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Sessão de :ll de Março de 1914

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Ora, positivamente, César Cantu não ó um jesuíta.

Eu sei que há quem tenha opiniões sinceras contrárias a esta, e eu respeitei sempre todas as opiniões com a característica da sinceridade; mas. também sei que é por snobismo que muitos não querem ver o que se1 passa nos povos mais adiantados, quanto a, relações entre as igrejas e o Estado, julgando ser revelação dum espírito forte e modernamente organizado M negação preconcebida dos teísmos, em qualquer das suas concepções.

E por isso que muita gente se obstina em não reconhecer às confissões religiosas os mesmos direitos e aos seus adeptos o mesmo respeito, que com toda a generosidade concede a organizações incomparavelmente menos benéficas c a entidades indiscutivelmente menos sinceras e prestimosas.

Os resultados deste critério, acanhado e estreito, estão bem patentes.

Em quanto em outros povos, que se prezam de civilizados, sé aproveitam as confissões religiosas como importantes forças sociais, em Po.rti.igal levanta-se um conflito—não há dúvida nenhuma—contra aquela religião, que maior número de adeptos possui.

j Como isto contrasta com o que se passa na maioria das nações, na França,, por exemplo, onde a corrente religiosa até economicamente é aproveitada! Haja vista o que sucede com as célebres peregrinações a Lourdes que, se por um lado satis-iazem as aspirações místicas dos crentes, por outro lado também constituem uma fonte de receita, que a França aproveita e que só lucros oferece a esse povo trabalhador.

E preciso notai1 que eu não pretendo, na questão de relações entre as igrejas e o Estado, de forma alguma, que o poder civil esteja subordinado ao poder eclcsisásti-co, corno estava eni tempos que não voltam mais.

Não quero também o sistema concorda-tário, que vigorou no constitucionalismo. Todos sabem quanto a baixa política abusou dessa situação, mais ou menos dúbia, e quanto, para evitar postcrgação de direitos, os crentes e, duma maneira especial, os ministros da religião católica tantas vexes se desviaram da esfera das suas atribuições próprias, intrometendo-se em

negócios que nenhum prestígio podiam dar à sua alta missão de evangelizadores.
Eu não quero uma religião oficial, por uma razão simples : é porque sei que muitos dos meus concidadãos tem princípios diferentes daqueles que eu professo, e muitos até prescindem de tudo quanto respeita à religião.
Estão no seu direito.
Eu quero a separação pura, como a desejava em França monsenhor de Huhst, que dizia o seguinte:
«A separação dar-nos há a dignidade e a independência, permitirá reconstituir uni episcopado forte, um clero apostólico e retomar de novo, era condições laboriosas, mas finalmente fecundas, a evangelização da França».
Eu quero a separação, como a preco-nisava .Briand, na Câmara francesa, quando dizia-:
«A lei deve conferir ao cidadão a faculdade de exprimir, com toda a independência, as. suas crenças religiosas pelas manifestações exteriores, que são o culto, e o Estado deve assegurá-la; se a lei a não desse, seria uma lei má, uma lei de perseguição». »
E, nestes termos, que eu quero a Separação do Estado das Igrejas.
O programa do velho Partido Republi-cano, do velho e glorioso Partido Republicano, de J891, consignava, como um dos seus princípios basilares, a Separação do Estado das Igrejas. E esse princípio não repugnou à monarquia, aos liberais, até; não repugnou a vários crentes, como espíritos justos e imparciais. Porque, os espíritos justos, assim como não querem que imponham crenças à força e que os obriguem a concorrer, por qualquer forma, para aquelas que n:í'o tem. assim também não podem querer-—porque, então, deixariam de ser justas — impor as suas aos outros ou que, contra vontade, para a sustentação e propaganda delas contribuam.