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272 DIARIO DA CAMABA DOS DIGNOS PARES DO REINO

esquadrão não ha no Porto, mas que entre o povo se dá ordinariamente o nome de esquadrio a qualquer piquete, ou troço de soldados a cavallo, embora não seja composto do numero de praças da ordenança.

Portanto, não seria um esquadrão, segundo a technologia militar, que acompanhou os ditos deputados; é certo, porém, que elles foram guardados por uma porção de soldados até ao hotel, e tanto que os officios dos commandantes militares que s. exa. leu não desfazem esta afirmativa.

Agora vamos a outra questão que é para mim a principal, e com relação á qual vou tomar severas contas ao sr. ministro das obras publicas e a todo o governo.

S. exa. respondeu ás minhas afirmativas, baseadas em factos incontestados, com simples negativas, dizendo que ao que asseverei oppunha a sua negação, e me pedia provas do que eu avançara.

Naturalmente o illustre ministro quer que eu faca uma justificação judicial para provar os factos que todos presencearam, e que ninguem nega.

Pois acredite que é cousa facil, posto que inutil, porque não aproveita a esta discussão.

Entretanto, direi a s. exa. que ha um facto que não negará, nem eu o consentiria, porque fui d’elle testemunha. Refiro-me a uma reunião em que estava o sr. ministro e esses progressistas, que são o sustentaculo do governo, e que queriam promover um meeting contra a politica do sr. Fontes. Retiro-me a essa reunião em que progressistas e reformistas confessavam a sua fraqueza e procuravam lançar mão do elemento republicano, ao que me oppuz, recusando-me a concordar nesse meio, porque sou monarchico, e não estou como s. exa. com um pé no partido republicano e outro pé no partido monarchico.

Achei indecoroso aquelle meio, oppuz-me, e felizmente as transacções n’aquella occasião abortaram, apesar do sr. Saraiva ter reuniões e ligações com elles.

Sei bem o que são os progressistas e direi mais que se eu seguisse as doutrinas e o procedimento do sr. Saraiva de Carvalho, se estivesse como s. exa. ligado ao partido republicano, eu não teria acceitado, como fez s. exa., um logar nos conselhos da corôa, nunca me teria sentado na cadeira que hoje occupa, nem seria jamais ministro do Senhor D. Luiz I.

É necessario que estas cousas se saibam, e que não haja illusões a respeito d’este governo progressista; convem que se fique sabendo claramente que o pensamento do ministerio é arrastar na sua queda as instituições. Sei que alguns membros do gabinete estão ali de boa fé e completamente illudidos, mas a outros é preciso arrancar-lhes a mascara.

Creia v. exa. e a camara que, se o partido republicano tem crescido e engrossado, é porque os ministros do partido progressista têem estado ligados com elle, e tanto na opposição, como no governo, lhe tem dado força.

Sr. presidente, esta é a verdade.

Voltemos á questão. Eu presenciei alguns dos factos ultimamente passados nas das de Lisboa, e de que todos teem maior ou menor conhecimento: vi, por exemplo, um pobre desgraçado que tinha sido acutilado na occasião em que na rua se levantavam alguns vivas á republica; emquanto este facto se dava, por outro lado, quasi todos os dias o governo consentia que se tocasse a Marselheza e se dessem vivas é, republica no theatro do Principe Real. Acha v. exa. e a camara que o governo devia permanecer indifferente diante d’aquellas manifestações?

Foi a proposito de tudo isto, sr. presidente, que eu disse o outro dia que receiava que os radicaes de cá fizessem em Portugal o mesmo que os radicaes de Hespanha praticaram n’esse paiz no tempo do ministerio Zorrilla.

Quererá o sr. Braamcamp desempenhar esse papel?

Sr. presidente, a anarchia nas das de Lisboa póde produzir effeitos terriveis, e não deve ser provocada, como está sendo todos os dias, pelo procedimento irreflectido do governo.

A camara deve ter conhecimento de um facto acontecido hontem nas proximidades do Rocio, e que, começando por uma insignificante altercação entre um vendedor e um comprador, podia terminar por tumultos e desgraças, em vista da imprudencia das auctoridades, que logo desenvolveram um grande apparato de força, e commetteram arbitrariedades, tudo muito fóra de proposito. (Apoiados.} Refiro-me á denominada revolta do vinagre.

Se as auctoridades encarregadas de manter a ordem procedera tão inconvenientemente, ou é porque têem essas instrucções, ou é porque se vêem apoiadas nos seus desmandos pelo governo. (Apoiados.)

Sr. presidente, eu fallo assim desassombrado e de cabeça erguida, porque tenho convicções firmes e o desejo sincero de servir o meu paiz.

Ninguem me poderá contestar que eu na minha longa vida politica me tenha desligado um ápice desse caminho que a honra e o dever me tem traçado.

Sr. presidente, estou costumado a dizer a verdade sem lisonja, embora me veja forçado a fazel-o em termos áspero* e severos, embora faça violencia ao meu coração, não hesito nunca quando o dever o exige.

Sr. presidente, n’estas circumstancias e na presente conjunctura direi ao governo que a sua responsabilidade é immensa, que chegou o momento psychologico de deixar o poder; que é necessario estar completamente obcecado para não ver que a opinião publica manifesta já por todas as fórmas a sua indignação, e que se o governo persistir na sua teimosia e no aferro áquellas cadeiras, contra a vontade e contra os interesses do paiz, irá conduzir-nos á ruina, e mais tarde a sua queda inevitavel ha de ser estrepitosa. (Apoiados.)

O sr. Conde de Valbom: — Tratou do mesmo assumpto e da politica do governo.

(O discurso do digno par será publicado quando s. exa. o devolver.)

O sr. Pereira Dias: — Quando pedi a palavra, julguei que sobre este incidente estavam mais alguns oradores inscriptos.

Vejo, porém, que assim não é; e como não quero, porque não posso, empanar o brilho do monumental discurso do sr. conde de Valbom, desisto da palavra, visto que s. exa. depois de tantos mezes de singular reserva, com desagrado de todos nós, é que se dignou olhar, com aquella attenção e carinho que é proprio da sua generosidade, para o povo d’este paiz.

Desejo que o discurso de s. exa. fique bem saliente, e que o paiz olhe tambem para elle.

O sr. Marquez de Vallada: — Estima que o sr. ministro das obras publicas enunciasse o principio de que não se deve accusar sem apresentar as provas. Venham, pois, as syndicancias; apure-se a verdade, venham as provas do que disseram os progressistas no meeting contra a concessão da Zambezia, e na sua imprensa jornalistica; venha a justificação do seu brado: — Aqui do povo contra os ladrões!

Se os homens politicos e os altos personagens, que foram injuriados então, carecessem de um desaggravo mais solemne, era impossivel encontral-o fóra do procedimento deste partido.

Entre diversas considerações que apresentou, disse que o maguára profundamente a ordem dada pelo governo para acutilar o povo; que este governo não tinha auctoridade moral para reprimir as demasias da imprensa; que, depois de rasgar os seusprogrammas, inventou uma arte de musica; que o partido tem a sua solfa, em que só ha duas figuras: a fuga e a espera.

Os mais amestrados n’esta arte de musica são os srs. Braamcamp e José Luciano; o primeiro, que é o presidente do conselho diz: esperem; mas o segundo, que é o sr. ministro do reino, foge, Effectivamente de fuga em fuga, de espera