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352 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

agora principalmente, aggravadas com as consequencias da guerra.

Nos documentos officiaes sobre este assumpto. vê-se que a divida do Transvaal em 1378 era de £ 286,524, na qual se inclue o emprestimo hollandez de 1876 na importancia de £89,851.

Foi levantado este emprestimo peio presidente Burgers, para construir o caminho de ferro de Lourenço Marques, segundo o tratado que fizeramos com elle em 1875; porém, nada mais se praticou em relação a esta obra, alem da compra de uma parte do material, que ficou desde então abandonado em Flushing e Lourenço Marques! e que por deterioração diminuiu bastante do valor primitivo como é natural.

Do emprestimo, na importancia de £89:851, despenderam tão sómente no material £ 71:813, sendo a differença absorvida em commissões e outras despezas! isto é, 20 por cento da quantia realisada perdeu-se!!

Foi este emprestimo emittido era obrigações de 1:000 florins cada uma e ao juro de 5 por cento, para serem amortisadas em tiragens annuaes, que deviam terminar em 1901. O credito dos boers era tão mau, que depois de gasto um anno em se realisar a operação, só 1:976 obrigações foram, tomadas. Em vez de £300:000, valor total do emprestimo, só obtiveram a quantia que ficou indicada. As obrigações foram passadas com 12 por cento abaixo do par, e esta taxa ainda assim sustentou-se em virtude de operações pouco regulares, que não preciso descrever para provar o que pretendo. Emfim, os negociadores do emprestimo, não tendo dinheiro para o pagamento do juro do primeiro coupon, foram levantar uma nova quantia, a qual realisaram vendendo mais 50 obrigações a 52 ½ por cento do seu valor nominal! Para fazerem o pagamento de £2:260 contrahiu a republica uma divida de £ 4:580!

Isto pelo que respeita ao credito dos boers.

Mas, qual será a despeza do caminho de ferro desde os montes Libombos, que formam a fronteira portugueza, até Pretoria? A despeza, diz mr. Farrell que será de £ 2.105:000, apesar de todas as condições do terreno que o caminho atravessa serem o mais favoraveis possivel.

Do trafico calculado por este engenheiro e de iodo o ponto favoravel para animar os capitalistas, se abatermos as despezas de exploração, que Farrell apenas computa era 50 por cento, mas que eu, fundado em muito serias auctoridades, farei subir ainda acima de 60, e o juro do capital a 6 por cento, ficará um déficit superior a £ 56:000, o qual só poderá ser coberto quando o Transvaal receba na sua alfandega as £ 119:000 que o Natal hoje arrecada, e continuará arrecadando naturalmente, se se fizer o caminho de ferro de Durban, sobre a mais baixa avaliação das importações do Transvaal na importancia de £ 850:000.

Só os espiritos obsecados é que deixarão de comprehender esta precaria situação, e o nobre ministro dos negocios estrangeiros ha de reconhecer as rasões que eu tenho para lhe pedir que aproveite as cordialissimas relações em que está com a Inglaterra para reclamar d’ella, roto o tratado de Lourenço Marques, que não se construa o caminho de ferro de Durban a Pretoria.

De nós não fallarei. Suo precisos 1.330:030$000 réis para se assentar a linha de Lourenço Marques aos, Libombos, segundo o projecto do engenheiro Machado. E ao governo portuguez que compete vir dizer-nos d’onde é que sairá esta quantia, e os dinheiros para as obras de porto, cuja despeza não está calculada.

Sr. presidente: Diga-mo v. exa. na realidade se não foi um grande triumpho para nós o adiamento do tratado de Lourenço Marques, principalmente depois que ficámos sabendo que os boers, precisando levantar antes da guerra £ 300:000, apenas alcançaram 71:813; e agora, depois da guerra, para fazerem comnosco o caminho de ferro, carecem possuir para cima de dois milhões de libras esterlinas, sem poderem contar com a alfandega do Natal, que perderão infalivelmente, se os inglezes construirem n’este ultimo ponto o caminho de forro do Durban.

