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364 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

de Boadilla para a linha da Beira Alta, e tinha aberto outro concurso, como ha de agora mandar o contrario?

Alem d'isso, eu tenho sustentado, e sustentarei ainda, que o caminho de ferro do Douro, desde que foi concedida a linha da Beira Alta, e é construido nas condições em que o está sendo o caminho de ferro do Douro, não poderá ser mais do que um caminho de ferro caseiro, porque, alem da sua directriz ser mais extensa, não tem sido construido com as condições de linha internacional.

Esta asserção fil-a aqui por mais de uma vez, e demonstrei a sua exactidão com argumentos fundados em documentos irrefragaveis, que não foram combatidos nem na imprensa nem no parlamento.

Esta asserção affirmo-a ainda diante do sr. conde do Casal Ribeiro, e provoco-o para a discussão.

A minha opinião firma-se sobretudo no trabalho, estudo e auctoridade dos engenheiros hespanhoes, que sabem perfeitamente o que convem aos interesses do seu paiz. Dos seus relatorios não se podia tirar outra conclusão senão que a linha da Beira Alta prejudicaria completamente a do Douro.

Como disse, mostrei aqui a verdade d'esta conclusão, e creio que o fiz até á evidencia.

O governo hespanhol tem feito todos os esforços para que no plano dos caminhos de ferro do seu paiz se attenda sempre aos interesses internacionaes, commerciaes, de politica interna e estrategicos; não prescinde que as linhas passem sempre por debaixo das muralhas de alguma praça forte, dominadas pela sua artilheria, e n'esta ordem de idéas e conformidade de intuitos não concorda em entroncamento de qualquer linha, posto que não satisfaça ás vistas do seu plano e ao pensamento do seu systema. Se os nossos governos tivessem planos e systemas, não se veriam agora n'essas difficuldades.

Assim, o ramal que entroncar com o caminho de ferro da Beira Alta ha de passar por baixo das muralhas de Ciudad Rodrigo, e se o entroncamento com a linha do Douro for em Boadiila, os hespanhoes não o consentirão sem que elle satisfaça áquellas condições, isto é, sem que o ramal que liga a linha do Douro passe tambem sob a artilheria de Ciudad Rodrigo, o que alongará consideravelmente aquelle ramal, e tornará a linha do Douro em circumstancias ainda mais inferiores do que áquellas em que já se acha era relação á da Beira Alta.

Sr. presidente, não illudam o paiz nem illudam o Porto. Apresentem-lhe a verdade tal qual ella é.

A construcção da linha ferrea da Beira Alta e feita em condições taes que desde o momento em que o governo transacto concedeu áquella empreza a construcção do ramal da Figueira deu o golpe de morte na linha do Douro. Empenharam-se todos os partidos á porfia, e entre elles os proprios deputados do Porto, para favorecerem a Beira Alta, votando-lhe um caminho nas condições de linha internacional, ferindo mortalmente o Porto; e agora que as suas faltas e leviandades já não têem remedio, desfazem-se em queixumes e lamentações, e dirigem supplicas á nação vizinha, que não tem a mais leve culpa da sua precipitação e leveza de pensar.

Se no nosso paiz se olhasse mais seriamente para os interesses geraes, ter-se-ia apenas contratado com a Hespanha a ligação da linha de Salamanca com o caminho de ferro do Douro e a Beira Alta; dar-se-lhe-ia um que fosse entroncar com qualquer ponto do do Douro. Não se fez isto, votou-se o caminho de ferro da Beira Alta como linha internacional e o mais curto para a Europa; agora soffram-lhe as consequencias.

Aquella construcção foi um grande erro de que são responsaveis todos os partidos.

Não quero com isto, como tambem já declarei, irrogar censura a ninguem, porque respeito as intenções de todos; mas a verdade é preciso que se patenteie. Todos que de fenderam e votaram a concessão da linha da Beira Alta, não olharam para a questão pelo lado que verdadeiramente devia ser encarada, direi até que não a estudaram como devia ser. Infelizmente, n'estes assumptos de linhas ferreas, desde o principio, tem-se seguido um systema mal combinado, ou melhor direi, não tem havido systema, não se tem seguido um plano geral previamente estudado e combinado com a maior reflexão, quando aliás a primeira cousa que havia a fazer era encarregar os homens competentes da formar esse plano, de modo que a nossa rede de caminhos da ferro fosse subordinada a um systema perfeitamente racional e estivesse de accordo com as conveniencias mais serias do paiz, e satisfizesse a todas as suas necessidades internacionaes, commerciaes, de politica interna e estrategicas, e attendendo a todos estes interesses e necessidades procurasse vantajosamente a sua ligação com as linhas do paiz vizinho. D'esta falta de plano tem já resultado grandes inconvenientes e prejuizos para o paiz.

O caminho de ferro que nos liga á Hespanha em Badajoz foi o primeiro erro. Esta linha ferrea devia entroncar com a do sul, prolongando-se até Extremoz. A construcção do ramal de Caceres foi erro ainda muito maior, porque annullou as vantagens da linha de leste passar sob a artilheria de Elvas, e preferiu a linha do valle do Tejo, a verdadeira linha internacional, e a mais curta para Madrid e para a Europa.

Esta linha do valle do Tejo para Madrid encurta o trajecto nada mais, nada menos do que 300 kilometros. As linhas internacionaes que nos ponham mais em contacto com a Europa, áquellas que mais encurtem as distancias, parece de primeira intuição que deviam ser as preferidas quando se tratasse da construcção de linhas de tal ordem. Pois entre nós posso affirmar que se tem seguido o contrario.

Não quero alongar mais as minhas considerações a tal respeito, e concluo repetindo que no meu espirito não se desvaneceu ainda a opinião que n'elle se formou, de que a questão do entroncamento da linha do Douro com o ramal hespanhol, ainda que resolvida pelo modo por que o acaba de ser, não satisfaz aos interesses da cidade do Porto, nem póde satisfazer; attenua, é certo, um pouco a situação em que esta se achava; mas o mal vem de mais longe, vem de se ter concedido a linha da Beira Alta, que está nas condições de ser linha internacional, emquanto a do Douro não o póde já ser.

Sr. presidente, mas como Portugal hoje só appella para que lhe seja concedido o entroncamento com a linha do Douro em Boadilla, mas como o Perto se contenta com este triste remedio, eu recommendo ao governo portuguez que procure, por um convenio especial com o reino vizinho, regular esta questão. Recommendo ao governo portuguez esta conveniencia e necessidade politica, sem querer duvidar da palavra empenhada pelo governo hespanhol, mas sim por que as vicissitudes politicas no reino vizinho, como no nosso, dão-se frequentes vezes, succedendo-se os ministros; e eu receio que á linha do Douro possa vir a acontecer-lhe o mesmo que á do valle do Tejo. que, tendo sido votada e garantida por duas leis em Portugal e Hespanha, hoje está posta de parte.

O sr. Conde de Castro: - Sr. presidente, tendo chamado muito especialmente a attenção do governo, n'uma das ultimas sessões, sobre os inconvenientes que resultariam do procedimento do governo da nação vizinha na questão do entroncamento do caminho de ferro de Salamanca com o caminho de ferro do Douro, devo agora declarar, visto que parece estarem aplanadas todas as difficuldades que o governo actual procedeu em harmonia com os precedentes que lhe tinha deixado o seu antecessor, e que é muito digno de louvor o modo por que se houve o nosso ministro na côrte de Madrid.

Congratulo-me, portanto, com o paiz pela solução que teve um negocio de tanta magnitude. É certo que as na-