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receu-me que o pequeno discurso que proferi n'esta camará, porque não tinha idéa de que se tratava esta matéria, excitou,a susceptibilidade dos meus collegas, e portanto tenho que, dar agora uma explicação. Não tive nem o minimo pensamento de fazer aceusações a ninguém, nem alludir a uma pessoa para mim tão respeitável. Não direi agora, senão* que, entre as verdades que disse o sr. Costa Lobo, ha uma' que devo confirmar, e vem, a, ser—a, sinceridade da minha, palavra, e não menos o muito respeito que tenho pelas., idéas do digno,par; porque, alem, de outras ligações,, ha,a de eu.ter sido,seu companheiro, quando aprendi com s. ex.a a exercer a.caridade,, a respeito da qual nada ensinei a s. ex.a, pelo contrario, aprendi.

Ao sr. Joaquim Filippe de Soure escuso de dizer que sou seu amigo sincero, porque o sabe, mas s. ex.a fez-me o convite — para que eu tratasse d'este objecto, não pelo lado sentimental; convite que não posso aceitar, pois s. ex.a bem sabe que eu não sou jurisconsulto, e tive a sinceridade de declarar á camará que as minhas habilitações somente chegam para ser um consciencioso jurado.

O meu costume n'estes assumptos é ouvir a discussão attentamente, e consultar depois as pessoas que me parecem competentes. Foi exactamente o que fiz; e'na consulta achei que uns me diziam sim, e outros não; e os que achava mais prudentes diziam = fortes motivos de duvida podem haver =. Reduzido assim unicamente á minha rasão, perguntei a mim mesmo o que faria eu n'este caso? Pedir ao governo uma resolução prudente e franca.

Ora como eu, não n'esta casa, mas na camará dos srs. deputados, ouvi a um dos srs. ministros dizer =que muitas vezes se lhes indicava o que não deviam fazer, mas nem uma o que deviam = eu peço licença para lhe dizer aqui 0 que eu faria sendo governo. Chegaria ás camarás e diria =honrados deputados e dignos pares do reino; eu, governo, tenho duvidas sobre a possibilidade da existência d'esta. instituição em Portugal, preciso lei; e no meu entender convém a conservação do instituto, porque eu, como governo, desejo dar a mais lai'ga concessão ao espirito de caridade; porque eu, governo,- desejo ver melhorada a educação do povo, desejo ver moralisados os criminosos que povoam as cadeias, desejo ver os hospitaes servidos por gente que só cuida dos doentes por espirito de caridade; porque eu, governo, desejo dedicar-me aos hospitaes quanto possivel, e não quero pôr condições á caridade particular, que hoje n'esta capital tem já estabelecido um hospital, e tem outro annunciado, que é o de Sua Magestade a Imperatriz na ilha da Madeira; por consequência eu, governo, não tendo meios no orçamento, e precisando armar-me para esta questão social, apresentava-me ao parlamento e dizia —eu não posso aceitar senão os meios em que acredito, porque esta é uma questão social que só se resolve tendo estes meios ao meu alcance. = Dizia-me o parlamento =não vo-los concedo.= Eu respondia pois = resigno o meu logar. =

Ora, sr. presidente, eu não estava instruído na questão juridica, e por isso, como já disse, informei-me, consultei, e a final fiquei muito mais confuso do que antes. Mas ha uma parte que me faz maiè impressão. O primeiro ataque a esta instituição não foi pelo lado da legalidade, foi pelo lado da capacidade dos individuos que compunham esta corporação. Não repetirei nem o que se disse nem o que se fez n'essa occasião, porque, como eu já tive a honra de expor, não é minha intenção offender ninguém, e não faço senão defender-me; assim como também já disse que preferia antes, em questões d'estas, ser victima do que algoz. Sr. presidente, não está no meu programma dizer como foi feita esta manobra, ella foi publica. Houve a segunda epocha: então foi a questão do ensino, do gravíssimo transtorno que podia vir a esta sociedade, dando-lhe o ensino religioso simultaneamente. Esta questão tratou-se largamente por os homens competentes, mas não progrediu. Veio a terceira epocha, e esta é a da legalidade. N'esta épocha, sr. presidente, appareceu uma representação, que uns dizem que ¦é do povo, outros que não (não me pertence agora fazer apreciações dos representantes); n'esta representação se diz = quando a letra não seja clara, o espirito de certo que é=. Ora todos estes acontecimentos, a certeza de que as irmãs da caridade portuguezas, em uma grande parte da sua existência, -tinham obedecido ao seu geral em Paris, sem que por isso tivessem passado por nenhum incommodo, sem que ihes tivessem imposto nenhuma condição, não se perguntando nunca o que ellas eram, a quem estavam sujeitas, a certeza, digo, de que obedeciam ao seu geral em,Paris, tanto que ouvi dizer a uma d'ellas, e das mais respeitáveis (creio que era a irmã Joaquina) «até 1838 fui irmã da caridade, de 1838 para cá pôde ser que tenha tido caridade, mas não tenho pertencido á congregação, seguindo a regra de S. Vicente de Paulo.» Isto, sr. presidente, para um homem leigo como eu, todos esses documentos, o decreto de 1819 e o de 1851, a certeza de que estas pessoas estavam obedecendo, os homens de estado deixando sempre passar, os homens competentes pedindo o que?... O que elles deviam saber, porque não é permittido pedir sem saber o que; todos estes acontecimentos, digo, fizeram em mim uma gravissima impressão; por consequência-eu pediria ao governo que viesse á estação competente apresentar a questão para ser tratada como ó conveniente que ella o seja; venha, venham v. ex;as com' os seus amigos, inimigos do instituto; venham todos a quem compete entrar n'este julgamento, e eu não tenho receio de que triumphè uma má causa. Eu mesmo imagino que tenho milhares de.argumentos a.produzir, porque n'essa occasião não hei de só'dizer o que < se precisa, mas hei de dizer também o. que. falta ao meu paiz: hei. de fazer: mais, hei de pedir á camará que não resolva sem nomear, uma commissão de inquérito, que não só,veja.o estado da„educação dos filhos do povo, mas veja,como se dá.na instituição das irmãs da. caridade.

