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SESSÃO N.° 38 DE 6 DE DEZEMBRO DE 1906 481

turbios e arruaças. Os operarios devem abster-se d'esse movimento repugnante e compromettedor. Os patrões que encerrarem as suas fabricas serão os unicos responsaveis pelos acontecimentos graves que d'esse movimento possam advir.

Companheiros.— Mais uma vez os dirigentes politicos pensam envolver o operariado em questões que são de todo contrarias aos nossos interesses e ideaes, já pretendendo comprometter-nos em arruaças que só teem por fim satisfazer caprichos e paixões partidarias, já mirando a fins particulares em que jogam interesses e egoismos escandalosos, já alimentando vinganças que mais servem para vilipendiar uma terra que como a Covilhã preza um nome honroso, e tem necessidade de ir na vanguarda do progresso e da illustração attestando principios e ideias que sejam como que um testemunho das suas nobres aspirações.

É, pois, em nome d'esses principios que vimos hoje, no cumprimento de um venerando dever, reprovar e condemnar todos esses vilissimos expedientes politicos que ahi se estão pondo em jogo, aconselhando e pedindo a todos os nossos irmãos do trabalho se afastem e deneguem a cooperar em planos sediciosos, motins ou em outros quaesquer meios que tendam a alimentar paixões partidarias, pois que todos elles, em logar de fomentarem a boa causa do operario, são, pelo contrario, um estorvo e um prejuizo ao nosso bem estar.

Sr. Presidente: veja V. Exa. o que dizem os operarios, que devem ser admirados pela sua grande correcção.

O Sr. Francisco José Machado: — Mostram que teem juizo.

O Orador: — Mas ha mais, e para este ponto eu chamo a attenção do Digno Par o Sr. Baracho.

«Trata-se hoje de subornar o operariado, levando-o a promover arruaças, em que mais uma vez se comprometterá, se amesquinhará, se aviltará, porque vae animar planos e interesses politicos d'aquelles que já por tantas vezes não só o teem hostilizado, perseguido e aviltado, mas que procuram sempre que podem dominá-lo pela fome e pela miseria.

Contra este facto, que representa uma infamia, deve o operariado insurgir-se e assim repellir a imposição indigna e verdadeiramente retrograda.

Companheiros. — Mostrae que a vossa orientação é mais levantada, mais digna, mais honrosa que a d'esses que, possuidos de um egoismo indomavel, procuram lançar-vos nas responsabilidades de um vilissimo acto de servilismo odiento e criminoso.

Dae a essa imposição a reprovação condigna, afastando-vos por completo d'esse movimento que, a effectuar-se, será mais uma vergonha para a Covilhã e para o operariado em geral.

As associações de classe d'esta cidade protestam energicamente contra esse facto, que representa uma das mais torpes indignidades do nosso tempo.

É essa a lei do trabalho que ides reclamai para o Largo de Municipio, ou amordaçar as bayonetas do militarismo provocadas por esses egoistas sem coração?

Lembrae-vos que hoje trabalhaes aqui, amanhã trabalhaes alem; e como quereis então unificar as vossas ideias e todas as aspirações sublimadas que a humanidade deve possuir e prezar, annuindo a um movimento tão incompativel com os vossos interesses e futuras garantias ?

Lembrae-vos que ainda hontem eram elles que vos reprovavam e condemnavam o movimento que levantastes em prol dos vossos interesses, pedindo até a applicação da lei de 13 de fevereiro contra vós; hoje são elles que vos incitam á revolta.

Afastae-vos por isso d'esses arruaceiros que pretendem precipitar-vos n'um abysmo deploravel.

Não queiraes servir de comparsas a todos esses agiotas desalmados que, no intuito de usufruirem interesses particulares, querem acorrentar-vos a uma degradação deprimente e intoleravel.

Se por acaso vos houverdes de insurgir, então levantae-vos contra aquelles que sempre foram e são os vossos maiores exploradores.

Abaixo o servilismo!

Viva a liberdade do operariado covilhanense!»

