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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 293

que eu disse, o que eu affirmo de modo e que sustento ainda accusando o governo pelo facto de ter elle sido o culpado e causa principal dos tumultos e arruaças do dia 13 do corrente, foi que corria no publico, e era voz geral que entre o governo e o partido republicano havia um pacto, e que estava combinado dar-se lhe uma candidatura por Lisboa. Repetindo-se agora esse boato que corria com insistencia, e que me affirmam ser uma realidade, darei á camara mais pormenores a esse respeito.

Como todos sabem, o liberalissimo governo do partido progressista deixou sem representação o circulo de Lisboa que ficou vago pela elevação ao pariato do sr. Pereira de Miranda, e deixou-o ficar sem representação usando de uma trica pequena e mesquinha, na qual foi connivente a camara dos senhores deputados não declarando a vacatura, e tudo isso se fez por que sabiam que seria eleito um deputado da opposição. É, pois, este um dos circulos, no qual se diz que o governo offerecêra a sua influencia ao candidato republicano em troca dos serviços prestados com as arruaças no meeting de S. Carlos. Exposto singelamente á camara o que eu disse, e a fórma por que me expressei, ficará bem manifesto que a argumentação do digno par não foi muito correcta.

Sirvo-me d'esta expressão muito predilecta do sr. Pereira Dias, para exprimir a minha admiração vendo um luctador da força de s. exa. lançar mão de um meio que não condiz com o seu caracter. O sr. Pereira Dias, para combater um adversario tão humilde como eu, não carece nem de lhe alterar os argumentos, nem de lhe desvirtuai-as palavras; e por isso, repito, o systema seguido pelo digno par não foi muito correcto.

Sr. presidente, o sr. Pereira Dias, continuando o seu variado discurso, contou-nos uma historia passada entre s. exa. e um politico importante, e disse-nos que não ia mais alem na sua narração, porque não podia revelar o que se tinha passado em uma conversação particular, fazendo-me ao mesmo tempo uma allusão muito transparente que, se não era uma censura directa, era pelo menos um modo indirecto de accusar-me; porque, tendo eu atacado o governo, referi-me a factos e acontecimentos que aos olhos de s. exa. parecia que não deviam ser revelados.

Tambem nas suas allusões e no seu modo de argumentar não foi correcto o digno par, porque s. exa. sabe perfeitamente que eu conheço vos deveres de civilidade e cavalheirismo, e não admitto que ninguem me exceda em pontos de honra e de dignidade.

Contente-se qualquer em me igualar, e, portanto, esteja tranquillo o digno par que as minhas revelações não transporão os limites do que é permittido.

Entrei na vida publica puro, e d'ella hei de sair puro.

O que disse, que tanto feriu a susceptibilidade do sr. Pereira Dias, e que torno agora a repetir, é que d'aquellas cadeiras se tem protegido o partido republicano; que antes e depois do partido progressista ter escalado o poder, alguns dos actuaes ministros tinham e continuam a ter relações politicas com esse partido, e que no seio do gabinete ha um ministro que tem um pé na republica e outro na monarchia. O sr. Pereira Dias, que conhece tão bem o passado do seu partido como eu, que não ignora as relações intimas d'esse partido quer na adversidade quer na prosperidade, que sabe igualmente que um dos actuaes ministros se tem manifestado por idéas tão avançadas que os republicanos o consideraram dos seus, não póde na sua consciencia estranhar-me que eu fallasse de ligações, de reuniões, de convites antes e depois do pacto da Granja, quando tudo isto a que eu alludo era já velho e do dominio do publico.

Sr. presidente, parece-me que n'este ponto a susceptibilidade do sr. Pereira Dias, abespinhando-se contra a minha narração, ainda não se manifestou n'esta occasião por um procedimento correcto.

Sr. presidente, eu na minha argumentação não fiz senão a historia de acontecimentos que presenciei, e fazendo essa historia, e narrando factos incontestaveis e incontestados, acautelando o paiz e os poderes publicos de certos perigos, creio que fiz um grande serviço e cumpri o meu dever.

Mas voltando á historia que nos contou o sr. Pereira Dias, a qual pareceu ao sr. visconde de Chancelleiros referir-se a mim, e a um incidente notavel que teve logar nesta camara, o digno par declarou que um homem publico conversando com s. exa. lhe disse que era necessario exercer uma grande pressão sobre certo ministro, porque só pelo medo se continha em respeito e nada fazia!

Parecia que essa historia era uma nova allusão a mim, mas vejo que não, porque s. exa. acaba de affirmar com um aceno de cabeça que não se referia á minha pessoa, e creio que não, pois faço justiça ao sr. Pereira Dias e á maioria d'esta camara, que de certo não consentiriam jamais n'aquellas cadeiras (apontando para as dos ministros) qualquer ministro que não soubesse sustentar o prestigio do poder e a dignidade do homem.

Desde o momento que s. exas. estivessem convencidos de tal, esse ministro teria perdido a sua confiança. A referencia, portanto, não era a mim.

Ha questões que não são para aqui, e por certo s. exas. estão convencidos que esse ministro, logo que saia do poder, dará satisfação da sua pessoa.

O digno par acrescentou que retiraria toda e qualquer palavra que podesse, por algum modo, ferir os membros d'esta casa. Creio que s. exa. tinha em mente os acontecimentos que tiveram logar n'esta camara entre mim e o sr. ministro do reino.

A este respeito digo o que tenho declarado por muitas vezes - eu respeito a entidade do governo, sem que com isso abdique do direito que tenho de tratar qualquer ministro como elle merece.

Tenho mostrado sempre que acato os poderes publicos, sem comtudo deixar de estigmatisar os actos dos ministros que merecem ser vehemente e violentamente estigmatisados; e se n'essa vehemencia e violencia vae alguma phrase que fira a dignidade ou a honra, não do ministro, mas do homem, é uma questão pessoal, que tem de se resolver, não aqui, mas lá fóra, como succede em todos os paizes do mundo.

Quando ha discussões acaloradas, é trivial e facil soltarem-se palavras que offendem, e a solução d'esses aggravos não tem logar nos recintos parlamentares, mas fóra d'elles.

Sobre este ponto não serei mais explicito, e só direi que tenho esperado, e espero ainda que o sr. ministro do reino fóra do poder faça o que a sua honra exige, e não se esqueça que aos aggravos que eu lhe fiz accentuára que a questão não era para aqui.

Tendo respondido por esta fórma ás allusões pessoaes do sr. Pereira Dias, acrescentarei algumas considerações ácerca do discurso do sr. Fernando Vaz, pela muita consideração que me deve este cavalheiro.

A defeza que s. exa. fez do governo parece-me collocal-o em situição mais critica e difficil, pois de toda a sua argumentação não se conclue outra cousa senão que este governo subira ao poder bafejado da aura popular e não soubera aproveitar as circumstancias, e, pela sua fraqueza e inepcia, deixara a questão de fazenda mais aggravada, e mais complicada a sua resolução.

Fallando do meeting que teve logar no theatro de S. Carlos, asseverou que ahi não se tratara da questão de Lourenço Marques, por isso que o partido que tinha promovido esse meeting era o que tinha a responsabilidade d'aquelle tratado.

Sr. presidente, a responsabilidade primordial d'aquelle tratado cabe ao partido regenerador, e essa é grande, porque trouxera para o paiz uma das questões mais serias e mais graves, e em, que mais tarde póde estar compromettida a honra e o brio nacianal, porque a Inglaterra já crê,