O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

460 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

ministros de Sua Majestade no estrangeiro pelos mesmos processos que se manifesta em relação a regedores ou administradores do concelho, pergunta quaes os diplomas que determinaram semelhante desconfiança. Receia que para cohonestar o acto praticado se proponham agora reformas das legações do Extremo do Oriente e até nos dêem ali uma representação insufficiente, quando é certo que todas as nações tanto em Pekim como em Tokio, longe de diminuir, estão augmentando o valor da sua representação diplomatica. (Apoiados).

Refere-se ás negociações pendentes com a China, ao tratado de commercio em que os nossos vinhos recebem um tratamento de favor, ao estabelecimento de um consortium em Shangae, aos beneficios que d'ahi poderiam advir ao nosso commercio de exportação, sobretudo de vinhos e azeites.

Cita a situação que o Sr. Batalha de Freitas soubera criar em Tokio, a concessão excepcionalissima feita pela Casa Imperial Japoneza de um terreno no valor superior a 200:000 francos, para construcção da nossa legação.

Terminada a guerra, e só então era possivel fazê-lo, se pensara em estreitar as relações commerciaes com o Japão, que a linha Hambowy America já tocava em Lisboa, que a linha japoneza Ynsene Kasshia viria a tocar tambem n'este nosso porto, o qual estava destinado a ser um entreposto commercial do Japão, não só para a Europa como para o Sul da America; pois todas estas negociações caiam com a passagem á disponibilidade dos chefes de missão que as tinham emprehendido. Mae o Governo abandona sempre as grandes questões e só procura dar-se aspecto de severo moralizador. A virtude que se exbibe deixa de ser virtude. O Sr. Presidente do Conselho parece ter tomado para divisa do Governo o dito de Catharina de Medieis, que tanto cortava, mas o que é certo é que S. Exa. corta e não cose.

Tudo continua cada vez mais descosido.

Seis mezes de Governo liberal e á ingleza teem avolumado a onda dos descontentamentos e criado no paiz uma situação de anarchia de que os tristes acontecimentos do Porto são um terrivel symptoma. (Muitos apoiados).

Nada conhece mais perigoso do que um Governo possesso de uma idiologia exaltada que não se ajuste nem ao tradicionalismo nem ao momento historico que atravesse. (Apoiados).

As raças e os povos teem, como as especies, as suas leis de evolução natural. Cumpre aos Governos conhecer a psychologia dos povos que administram para lhes não applicarem legislações exoticas e inadequadas e não antecipar graus do seu progresso evolutivo. Cita a opinião do republicano Doumer acêrca dos perigos de applicar a um povo de educação civica insufficiente liberdades excessivas, quer de imprensa, quer de associação, e a obrigação que um Estado tinha de se não deixar pôr em cheque por grupos permanentes de cidadãos que conspirassem contra elle. Cita ainda a opinião do mesmo illustre republicano, na qual se estabelece que aos povos latinos modernos se não pode applicar a mesma legislação dos povos anglo-saxões, que estes ultimos são naturalmente disciplinados, ao passo que os primeiros precisam que a lei lhes imponha uma certa violencia.

Mal irá a Portugal e ás instituições monarchicas se o Sr. João Franco continuar a governar á ingleza e a caçar no terreno dos republicanos. Cita o exemplo da monarchia de julho, em França, que quiz ser uma republica sob Governos monarchicos e que gerou uma republica; e á phase do segundo imperio napoleonico, quando affoutamente se lançou a caçar no campo dos republicanos, onde caçou Emilio Olivier e afinal com elle fôra caçado nos desastres de 1870. (Muitos apoiados).

Cita ainda o que se passara no Brasil, onde o Imperio pretendia tambem cercar-se de formas republicanas, que afinal tinham gerado uma republica.

Sempre que as monarchias querem caçar no terreno dos republicanos, são caçadas. As monarchias defendem-se com monarchicos e com leis monarchicas. Não diz ao Sr. João Franco que abandone as cadeiras do poder, mas diz-lhe que abandone as suas idiologias perigosas e que governe como monarchico e como portuguez. (Vozes: — Muito bem, muito bem).

(O orador foi muito cumprimentado pelos Dignos Pares de todos os lados da Camara).

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: — O Digno Par que acabou de falar mandou para a mesa uma representação e pede a sua publicação.

Consultada a Camara, resolveu que a representação fosse publicada.

A proximo sessão é amanhã e a ordem do dia a continuação da que estava dada para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram 5 horas e 35 minutos da tarde.

Dignos Pares presentes na sessão de 3 de dezembro de 1906

Exmos. Srs.: Augusto José da Cunha; Sebastião Custodio de Sousa Telles; Marquezes de Avila e de Bolama, do Lavradio, de Penafiel, de Pombal, de Sousa Holstein; Arcebispo de Calcedonia; Condes: de Arnoso, do Bomfim, de Figueiró, de Lagoaça, de Monsaraz, de Paraty, de Sabugosa, de Villar Secco; Viscondes: de Monte-São, de Tinalhas; Moraes Carvalho, Alexandre Cabral, Pereira de Miranda, Antonio de Azevedo, Eduardo Villaça, Costa e Silva, Santos Viegas, Costa Lobo, Teixeira de Sousa, Telles de Vasconcellos, Campos Henriques, Arthur Hintze Ribeiro, Ayres de Ornellas, Palmeirim, Carlos Maria Eugenio de Almeida, Eduardo José Coelho, Serpa Pimentel, Ernesto Hintze Ribeiro, Veiga Beirão, Coelho de Campos, Dias Costa, Francisco Machado, Francisco de Medeiros, Francisco Maria da Cunha, Almeida Garrett, Baptista de Andrade, Jacinto Candido, João Arroyo, Teixeira de Vasconcellos, Gusmão, Mello e Sousa, Avellar Machado, José de Azevedo, José Dias Ferreira, Moraes Sarmento, José Lobo do Amaral, José Luiz Freire, José de Alpoim, Silveira Vianna, José Vaz de Lacerda, Julio de Vilhena, Luciano Monteiro, Rebello da Silva, Pimentel Pinto, Poças Falcão, Bandeira Coelho, Affonso de Espregueira, Sebastião Dantas Baracho e Wenceslau de Lima.

O Redactor,

FELIX ALVES PEREIRA.