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490 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Conselho) não obsta a que eu cumpra o meu dever n'esta casa do Parlamento.

Falei da questão juridica, acêrca de duas vereações da Covilhã. Os tribunaes decidirão.

Falei da questão do professorado primario.

Disse eu que tres professores de instrucção primaria foram suspensos no tempo do penultimo ministerio regenerador, allegando-se que ensinavam doutrinas oppostas á religão catholica apostolica romana. E depois, sem as devidas formalidades, sem serem ouvidos para dizerem de sua justiça, foram transferidos para longes terras, como para um exilio.

Um d'esses professores, fiel cumpridor de todos os seus deveres, mas espirito meticuloso e apprehensivo, principiou de preocupar-se com a situação deprimente que lhe criaram.

Por um lado a sua imaginação, por outro o clima, principiaram de actuar n'aquelle organismo. Pouco tempo depois, um pequeno tufão fez desaparecer aquella existencia.

Sobre aquella campa apparece uma interrogação.

Eu não vou tratar dos acontecimentos do Porto, mesmo porque outras pessoas mais competentes já o teem tratado, mas o que posso é comparar o que lá se passou com o que se deu na Covilhã a fim de tirar as minhas conclusões. No Porto, em um momento de excitação, houve um ferimento. Foi o bastante para que toda a gente se indignasse e agitasse, em fremito enorme de indignação e de revolta.

Na Covilhã succederam os casos que referi, morre um professor, apparecendo sobre o seu sepulchro uma interrogação, em tinta de fogo.

Mas com este caso tão triste e doloroso, ninguem se impressiona, nem uma palavra merece de desagrado e reprovação.

Esta é que é a boa logica e moralidade.

Sr. Presidente: deixemos esta questão do professorado. A moralidade exigia que se lembrasse esta tristissima questão.

De repente appareceu uma grande baixa barometrica, logo a seguir a borrasca.

Não era de graniso, mas sim de folhas aromaticas de tabaco, que deram em terra com o Governo regenerador.

Logo no inicio da situação progressista, tive a honra de exercer o logar de governador civil de Castello Branco, levado somente por amizade e dedicação.

Sinto que n'este momento não esteja presente o Digno Par Pereira de Miranda, que era então Ministro do Reino; nem o Sr. Conselheiro Luciano de Castro, para dizerem do modo como cumpri os meus deveres.

Trinta dias depois de haver assumido a direcção do districto, deviam effectuar-se as eleições geraes camararias em todo o paiz.

Dava especial cuidado a eleição no concelho da Covilhã.

Não sendo possivel então repetir a celebre escamoteação da panella de lata, os regeneradores covilhanenses empregaram nova estrategia, que esperavam desse resultado n'um concelho cuja povoação tem verdadeiras crenças.

Uma guerra religiosa contra mim, seja na cidade, seja nas aldeias, espalhando que eu e o partido progressista eramos atheus, talvez mesmo mahometanos, devendo todos votar contra nós.

Manda a moralidade publica, que censuremos um tal procedimento em assumpto tão melindroso.

Levantou-se então uma guerra religiosa !

Não é uma questão mui seria e perigosissima, em todos os paizes uma guerra religiosa?

Não hesitaram os regeneradores da Covilhã.

Continuo ligando os assumptos da Covilhã, com similares da cidade do Porto.

Estariam porventura esquecidos do occorrido com o caso Calmon?

Uma questão momentosa!

Não se deve abusar dos principios religiosos para vencer eleições.

Parece que Deus usou do seu castigo para com aquelles que queriam usar de armas tão desleaes.

Apesar d'estes meios tão improprios vencemos a eleição por muitos votos, sem empregar a menor violencia, e de tal modo que nem houve protestos contra a validade da eleição.

Mezes depois novas depressões barometricas se manifestam, seguidas da borrasca politica, produzida pelas leves folhas do tabaco, á qual poude reristir o Ministerio progressista. Em seguida começaram de apparecer e repetir-se graves perturbações magnéticas e electricas, que obrigaram a cair o Governo progressista.

Oito dias depois de assumir o poder o partido regenerador, entra subrepticia e inesperadamente, nos Paços do Concelho da Covilhã, uma commissão administrativa e de syndicancia nomeada pelo Governo, dá voz de prisão ao presidente da camara municipal, toma conta do cofre, ao qual dá immediatamente balanço.

Procedimento insolito, improprio e que só prejudica a quem o pratica.

A moralidade e a justiça manifestaram-se exuberantemente em prol da verdade dos factos.

E na verdade, esta camara municipal progressista, quando tomou posse da gerencia do concelho da Covilhã, não encontrou dinheiro algum, mas sim dividas a pagar. Pois, decorrido pouco mais de um anno, no balanço do cofre dado pela commissão syndicante, appareceram mais de 10 contos de réis de economias, e que eram destinados a principiar um lyceu n'esta cidade tão importante.

Apesar de tudo isto é dissolvido um municipio bem digno e exemplar.

Sr. Presidente: sobre estes incidentes lamentaveis é que requeri a V. Exa. varios documentos a fim de melhor os discutir e apreciar n'esta casa do Parlamento.

Foi esta a causa lamentavel de tres eleições successivas para o municipio covilhanense, effectuadas no limitadissimo prazo de pouco mais de noventa dias, eleições a que já nos referimos no principio do nosso discurso.

Na primeira e segunda eleição venceu o partido regenerador, na terceira, porem, coube a victoria ao partido da concentração liberal, que então se achava, já no poder.

O Governo regenerador havia caido morto por asphyxia, causada pela supposta felicidade do contrato ultimo dos tabacos.

O primoroso talento do Digno Par Sr. Arroyo predissera variados incidentes originados pelo celebre contrato dos Tabacos, mas não annunciara esta morte por asphyxia.

Os acontecimentos de 4 de maio não eram motivo sufficiente para a queda do Ministerio regenerador, como demonstrou o incidente politico discutido nesta casa do Parlamento.

O Sr. Presidente: — Eu tenho a prevenir o Digno Par de que faltam dois minutos para se entrar na ordem do dia.

O Orador: — Eu tinha muito mais que expor á Camara, mas não havendo tempo, dirijo-me ao Sr. Presidente do Conselho, pedindo a S. Exa. que me diga quaes foram as providencias que tomou relativamente ao pleito notavel, suscitado entre duas vereações eleitas para o municipio da Covilhã, ambas as quaes pretendem tomar posse e assumir a direcção dos negocios d'este concelho.

Ainda desejo ouvir o Sr. Presidente do Conselho acêrca, de um ponto restricto que se relaciona com os acontecimentos do Porto.

Em consequencia dos tumultos occorridos na Rua de Santa Catharina, ficou um homem ferido n'uma espádua, com uma bala, indicando o ferimento a direcção de cima para baixo.

D'esta circumstancia, pretendem tirar muitas pessoas a illação de que o