O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

280 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS FARES DO REINO

com que elle afirmasse a sua existencia n’este paiz como partido.

Esta é a verdade. Podia adduzir muitos argumentes em favor d’esta asserção e contar varios factos a esse respeito, porque os presenciei; mas não o farei n’esta occasião, posto que convenha que toda a gente os conheça, e que saiba ao mesmo tempo que as pessoas que auxiliaram a arruaça no meeting de S. Carlos eram affectas ao governo.

Ao partido republicano, aos seus adeptos de boa fé, de profunda convicção e de inteireza nos seus principios, direi que se illudem ácerca da conveniencia da republica em Portugal; que se tivéssemos a infelicidade do a ver aqui implantada, breve perderiamos a nossa autonomia, e seriamos annexados á Hespanha.

A republica em Portugal é correlativa da annexação á Hespanha. O verdadeiro portuguez nunca o póde querer. Pense o povo bem n’isto, e creia que os que lhe dizem o contrario o illudem.

É necessario dizer estas verdades ao povo, que ama o seu paiz, e que tem sido illudido constantemente. E eu posso de cabeça erguida dizer-lhe estas verdades, porque nunca especulei com os governos, a na minha vida publica tenho constantemente pugnado pelos interesses do meu paiz sem nunca pedir nem querer cousa alguma para ruim. (Apoiados.)

Se, porventura, tivermos a infelicidade de ver implantar a republica em Portugal, podemos contar que desde esse momento a nossa autonomia e a nossa independencia terão desapparecido; deixaremos de ser portuguezes para nos tornarmos hespanhoes. (Muitos apoiados.}

Esta é que é a verdade; estejam certos d’isso os srs. republicanos. É necessario dizer a verdade toda inteira, e eu nunca me recuso a dizei-a com todo o desassombro, embora não agrade. É este é meu dever, nunca adulei o povo, nem o farei jamais; prefiro o seu desagrado a faltar-lhe á verdade.

Aquelles que são verdadeiros amigos do paiz, e da nossa nacionalidade; aquelles que prezara verdadeiramente a independencia da patria, não se devem deixar illudir com certas miragens, que podem dar logar a uma aspirado cajá realisação seria de funestas consequencias, das quaes uma das primeiras e das mais graves seria a annexação á Hespanha como resultado immediato do estabelecimento da republica em Portugal.

E haverá algum portuguez tão degenerado que queira perder a sua nacionalidade, e que se não lembre dos oppressores de Hespanha e da escravidão? (Apoiados.)

Eu pela minha parte direi — nasci portuguez, e quero morrer portuguez. — (Vozes:—Muito bem.)

Sr. presidente, quero a liberdade juntamente com a ordem, e não creio que haja paiz no inundo onde se gose mais liberdade do que em Portugal. (Apoiados.)

Quero Portugal livre e independente; quero Portugal afirmando a sua gloriosa autonomia entre as nações da Europa; não quero jamais ser hespanhol. (Apoiados.)

A proclamação da republica seria a proclamação da escravidão em Portugal. A historia dá-nos documento eloquente do quanto soffremos outr’ora quando estivemos sob o jugo da nossa vizinha Hespanha.

Durante esses ominosos tempos em que vivemos aviltados e opprimidos, perdemos as mais preciosas jóias da corôa portuguez a.

A Inglaterra possue hoje as nossas melhores e mais ricas colonias.

Sr. presidente, nem eu quero lembrar-mo do muito que soffremos, nem abrir de novo essas feridas que ainda hoje sangram. Voltarei, pois á questão dos meetings, o afirmarei que foi o governo quem promoveu as desordens; que, ligando-se e dando força aos republicanos, desacredita a monarchia e os partidos que a sustentam; e que a sua ligação e combinação com os republicanos foi clara e manifesta, como se evidencia das arruaças, das vozearias, dos gritos que empregados do governo, misturados com os republicanos, soltavam em S. Carlos para fazer abortar o meeting; que começados os tumultos, pelo governo fomentados, foi o proprio que mandou acutilar o povo inerme, que não tinha culpa e que da melhor boa fé percorria as das da capital no exercicio pleno ao seu direito.

O procedimento do governo é altamente censuravel, porque não cumpriu o seu juramento, fazendo manter a constituição, e respeitar a monarchia. O procedimento do governo, mandando acutilar o povo inerme, é altamente censuravel, porque não fez as intimações do estylo que a lei exige.

Sr. presidente, custa a crer, mas é a verdade; nesta lastimavel manifestação, até os soldados da municipal, sem fazerem caso das ordens, nem attenderem á disciplina, saíram da forma para acutilar o povo!

Este triste acontecimento é um mau symptoma. Quando a anarchia e a indisciplina invadem a guarda municipal, que tem servido de modelo, revela que o mal tem feito lá grandes progressos.

Sr. presidente, eu fui testemunha presencial, assisti ás scenas que se deram no Chiado, e vi com os meus proprios olhos os soldados furiosos perseguirem os cidadãos indefezos, vi os cavallarias perseguil-os até pelos passeios, dando-lhes pranchadas, apesar de se retirarem e de fugirem. Perguntarei, pois, ao governo será isto manter a ordem, e sustentar os bons principios?

Estes é que são os factos, esta é que é a politica do governo, centra a qual não posso deixar de me pronunciar da fórma por que o fiz.

Disse a verdade como costumo sempre fazer; e appellando para a consciencia dos srs. ministros, pergunto-lhes se não voem que a opinião publica lhes é adversa; que as suas manifestações começam a fazer-se sentir por todas as formas e modos, não podendo mesmo o governo, apesar de apparato bellico o da immensa policia, impedi: as expansões espontaneas das galerias!

O momento psycologico de deixarem aquellas cadeiras chegou, e se não vêem a onda revolucionaria, a vaga embravecida que vae crescendo, e se estão tão obcecados que não ouvem os clamores geraes, que se expandem de um ao outro angulo do paiz, talvez seja tarde quando quizerem pôr um dique á torrente caudal que se despenha, e que esmagará no seu percurso o governo e as instituições.

O sr. Pereira Dias: — Não vê o governo representando o seu partido, vê que se trata de uma questão que é de ordem publica, que interessa a todos os governos e ao paiz principalmente.

Por mais que queiram disfarçar a moção do sr. Barjona, ella é uma censura ao governo por ter sustentado a ordem publica.

Qual é o resultado de uma votação de censura n’estas circumstancias?

Alludiu ao que se passou em Coimbra ha quatro ou cinco annos com os estudantes chamados caloiros, que não queriam ser examinados por certos professores, e que foram victimas de uma carga de cavallaria e de uma descarga de fuzilaria, de que resultou uma morte e varios ferimentos graves.

Disse que a anarchia que vae no paiz corresponde á que vae em certos partidos contra a vontade dos chefes.

A culpa do que está acontecendo não é d’este governo, é de todos os governos e de todos os homens politicos.

Deseja que se liquidem as responsabilidades, para que se saiba quem promove a ruina das instituições; e lembra que o sr. Vaz Preto já accusava o governo transacto d’este mesmo crime.

Como désse a hora, pediu para ficar com a palavra reservada.

(O discurso de s. exa. será publicado guando o devolver.)

O sr. Presidente: — A primeira sessão será na pro-