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Sessão de 16 de Dezembro de 1918 16

rios, para simplesmente olharmos ao interesse nacional. (Apoiados).

Em Belém, certo dia, disse-me o Sr. Dr. Sidónio Pais que porventura a sua morte tam ansiada por seus inimigos serviria ainda ao país, porque seria mais um motivo para todos se capacitarem da necessidade de se unirem para salvarem a Pátria!

Compreendi estas palavras de S. Exa. e quero explicá-las.

Dizia-mo o Sr. Dr. Sidónio Pais que se êle, muitas vezes, com a sua simples presença à frente dos negócios públicos, tinha porventura obstado, para os espíritos facciosos que menos o compreendiam e que, cegos pelo ódio pessoal, não se integravam na sua grande obra de ressurgimento nacional, a que a pacificação da família portuguesa se realizasse, como era mester, decerto as suas intenções seriam inteiramente compreendidas depois da sua morte e os seus próprios inimigos não lhe negariam a justiça de reconhecerem que o sou espírito estava animado duma fé suprema nos destino da Pátria e sempre preocupado com a idea de unificar a nação no sentimento disciplinador do interesse colectivo!

Ora eu esporo, Sr. Presidente, que neste momento, não simplesmente os socialistas aqui representados pelo Sr. João de Castro, mas tambêm todos os outros indivíduos que se dizem organizados em partidos políticos, façam enfim justiça às intenções do Sr. Presidente Dr. Sidónio Pais tam barbaramente assassinado na noite lúgubre de 14 de Dezembro! Para isso será necessário que principiem por repudiar energicamente o atentado contra êle cometido por um miserável!

Eu espero essa atitude dos partidos chamados históricos, porque ela neste momento reveste-se duma importância considerável visto que nós precisamos de saber, antes de tudo, quais são aqueles que não têm sequer a coragem de condenar um facto que é o maior opróbio que podia ter caído sôbre a Pátria Portuguesa!

Até hoje, Sr. Presidente, com grande mágoa minha e com extraordinário pasmo, não vi que essas associações e êsses partidos que estão sob a suspeita de que efectivamente são cúmplices morais do atentado contra o Sr. Dr. Sidónio Pais (Apoiados), se apressassem a reúnir-se e que os directórios dêsses partidos fossem convocados para repelirem, em face do País e da Europa, êsse facto que é o maior crime que neste momento se poderia cometer contra a Pátria.

Desculpe-me V. Exa., Sr. Presidente, a exaltação com que estou falando; trabalhei com o Sr. Dr. Sidónio Pais como seu grande amigo; e, por isso, ao vê-lo para sempre desaparecido, a minha indignação não tem limites!

Quando o Dr. Sidónio Pais me convidou para sobraçar a pasta da Justiça expressei-lhe as dúvidas que tinha em satisfazer o seu desejo, dadas as nossas profundas divergências políticas.

"Acompanhe-me, - respondeu-me S. Exa. - como português e como amigo".

Nobres palavras! Nobilíssimo exemplo!

Por isso, quando ontem fui ao Paço de Belém e tive ocasião de, com as lagrimas nos olhos, beijar a mão do Grande Morto logo ali formei a resolução de vir a esta Câmara, onde nem sequer tinha tenção de tomar assento, porque sou anti parlamentarista, não para carpir retóricamente o Presidente-Mártir, mas para proferir a palavra que aí ficou, cheia de sinceridade e de indignação e para intimar todos os que estão ou podem vir a cair sob a suspeita de serem cúmplices de assassinos, a que, ao menos venham fazer declaração imediata de que o atontado contra o Dr. Sidónio Pais os indigna e envergonha como portugueses!

Sr. Presidente: quando do assassinato de D. Carlos I e de seu filho D. Luís Filipe, houve um homem que não deixou, na Câmara Alta, de reclamar que se fizesse justiça contra os criminosos e inteira luz sôbre o inquérito.

Foi a nobre figura do Conde de Arnoso.

Estou certo de que os Srs. Deputados que me escutam não deixarão, emquanto justiça não for feita, de a exigir com energia. Mas se isso não acontecer, eu, como amigo dedicado e lial do Dr. Sidónio Pais, empenhar-me hei, tal como outrora o nobre Condo de Arnoso, em relembrar, a cada momento, que é necessário que justiça inteira seja feita agora, até que o último responsável do atentado contra o Dr. Sidónio Pais seja justiçado e o país tenha conhecido toda a verdade