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492 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

finanças e não a creação de confrarias politicas, que para nada mais prestam do que para entorpecer e embaraçar a boa administração, com grave prejuizo para a causa publica.

Que no procedimento da Inglaterra e da Australia podia o governo encontrar orientação para fazer alguma cousa de utilidade, na passagem pelo poder, porém a desorientação foi tal, que os factos demonstram a desastrada situação a que somos chegados, de qualquer fórma que esta se aprecie ou commente.

Que elle, orador, crê ter provado á camara e ao paiz, que os saldos positivos desapparecem e só fica claro o augmento da divida fluctuante em 10:000 e tantos contos de réis, a venda dos titulos na posse da fazenda pela quantia de 2:850 contos de réis, e a absorpção do augmento das receitas desde 1892 a 1895 de approximadamente 10:000 contos de réis, sendo tudo isto averiguado nos documentos e dados officiaes, porque outros não tinha elle, orador.

Que a segunda afirmativa do sr. ministro da fazenda no seu relatorio, é que a crise economica quasi não existiu, pois o que tivemos foi uma crise financeira, mas que o illustre ministro era bastante illustrado para saber que dada a crise financeira, esta immediatamente actuava sobre a economia do paiz, e a crise economica manifestava-se desde logo; porem, o sr. ministro não podia escrever no seu relatorio similhante affirmativa, desde que a crise era e é permanente, e para o ser Basta a falta annual dos trigos que é necessario importar.

Que elle, orador, convidava o sr. ministro a dar um passeio pelo Minho, pelas Beiras e pelo Alemtejo, e a ver as difficuldades com que luctam os proprietarios, e ficará convencido não só da existencia da crise, mas do seu aggravamento.

Que o argumento do sr. ministro da fazenda ainda é mais extraordinario, que a sua affirmativa se funda na baixa do deficit commercial no anno de 1894 a 1895, porem o argumento não é verdadeiro, pois que o déficit commercial subiu com a entrada do actual governo para a cifra de 13:000 e tantos contos de réis, e baixou apenas para 11:000 e tantos contes de réis de 1894 a 1895, por causas diversas e principalmente porque escassearam nos nossos mercados differentes artigos, e não foi a baixa produzida pelo desapparecimento da crise, pelo contrario, a crise aggravou-se e apesar de não estarem ainda publicadas as estatisticas, pelos boletins officiaes já se póde bem apreciar o que será o déficit commercial de 1895 a 1896, e o sr. ministro verá que se illudiu para escrever o que escreveu no seu famoso relatorio; porem o sr. ministro necessita informar-se em relação ao que se passa no commercio e em relação á industria, pois que a crise economica nem sequer, se attenuou, quanto mais extinguir-se, e não sabe elle, orador, o que acontecerá no caminho em que as cousas vão.

Que não é só a crise agricola que se apresenta temerosa e assustadora, porque as terras de primeira ordem estão hoje plantadas de vinhas, a producção cresceu muito no ultimo anno e gradualmente ha de augmentar nos annos seguintes, e o que é certo é que os vinhateiros conservam os vinhos porque não poderam vender, sujeitando-se a queimar o vinho, o que é de um grande prejuizo e com grandes sacrificios do proprietario, mas em relação á industria e ao commercio, se o sr. ministro se quizer bem informar, o que é de todo o ponto necessario, ha de conhecer que as encommendas feitas ás fabricas foram em muito pequena escala,, e que estas estão barateando os seus productos, para poderem sustentar os seus operarios, que os negociantes têem os seus armazens cheios de fazendas que chegam para o inverno proximo, nada necessitam, nem encommendar nem comprar, o que desejam é vender e realisar o capital empatado.

Que estando as fabricas a baratearem os seus productos e as casas de commercio cheias de fazendas, e sem poderem realisar o capital empregado, pergunta elle, orador, como é que ha de sustentar-se o commercio e a industria e o que é que se tem feito por parte dos poderes publicos para remediar tão grande mal.

Julgará o sr. ministro, pergunta o orador, que se remedeia o mal com as asseverações imaginarias feitas no seu relatorio, e cuidando esmeradamente se convem que Ton-della faca circulo com Vouzella, que a aldeia de Paio Pires vá para este ou para aquelle circulo eleitoral?!

Que a crise economica está mais aggravada, e que o sr. ministro sabe que ella affecta mais ou menos toda a gente, mas vae com todo o seu peso sobre a classe trabalhadora e pobre, e crê elle, orador, que o homem pobre tem o direito de exigir que os poderes publicos olhem seriamente para a sua situação, e procurem os meios de lhe garantir o seu trabalho facilitando-lhe os meios da sustentação.

Que se o governo se convenceu de que debella o mal ordenando a admissão de operarios pelo ministerio das obras publicas, garantindo-lhes uns salarios para desfazerem edificios, e fazel-os de novo em muito peiores condições do que elles estavam, destruindo abobadas fortissimas que custaram muito dinheiro, e que desafiavam a eternidade, para as substituir pela argamassa, está o governo, na opinião d elle, orador, muito enganado, e pratica por uma fórma que só serve para aggravar a situação, sendo um mau exemplo, má pratica e poderá mesmo chamar-se um desperdicio.

Que em face de tudo isto lhe parece, que a segunda affirmativa do sr. ministro no seu relatorio não é verdadeira, e que a crise economica se aggravou com a administração do actual governo, e tende a augmentar, sem que por parte do governo se pratique qualquer acto que attenue o mal e previna o que poderá vir em virtude da perspectiva medonha com que se apresenta o anno que vae correndo.

A ultima affirmativa a que elle, orador, chamou esplendida, é de que documentos irrefragaveis mostram que a dictadura deu forca e vitalidade aos recursos do thesouro.

Que esta affirmativa é extraordinaria debaixo de todos os pontos de vista; que o governo seguisse a orientação infeliz e desgraçada que se conhece, era emfim uma má comprehensão da situação em que se encontrou, mas conhecido o erro pelos factos, depois de ter caminhado de precipicio em precipicio, gastando o que não devia, e aggravando tudo e a todos que não são seus compadres, vir dizer que a dictadura impossivel e nefasta deu vitalidade aos recursos do thesouro, é um cumulo.

Que os processos do governo eram novos e sem precedentes, e não podiam deixar de dar o que deram com detrimento da causa publica.

Que por certo ninguem se lembrava ao encontrar-se diante de questões difficeis, entrar ousadamente no caminho de perturbar a paz octaviana, que era ò elemento mais necessario para a boa resolução das mesmas questões.

Que aquella affirmativa está no relatorio, como elle orador acabou de ler á camara, mas que é facto tão extraordinario e reprehensivel, que quantas mais vezes a lê menos a acredita.

Que lhes seja permittido dizer, que a orientação do governo devia ser outra, completamente a opposta, aproveitar a paz e socego, congregar todas as forças, pequenas ou grandes, em volta de si, e com ellas seguir na resolução d'essas questões, que não comprehendeu, e que hão as sabendo resolver as aggravou ao ponto em que estão.

Pois alguem de boa fé, exclamou o orador, poderá dizer, que o remedio para resolver uma questão externa, uma questão financeira, ou uma crise economica, é dissolver uma camara que votou ao governo tudo quanto elle entendeu necessario, e lhe prestou todo o seu auxilio, o mais lealmente, rasgar a lei fundamental do estado, publi-