Quando V. Exa., Sr. Presidente, entender que faltam dez minutos para se entrar na ordem do dia, peço o favor de me avisar, porque não desejo deixar de dizer algumas palavras necessarias sobre um assumpto que reputo capital, por se relacionar com uma questão de moralidade.

Sr. Presidente: tendo sido V. Exa. para commigo dotado de uma amabilidade extrema, espero me desculpará se eu tomar alguns momentos alem da hora.

A projectada manifestação e movimento na Covilhã fez um enorme fiasco. Passados apenas dois dias, as fabricas encerradas reabriram novamente.

O Sr. Presidente: — Em vista dos desejos do Digno Par, peço licença para lhe lembrar que faltam só cinco minutos para se entrar na ordem do dia.

Vozes: — Fale, fale.

O Orador: — Sr. Presidente: tenho de estabelecer um parallelo entre progressistas e regeneradores da Covilhã.

Na penultima situação regeneradora houve uma eleição camararia no prazo normal.

Eu assisti casualmente a esse acto, n'uma assembleia chamada Unhaes da Serra, onde estava força de cavallaria e infantaria.

Mas, como ia dizendo, n'aquella assembleia, alem d'esta força, havia mais de vinte caceteiros, dentro da igreja onde se fazia a eleição.

Depois de entradas quasi todas as listas na urna, e, a um signal convencionado entre os magnates regeneradores, os caceteiros levantaram os paus a fim de estabelecer o panico, e fizeram uma grande desordem no templo.

Entretanto, o presidente da mesa eleitoral, colligada com dois eleitores de grandes capotes, substituiram a urna, que era uma panella de lata, por outra igual, cheia de listas governamentaes.

E, com este roubo, conseguiram vencer a eleição camararia da Covilhã, que ficou chamada da panella de lata.

N'esta celeberrima eleição, tres professores de instrucção primaria, nossos amigos dedicados, deram o seu voto ao partido progressista, como tinham todo o direito.

Apenas decorridos dois dias, estes professores, dos mais dignos do concelho, foram suspensos, accusados .por terem ensinado doutrinas oppostas á religião caiholica.

Passado pouco tempo, sem culpa formada, sem terem sido ouvidos, são transferidos tumultuariamente para terras muito distantes, onde elles foram comer o pão do exilio, para as peores cadeiras que se arranjaram então.

Ali foram conservados, como criminosos, até ao fim da penultima situação regeneradora.

Assim são tratados tres professores, que cumpriram todos os seus deveres, porque eram pobres, humildes, dedicados ás suas crenças, homens de palavra, fazendo-os penar a elles no exilio, e ás suas familias soffrer a fome e a inclemencia.

É facto unico e inacreditavel, Sr. Presidente.

Insisto no assumpto, para, que factos d'estes se não repitam.

O Sr. Presidente: — Tenho a advertir V. Exa. de que deu a hora.

O Orador: — Eu tambem não posso mais, estou cançado, porque falo do coração, e quando se fala do coração fala-se convicto. Este assumpto merece toda a attenção, e reputo-o um dos de maior gravidade. (Apoiados).

Peço a V. Exa. que me reserve a palavra para o primeiro dia de sessão.

ORDEM DO DIA

Continuação da discussão do parecer n.° 9, que incidiu no projecto de lei que tem por fim a ratificação da convenção commercial entre Portugal e a Suissa.

O Sr. Sebastião Baracho: — Começo por agradecer as lisonjeiras referencias que me fez o Digno Par, o Sr. Almeida Garrett. Não o acompanharei, porem, no terreno em que patenteou a sua dedicação pelos seus correligionarios da Covilhã, cuja causa tão bem entregue está, sob o patrocinio do Digno Par.

Posto isto, proseguirei na analyse do projecto em debate, recordando que, segundo o testemunho do Sr. Terra Vianna, a Suissa é um paiz vinicola, cuja producção satisfaz, por metade, ás necessidades d'aquelle povo. A sua população é de 3.200:000 habitantes, consoante a edição de 1903, do Atlas Universal, de Hickmann.

Em presença d'estes dois factores — producção e população — comprehen-