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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 619

tario = Alfredo Filgueiras da Rocha Peixoto, deputado secretario.

O sr. Larcher: - Na qualidade de signatario d'este parecer, desejo declarar a v. exa. e á camara, que o autographo d'elle estava tambem assignado pelo sr. conde do Casal Ribeiro, e que se agora, depois de impresso, não se encontra o nome de s. exa. entre os dos outros individuos das commissões, só por erro da imprensa é que se póde explicar. Certamente se omittiu ali esta tão importante assignatura.

O sr. Presidente: - A camara ficou sciente da declaração do digno par.

Está o parecer em discussão na generalidade.

O sr. Costa Lobo: - Eu, sr. presidente, não approvo este projecto de lei. Elle tem por fim crear no curso superior de letras uma cadeira de sãoskrito e outra de linguistica.

Em Napoles é frequente encontrar um lazarone esfarrapado, mas com um magnifico collete de velludo ricamente bordado. Assim, e a esta imagem, pretende este projecto de lei vestir o nosso paiz.

Nós temos necessidades de instrucção superior muito mais urgentes que a do sãoskrito, embora o conhecimento d'essa lingua seja de utilidade.

Assim, é uma cousa vergonhosa que em Portugal não haja um curso de litteratura, como preparatorio obrigado para os estudos superiores.

Não se póde dar esse nome ao curso de latim e rhetorica que se estuda nos lyceus. O estudo do latim é um mero estudo de traducção. Quanto á rhetorica, como é notorio, consiste essa instrucção em saber de cór o respectivo compendio; mas, se perguntarem aos estudantes o que aquillo quer dizer, não o sabem. A maior parte dos nossos bachareis ficam sem estudar nem mesmo conhecer o Camões, Barros, Lucena, Vieira, e os demais, porque a lingua portugueza e a litteratura são cousas que se não ensinam, e se alguem quer conhecer os classicos, ha de estudal-os particularmente.

Ora, em logar de estabelecer e dotar convenientemente cadeiras de litteratura nacional, vamos crear cadeiras de sãoskrito e de philologia!

Estes estudos são de certo valiosos; mas quem sentir em si vocação para elles póde recorrer ás obras que os mestres têem publicado em Allemanha, Franca e Inglaterra. Essas obras não foram escriptas só para aquelles paizes, mas para o mundo inteiro. Quem pretende dedicar-se ao sãoskrito e ao estudo das linguas comparadas, naturalmente conhece o inglez, francez e allemão. Na republica das letras o trabalho não enriquece sómente a região na qual elle se exerce. Não é como uma fabrica de algodão ou uma mina de hulha. Tanta utilidade se póde tirar dos escriptos de Max Muller em Lisboa como em Oxford.

Mas, sr. presidente, se nós queremos dar á Europa eao mundo culto um contingente para o a diantamento dos altos estudos, devemos, n'esse caso, applicarmo-nos aquelles trabalhos intellectuaes que especialmente nos incumbem, e em que poderemos dar alguma novidade. D'esta maneira beneficiaremos as letras em geral, e, directamente, as do nosso paiz.

O sãoskrito é uma lingua morta ha milhares de annos, e que está para as linguas aryanas como o grego actualmente para as linguas de filiação latina. A elle, portanto, nenhuma obrigação nos liga, que nos seja directa e particular. Quanto mais importante, pois, não seria entre nós o estudo do arabe? O estudo d'esta lingua serviria a esclarecer as origens immediatas da nossa historia e as da lingua portugueza. É, alem d'isto, indispensavel para o conhecimento, da historia do imperio portuguez no oriente. Ora, n'este estudo, é tal a nossa pobreza que, se não me engano, os nossos dois unicos arabistas são os frades João de Sousa e Santo Antonio Moura. E creio que o seu conhecimento do arabe era muito superficial. Em todo o caso deixaram pouco.

Quanto mais importante ainda não seria para a nossa historia oriental o conhecimento da lingua persica, que é a lingua internacional e de geral uso na India, pela fórma do francez na Europa? Digo mais, ser-nos-ía muito mais proveitoso para esta especie de investigações historicas o conhecimento da lingua tamil, malabar, malaya, etc., porque estas são as linguas que fallavam os homens com quem trataram Vasco da Grama, Albuquerque e seus successores. E da ignorancia d'estas linguas resulta em parte que a nossa historia da India é uma completa phantasmagoria.

Portanto, voto contra o projecto de crear cadeiras de sãoskrito e de linguistica, das quaes nenhum proveito se póde esperar.

Dir-me-hão que este projecto tem por fim proteger dois homens de letras que se dedicaram aquelles estudos.

A isso não me opponho eu. Pelo contrario, acho isso muito bem entendido. A fórma é que eu julgo que deveria ser differente. Deveriam ser commissionados, por exemplo, para estudar as linguas vivas do norte da India, as quaes são transformações do sãoskrito, com applicação á nossa historia oriental, ou de estudar as origens da lingua portugueza, ou de algum trabalho similhante, e de escreverem sobre esse assumpto. Isso serviria á nossa historia patria, que labora em tão mesquinha penuria. Mas o que me parece fóra de proposito, é fazer do sãoskrito e da philologia elementos de instrucção superior, quando na instrucção superior ha deficiencias que importaria preencher sem mais demora, e que se não preenchem por falta de meios pecuniarios.

São estas as observações que n'este momento me occorrem sobre o projecto em discussão, o qual só agora me foi distribuido. Estou convencido que, se tivesse tido tempo para fixar n'elle mais demoradamente a minha attenção, poderia ainda corroborar tudo quanto acabo de expender.

O sr. Ministro da Fazenda (Serpa Pimentel): - O digno par, que acaba de fallar, combateu este projecto considerando-o como um objecto de luxo, em relação a outras necessidades da instrucção publica a que lhe parece deveriamos de preferencia occorrer. Peço licença para dizer que este modo de combater um projecto de lei podia-nos levar muito longe. Se tivessemos de examinar, quando se trata de discutir uma proposta de lei, se uma ou outra medida deveria ter a preferencia, isso havia de trazer certamente um grave embaraço para a marcha dos negocios publicos e ao andamento das discussões parlamentares.

Quando se trata de desenvolver a instrucção, que tanto carece de ser melhorada entre nós, quando se quer dar um passo mais n'esse caminho em que se não tem progredido demasiado, parece-me que uma despeza pequena como é esta, não póde ser motivo para a camara recusar a sua approvação a um projecto que tende ao progresso do ensino publico.

Disse tambem o digno par que não conhecia o professor que dirigia a cadeira de sãoskrito, mas que lhe constava ser um principiante, que se não póde comparar aos orientalistas de primeira força; mas assim é que quasi sempre se começa.

S. exa. sabe muito bem que a escola de pontes e calçadas de París é hoje talvez a primeira escola do mundo no seu genero. Pois os primeiros professores que teve eram fracos constructores, e a maior parte d'elles nem mesmo podia ter este nome, porque nenhuma pratica tinham da sua arte.

Esta escola havia, de começar por alguma cousa; começâmos pelo unico homem que temos habilitado para dar principio a estes trabalhos.

Acrescentou ainda o digno par que quem quer saber o resultado dos trabalhos e estudos feitos sobre a materia que constitue esta disciplina e para que se creou a cadeira de que falla o projecto, tem as obras escriptas na Allemanha,