Sinto que não esteja presente o sr. ministro da marinha, que me pareceu que no outro dia tinha feito uma allusão a outros tempos, dizendo: também foste já victima da calumnia !

Oh, sr. presidente! Calumnias todos nós temos passado por ellas, aqui mesmo n'esta camará; mas eu respondo a isto, dentro do programma que fiz n'esta questão. Direi simplesmente: se esse homem que foi meu general se levantasse, e com aquella voz de trovão com que nos mandava á victoria, perguntasse: «que tendes feito?» Eu diria: sr., ainda hoje vive intacto no meu peito o amor que tenho por Vossa Magestade! Senhor, os objectos que vos eram mais caros, têem sido constantemente o objecto das minhas homenagens, e do meu respeito; as suas virtudes sublimes que fizeram a felicidade da vossa vida, são hoje a consolação dos afflictos! Senhor, lembra-me com prazer os exemplos religiosos que me destes, segui-os, cumpri com verdade e constância todos os preceitos que manda a santa igreja; a liberdade porque eu combati, quando vos fui servir, fostes vós quem m'a inspirou!.. Quem me guiou ao combate, foi esse amor frenético que ainda hoje tenho á liberdade, que é boa, quando ella é para todos, mas qnando é para um só grupo, ou para uma só idéa, então não presta, não serve para nada!

Leram-se na mesa os requerimentos do sr. marquez de Vallada, que são ão teor seguinte:

«Requeiro que sejam pedidos pela secretaria d'esta camará ; ao ministério da justiça:

O mappa da criminalidade desde o anno de 1826 inclusive, até o anno de 1860 inclusive, no qual se declare quaes e quantos foram julgados, qual a pena que soffreram, quantos e quaes foram perdoados, quantos absolvidos, e quaes os crimes, os auctores dos quaes não foram presos nem julgados.

Para o ministério do reino:

Os documentos que teve em vista para ordenar a pesquiza feita na typographia universal. Para o ministero da fazenda:

Os documentos que têem relação com o crime de contrabando perpetrado na alfandega do Porto, na remessa destes documentos comprehendo-se as informações das auctoridades, as ordens do governo e quaesquer outras que possam illustrar a questão.

Camara das pares do reino, em 5 de julho de 1961. = O par do reino, Marquez ãe Vallaãa. »

Postos á votação estes requerimentos foram approvaãos e manãaram-se expeãir.

O sr. Marquez ãe Vallaãa: — Sr. presidente, sendo a questão que se tem ventilado bastante grave, e tendo nós tido sessão todos os dias, eu pedia a v. ex.a quizesse determinar que a seguinte sessão tenha logar na segunda-feirâ, porque todos os dias é impossivel, mesmo pela necessidade que ha de estudar a matéria. Pedia isto a v. ex.a não havendo inconveniente.

O sr. Presiãente: — Eu não posso decidir simplesmente por mim; portanto consultarei a camará.

Vozes:—Nào é preciso: isso compete ao sr. presidente. O sr. Presidente: — Os dignos prres têem ouvido a indicação do sr. marquez de Vallada; s. ex.* pede que amanhã não haja sessão, porque assenta que a matéria ainda necessita de estudo.

O sr. Ministro ãa Justiça (Moraes Carvalho): — Parece-me que a indicação do digno par seria muito aceitável, e talvez fosse mais conveniente que não ficasse a sessão para segunda-feira, mas para a terça, porque está em discussão na camará dos srs. deputados a resposta ao discurso da coroa, e talvez os ministros não possam vir aqui não só amanhã, mas mesmo na segunda-feira, entretanto v. ex.a determinará o que julgar conveniente.

O sr. Presiãente: — Bem: n'estas circumstancias ficará a sessão para terça-felra, e será a ordem do dia a continuação da mesma. Está levantada a sessão. Eram quasi cinco horas e meia ãa tarde

Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão

do dia 5 de julho de 1861 Os srs. Visconde de Laborim: Marquezes de Ficalho, das Minas, de Niza, de Vallada; Condes das Alcáçovas, do Bomfim, de Mello, de Penamacor, de Peniche, da Ponte, do Rio Maior, do Sobral; Bispo de Beja; Viscondes de Algés, de Balsemão, de Castellões, de Castro, de Fonte Arcada, de Fornos de Algodres, de Sá da Bandeira; Barões das La-rangeiras, de Pernes, da Vargem da Ordem, de Foscoa; Mello e Carvalho, Mello e Saldanha, Sequeira Pinto, Ferrão, Costa Lobo, Margiochi, Moraes Pessanha, Aguiar, Soure, Larcher, Braamcamp, Pinto Bastos, Silva Costa, Reis e Vasconcellos, José Lourenço da Luz, Baldy, Silva Sanches, Castello Branco, Franzini, Brito do Rio.