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N.º 61

SESSÃO DE 25 DE ABRIL DE 1879

Presidencia do exmo. sr. Duque d'Avila e de Bolama

Secretarios - os dignos pares

Visconde de Soares Franco
Eduardo Montufar Barreiros

Ás duas horas e um quarto da tarde, sendo presentes vinte e dois dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Lida a acta da sessão, precedente, julgou-se approvada na conformidade do regimento, por não haver reclamação em contrario.

Mencionou-se a seguinte

Correspondencia

Um officio da presidencia da camara municipal de Belem, convidando todos os dignos pares a assistirem a um Te Deum, que a referida camara resolveu mandar celebrar na igreja parochial de Nossa Senhora da Ajuda no dia 27 do corrente pelas onze horas da manhã, em acção de graças pelo feliz restabelecimento de Sua Magestade a Rainha.

(Estava presente o sr. ministro dos negocios estrangeiros.)

O sr. Presidente: - Pelo officio que acaba de se ler, os dignos pares vêem que a camara municipal do concelho de Belem julgou dever mandar celebrar, no proximo domingo, 27 do corrente, um solemne Te Deum em acção de graças pelas melhoras de Sua Magestade a Rainha, e convida os membros d'esta casa a assistirem a esta solemnidade.

Portanto, os dignos pares ficam prevenidos para comparecerem, os que poderem, no dia 27 do corrente, ás onze horas da manhã, na igreja parochial de Nossa Senhora da Ajuda.

O sr. Carlos Bento: - Sr. presidente, na outra casa do parlamento apresentou-se uma representação a respeito da situação em que se acha o theatro nacional de declamação.

Eu supponho, sr. presidente, que ao paiz, que subsidia dois theatros de canto italiano, não será muito facil fazer acceitar o facto de não subsidiar, nem exiguamente, o theatro nacional.

De todas as economias que se decretaram em outra epocha a unica que ainda subsiste é a que diz respeito ao theatro nacional.

Estou persuadido que o sr. ministro do reino ha de concordar que, desde que podemos desafogadamente entregar ao fomento o desenvolvimento do paiz, não lhe póde ser indifferente o desenvolvimento litterario.

Todos nós sabemos que não se obtiveram ultimamente grandes triumphos por parte de uma nação importante senão porque á sua litteratura se imprimiu um caracter individual.

Eu desejo interpellar o sr. ministro do reino a este respeito.

S. exa. já n'outra occasião nomeou uma commissão para se occupar d'este assumpto.

Creio que o sr. conde do Casal Ribeiro pertenceu a esta commissão, á qual julgo que, pelas urgencias das circumstancias financeiras, o governo incumbiu que apresentasse um plano para a reforma do theatro, sem que o estado, pela sua parte, concorresse para isso com um real sequer.

Então começava-se um systema de rigorosa economia, que eu aprecio muito dentro dos limites do possivel.

Em todas as nações, em que ha subsidios para theatros, como, por exemplo, em França, o subsidio para o theatro de canto tem um caracter de nacionalidade pelo que diz respeito aos artistas.

Entre nós tem um caracter estrangeiro, e eu, ainda que prefiro o canto italiano ao canto portuguez, e peço perdão ao melindre nacional, comtudo entendo que se justifica mais um subsidio á arte dramatica nacional, do que a um theatro de canto estrangeiro.

Não quero com isto combater a dotação do theatro de canto; entretanto desejo fazer bem sensivel que quando se subsidiam dois theatros de canto, não se explica muito que a litteratura dramatica não tenha a menor protecção.

Em Portugal canta-se em italiano, em francez, em portuguez e em hespanhol, mas não se protege a declamação, a arte dramatica.

Ha paizes onde á litteratura se dão subsidios que até estão marcados no orçamento, como, por exemplo, em Inglaterra em que ha um poeta laureado que tem £ 1:000 esterlinas consignadas no orçamento, que é o sr. Tennason.

Nós não precisamos de poetas no orçamento, basta haver poesia em larga escala no mesmo documento. Não digo, pois, que vamos encher o orçamento de poetas; mas entendo conveniente interpellar o sr. ministro do reino a respeito das circumstancias especiaes em que se acha o nosso theatro nacional. S. exa. tem um caracter litterario que lhe faz honra, e espero que, quando tornar a occupar as funcções do seu cargo, ou o sr. presidente do conselho, se a interinidade se demorar, não terá duvida, um ou outro, de responder á interpellação que tenciono dirigir sobre este ponto.

Se não protegemos o desenvolvimento litterario do paiz, nem por isso deixámos de imitar as grandes nações nas suas maiores despezas.

Emquanto entre nós o subsidio para a bibliotheca nacional chega apenas para encadernar as obras, em Inglaterra eleva-se a 30:000 libras o subsidio destinado á livraria de Londres, que já possue mais de um milhão de volumes.

Sr. presidente, deixando já indicado o sentido em que tenciono realisar a minha interpellação, comprazo-me de ter fallado na presença de uma pessoa tão illustrada (e isto dito sem cumprimento) como o sr. ministro dos negocios estrangeiros, que de certo não considerará superfluidade chamar a attenção do seu collega do reino sobre este assumpto.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Andrade Corvo): - Sr. presidente, não me proponho a responder a uma interpellação que me não é dirigida, mas como o digno par apresentou uma certa ordem de reflexões, a camara me permittirá que eu diga algumas palavras.

Não é minha intenção, repito, responder á interpellação, e, por consequencia, não posso comprometter opinião sobre a representação que foi dirigida á camara dos senhores deputados. Limitar-me-hei a dizer que o subsidio aos theatros de canto representa uma manifestação da civilisação, e que por esse motivo se subsidia um theatro na capital e outro

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