O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 311

os furores de uma facção agitadora, a independencia d'esse senado estava prestes a expirar entre os applausos e por obra d'essa mesma facção.

Quando, em tempos modernos, as assembléas legislativas da França deixavam desfilar no recinto das suas deliberações os executores dos sinistros mandados da communa, essas assembléas não tardariam a ser victimas da propria tyrannia, que elles tinham favoneado.

Eu sei que n'estes grandiosos quadros mal se ajusta a mesquinhez d'esta nossa actualidade e dos seus homens. Mas a historia, para que seja proficua, deve ser estudada no seu espirito e não nos seus pormenores, que se não tornam a repetir. E, por grandes os pygmeus que sejam os actores da scena politica, as desgraças que elles têem o poder de acarretar sobre o seu paiz são igualmente destruidoras.

Vós invocastes em vosso auxilio o espirito demagogico. Mas sabei que a demagogia é uma força inconsciente e bruta, e mais terrivel que a propria dynamite. Hontem serviu-vos para derribar o vosso adversario. Ámanhã derrocará o proprio tecto que nos abriga. Vós sujeitastes a acção serena dos poderes publicos ao tripudiar das turbas. Mas, lembrae-vos do apologo da escriptura: As arvores beneficas, as que mantêem e protegem a vida, pozeram-se sob o dominio do espinheiro alvar; e do espinheiro partiu o incendio que abrazou a oliveira e a figueira, o cedro do Libano, e as cearas da planicie.

Vós deturpastes, para os vossos fins, a natureza do corpo politico que a constituição propoz especialmente á manutenção da ordem e da legalidade. E nem sequer vos embaraçou o pensamento de que essa instituição, desmentindo a sua origem, o seu caracter, a sua missão e as suas tradições, viesse a padecer as consequencias da vossa insaciavel cobiça do poder.

Eis, sr. presidente, o preço que custou ao paiz a felicidade de possuirmos aquelle ministerio.

Agora que vão elles fazer? Não o sabem elles dizer. Mas sei-o eu.

Titeres do sr. Pontes, hão de obedecer ao seu manejo.

O sr. ministro da guerra já declarou que approvava o additamento feito por esse digno par no projecto de lei relativo á promoção dos coroneis; o que augmenta consideravelmente as despezas do estado.

Tudo o mais será pelo mesmo teor.

O que vão elles fazer? Vão fabricar inscripções de divida publica.

De caminho montarão a machina eleitoral, farão surgir a divida fluctuante, extincta pelo governo passado, tornarão o mais extensivo e farto que ser possa o banquete do orçamento, e assentarão praça e soldo a todos os vozeadores importunos que o solicitarem.

O sr. Fontes foi o organisador, e é o sustentador do governo. Que póde este, pois, fazer senão trilhar o mesmo caminho que esse digno par percorreu durante a sua larga estada no poder?

Essa calamitosa experiencia está ainda na memoria de todos. E o saber que vae ella de novo ser repetida quasi que me tentou a proferir o mesmo brado que, ha quatro seculos, foi o grito de guerra de um celebre reformador - Povo, abri os olhos e fechae a bolsa.

Não o faço, porém, sr. presidente. Porque eu não tenho por costume seguir na opposição o procedimento indecoroso d'aquelles que a todos os obstaculos se soccorrem para impedir o levantamento dos impostos necessarios para pagar as despezas do estado, e as despezas provenientes dos esbanjamentos que elles proprios praticaram.

Mas, se a experiencia do passado deve ser a nossa conselheira para o futuro, se os males padecidos devem ser a nossa salvaguarda contra as occorrencias que os originaram, eu, em presença d'aquelle ministerio e do seu inspirador, direi aos contribuintes - Abri os olhos, se não quereis esvasiar a bolsa.