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EM CONSEQUENCIA DA RESOLUÇÃO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO EM SESSÃO DE 6 DE JUNHO, SE PUBLICA A SEGUINTE REPRESENTAÇÃO, APRESENTADA NA MESMA SESSÃO PELO DIGNO PAR CONDE DE THOMAR.

Dignos Pares do Reino. — A Associação Industrial do Porto, silenciosa até hoje no meio da grande lucta em que se acham empenhadas muitas das principaes intelligencias da nação, sobre as medidas financeiras do Governo, teve sempre em vista aguardar que a discussão viesse esclarecer o paiz, e habilita-lo a pronunciar-se prò ou contra a opportunidade da adopção das mesmas medidas, depois de bem avaliadas as suas consequencias, e relações.

Posto que desde logo depositasse pouca confiança na utilidade dos meios propostos para as levar a effeito, lisonjeava-se esta Associação, de ver que entre os portuguezes começasse a raiar uma esperança tão animadora, como a que inspirava o pensamento primordial do Governo, que tinha em vista estreitar as relações dos povos por meio do estabelecimento das vias ferreas em Portugal.

Porém, senhores, por grandes que fossem os desejos, e aspirações desta Associação, deviam elles ceder diante dos inconvenientes que a sua realisação accarretaria para o paiz.

Demonstrou-se, dentro e fóra do Parlamento, que os meios propostos compromettiam o futuro da nação, e a sua dignidade, com sacrificios que excedem os recursos dos contribuintes, e todas as forças productivas das industrias nacionaes, e por isso em certo estado dos debates, já esta Associação julgava desnecessario e superfluo representar contra um systema tão precario. De todos os angulos do paiz se levantava um brado de desapprovação, authorisada com milhares de votos em representações, discursos e outras manifestações publicas; sendo para notar, no meio de tudo, que não apparecesse uma só dessas representações a favor dos meios com que se pretende dotar o paiz de vias ferreas.

Tal póde dizer-se a situação actual, que mesmo o silencio rigorosamente interpretado, lhes é desfavoravel.

Uma multidão de calamidades, porque tem passado Portugal nos ultimos tempos, e de que está sendo e será indefinidamente victima a agricultura, a industria e o commercio, é de bastante momento para que nos determinemos a parar em nossas ambições. Nas provincias principalmente, tem a miseria e nudez aggredido classes em nutro tempo muito abastadas, levando assim o desalento á maior parte da população; e vós o tendes observado nos queixumes e reclamações dos povos, sobre assumptos bem estranhos á questão dos projectos do Governo. Se Lisboa e Porto ainda dão algum signal de vida, é isso devido a que são os dois centros principaes do movimento da industria e commercio, mas não póde julgar-se por ellas

0 resto da nação. Além de que o mal tambem se centralisa para produzir depois maiores estragos, e mais temíveis: bastará para prova considerar as doenças insólitas, que ha cinco annos vão atacando successivamente as principaes plantas da nossa agricultura, e a propria humanidade; a parda irregularidade das estações, e de tempestades aturadissimas, que tem assolado os campos e muitas povoações.

A nada disto porém se attendeu quando se admittiram á discussão na Camara dos Srs. Deputados, os mencionados projectos; e hoje achamo-nos ameaçados das suas, consequencias e resultados, que se previram nas esclarecidas discussões a que deram logar.

Assim prejudicadas as representações aquella Camara, perante a qual a nação esgotara todos os meios legaes, que tinha para repellir os encargos que sobre ella iam pezar, resta-lhe dirigir-se aos Dignos Pares po Reino e ao Chefe do Estado, ultimo termo do direito de petição.

Para vós portanto, appella hoje a Associação Industrial do Porto, abstendo-se de maior desenvolvimento porque lh'o não permitte a falta de conhecimentos, que de certo as vossas luzes lhe hão de supprir.

Limita-se a testimunhar que o povo portuguez é impotente, para supportar os immensos sacrificios que se lhe impõem, e ninguem póde calcular até que ponto subirá o descontentamento geral da nação.

Não vai longe a época, em que medidas analogas foram causa ou pretexto de que se lançou mão para uma sublevação assustadora, cujos resultados se tornaram, como em todas as dissenções politicas, desastrosíssimas para Portugal.

Scenas tão deploraveis, não devem mais repetir-se entre os portuguezes. É do interesse e honra de todos que ellas terminem para sempre, imponham-se muito embora grandes sacrificios para o conseguir.

Poupai-nos portanto, Senhores, a mais sofrimentos, fazendo sobrestar na discussão dos mencionados projectos. A nação tem dado provas exuberantes de que não quer, não approva, rejeita as medidas do Governo não sympathisa com ellas.

É possivel que não prejudiquem, podem até ser boas; mas tambem é certo que não póde ter boa acceitação o beneficio forçado.

Na actualidade, não prommettem á nação vantagem alguma, que não seja obscurecida por penosissimos encargos ou prejuizos, com que absolutamente não póde, e sob o peso dos quaes tem infallivelmente de succumbir.

Por isso esta Associação — P. aos Dignos Pares do Reino, se dignem rejeitar os projectos financeiros ultimamente apresentados, e já em parte discutidos na Camara dos Srs. Deputados.

Porto e casa da Associação Industrial do Porto,

1 de Junho de 1856. = Manoel Joaquim Machado, vice-Presidente = Clemente Ribeiro de Carvalho, Secretario = Antonio da Silva Pereira Magalhães = José Joaquim Guimarães Junior = Joaquim Antonio de Pinna = José da Fonseca Nabinho — Raymundo Joaquim Martins = Manoel Custodio Moreira = Antonio Joaquim Martins.

Rectificação. — A representação dos cidadãos de Castello Branco, que no Diario n.º 136 a pag. 798, se diz apresentada pelo Digno Par, Conde de Thomar, foi apresentada pelo Digno Par, Tavares Proença.