E nós, sr. presidente, não devemos exultar, que fique a bahia de Lourenço Marques como estava até aqui? Não será de grande proveito que permaneça esta colonia, no estado em que se encontrava outra, que cedemos á Inglaterra pelo tratado de 23 de junho de 1661, em dote da nossa infante D. Catharina que desposou Carlos II? Dirão que sim os desvairados. Eu, porém, sustentarei o contrario.

Bombaim, que hoje é uma cidade de um milhão de habitantes, tinha, quando isto succedeu, uma população de 10:000 almas unicamente! Hoje é a cidade mais commercial do novo imperio das indias, e para o homem estudioso tão interessante, se não mais que a de Paris, porque ali se encontram redivivos os restos venerandos das grandes civilisações do passado. Vem a proposito dizermos duas palavras sobre aquella formosissima ilha, quando a ella apportou lord Marlborough em 1662 com uma frota, de cinco vasos de guerra e quinhentos soldados sob o cominando de sir Abraham Shipman.

Iam os inglezes tomar possa da ilha, a qual posse se não póde logo realisar, por ter recusado o governador portuguez fazer a entrega de Salsete e Caranjá.

Lord Marlborough regressou a Inglaterra, mas Sir Abraham e com elle muitos soldados que se acolheram á ilha de Angediva, emquanto se resolvia a contenda, morreram ali. Carlos II recusou firmar a convenção que Mr. Cooke, secretario de Shipman, assignara na india, acceitando sómente a ilha de Bombaim, e pediu-nos cem mil libras de indemnisação pelas perdas eme a expedição soffrêra.

Por fim nós cedemos Bombaim, Salsete e Tanná, mas o rei, que pelo tratado de aliança e casamento, promettêra trazer no coração as cousas e conveniencias de Portugal e de todos os seus dominios, e defendel-os com as suas maiores forças assim, por mar como por terra, como a mesma Inglaterra, julgando Bombaim uma possessão sem utilidade — Bombaim, que saía das nossas mãos — entregou-a em 1608 á companhia das indias, pela renda annual de 10 libras em oiro! Tambem as rendas de Bombaim nessa epocha, não passavam de 75:000 serafins!

Lourenço Marques, que será a Bombaim da Africa oriental, está ainda em nosso poder, e nós cuidamos que perder o ensejo de tornar aquella bahia o primeiro emporio africano é um acto patriotico que nos ennobrece.

Estava compromettida a soberania de Portugal com o presente tratado! Pois eu sustento que só a decadencia e a miseria podem esbulhar os portuguezes das suas heróicas conquistas.

A independencia do Transvaal, fallemos com toda a franqueza, não me assegure, inteiramente a construcção do caminho de ferro de Lourenço Marques. Bem sei o que podem responder-me os adversarios do tratado com a Inglaterra.

O conhecimento que hoje ha do paiz dos boers, a sympathia da Hollanda por elles e outras circumstancias politicas e economicas, virão auxiliar a republica Notae, porém, que o credito se não transforma de repente, assim como se não reformam de repente o caracter e os costumes de um povo. O egoismo do capital é por tal modo barbaro, que se não deixa enternecer com promessas. O caminho de ferro de sociedade com os boers é possivel que só muito tarde se consiga realisar, embora elles comprehendam que o porto natural do Transvaal é Lourenço Marques.

Aconselha a prudencia, que, depois do adiamente do tratado com os inglezes, nos asseguremos, se estes, vistas as boas relações em que estão comnosco, se promptificam a não construir o caminho de ferro de Durban. Desprezando-se este conselho, ficámos expostos a perder & questão com os boers e com os inglezes.

Se o adiamento foi ajustado com a Inglaterra n’estes termos, nada tenho que observar. Mas, se o adiamento