabilidade muito restricta, que é em regra affectada com o augmento de temperatura, chegando-se nas polvoras sem fumo ao preceito de não se admittir no espaço em que ellas estejam guardadas que a temperatura passe alem de 35° centigrados, pois quando mesmo se não determine por isso uma explosão, pelo menos as altas temperaturas nos paioes tornam estas polvoras mais vivas e o seu uso pode então provocar nas camaras das peças uma formação de gazes tão rapida e instantanea que as culatras não resistam a ella, casos estes que se teem repetido frequentissimas vezes, dando logar á morte ou ferimentos graves n'aquelles que guarnecem as peças.

É claro que um motor em que taes condições são por completo attendidas era perfeitamente adaptavel a um navio pequeno, a um navio de uma lotação que hoje nem teria sequer as honras de cruzador de 3.ª classe; comparado com outros não passaria, quando muito, de uma canhoneira de 2.ª classe e é bom que isto se repita, porque a tendencia geral das censuras é sempre comparar o D. Amélia, não com os navios similares das outras marinhas, mas com os' couraçados de esquadra das grandes marinhas da Europa. O motor electrico para o leme torna-se recommendavel tambem para os transatlanticos em que é especialmente exigivel a commodidade dos passageiros e especialmente nos paquetes que se destinam aos climas quentes: dada a circumstancia de que os nossos navios são destinados, em regra, ao serviço colonial, por maioria de razão se recommendava, n'um navio em que tanto superabundam energias electricas, um motor de leme que por estas energias trabalhasse.

Muitos navios, principalmente muitos da esquadra voluntaria russa, possuem motores electricos para os seus lemes.

Nos inglezes, é certo, não teem sido esses motores usados, mas e preciso lembrar que em Inglaterra não ha pressa em se adoptarem melhoramentos, ali espera-se sempre mais ou menos que a pratica os confirme.

Creio que é, perante muitas phantasias de inventores, prudente este modo de pensar; mas o que não é menos certo é que tem levado tambem a Inglaterra a perdas consideraveis esta forma de pensar e de proceder.

Assim por exemplo citarei as perdas que até hoje tem tido por, nos seus arsenaes, não adoptar motores electricos, como base de funccionamento nas suas officinas.

Ultimamente porem estão montando installações electricas em todo os arsenaes, e muitas officinas do Estado e particulares. Em outros estão já a fazei-os estudos preliminares para a montagem das suas installações centraes de laboração, por meio de energias electricas, que tanto facilitam a outr'ora difficil tarefa da transmissão dos movimentos.

Aconteceu que o motor escolhido para o D. Amélia, por difficuldade de accesso a alguns dos seus orgãos principaes, apesar de ser um motor ordinario com a simples differença de, em vez de ser um continuo, ter por missão a producção de movimentos alternados e irregularmente interrompidos, segundo as necessidades do governo, tem appresentado no seu funccionamento algumas irregularidades e frequentes avarias.

Como a Camara pode imaginar, tendo fatalmente de ser um motor para produzir um movimento, ora n'um sentido ora n'outro, e ainda em qualquer d'elles restricto ás necessidades de inclinação da cana do leme, tinha de ter algumas peças de natureza especial, cuja descripção seria aqui impossivel de fazer-se, sem uma pedra em que se desenhasse um modelo que ao alcance de todos se exhibisse; tinha tambem algumas peças que estavam inacessiveis a um prompto manejo de substituição ou visita, estando ainda cobertas com uma folha de ferro, para evitar que a parte mais delicada do instrumento fosse affectada pelo pó exterior, ou por quaesquer outras circumstancias.

Constatou-se desde o principio o inconveniente d'este apparelho, não propriamente no ponto de vista da applicação do systema, mas pela forma especial por que estava applicado.