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18 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Dias da Silva (em negócio urgente): - A minoria socialista neste momento, como sempre, fala em nome do povo trabalhador, daquele que trabalha de cérebro ou de braço. Mas não sabe a minoria socialista se fala para um govêrno já gasto se para um govêrno tam novo que mio tivesse ainda tempo de organizar o seu plano de govêrno.

O momento que atravessamos é um momento de realizações e não de paliativos!

A indústria nacional como antes da guerra! É como se não existisse. A missão dum govêrno burguês é levantar a indústria ligando-a à alta finança!

Interrupção de vários Srs. Deputados.

O Orador: - E absolutamente necessário que o capital se ligue à indústria!

Novas interrupções de vários Srs. Deputados.

O Orador: - Como pode um operário sustentar a sua família com o salário que hoje ganha e que em média não excede 1$50?

E se isto é assim, se o operário não ganha para comer, como se pode admitir que êsses mesmos operários, exaustos do energia por falta de alimentação, tenham de trabalhar como forçados, 10, 12 e 14 horas por dia?

Nestas condições como se pode admitir que havendo uma lei das 8, horas de trabalho não se cumpra?

Dessa lei ri-se a indústria não a cumprindo.

Pode S. Exa. dizer que ignora o que se passa na província, o que não se pode admitir é que ignore o que se passa em Lisboa onde essa lei é constatemente desrespeitada porque o próprio Govêrno é cúmplice, porque até hoje não se têm interessado pelo seu cumprimento, como se não têm interessado pelo desenvolvimento da indústria, porque não se tem interessado para que duma vez para sempre termine a escravatura branca que existe neste País.

Está presente um membro da Associação Industrial Portuguesa e estou convencido de que S. Exa. tambêm não será capaz de contestar o direito que assiste à classe trabalhadora em exigir o cumprimento da lei das oito horas.

Interrupção do Sr. Deputado Aboim Inglês que não se ouviu.

O Orador: - Ainda hoje não vivo do Estado; ainda hoje tenho onde possa empregar a minha actividade.

Sr. Presidente: é necessário que o Govêrno fale claramente e duma vez para sempre porque o Govêrno pode ter a certeza que neste momento não há socialistas, não há anarquistas, não há sindicalistas, há somente uma entidade: a classe trabalhadora, que está resolvida a defender-se dos ataques que consciente ou inconscientemente lhe sejam dirigidos da parte dos dirigentes do País, e para obrigar ao cumprimento da lei pode contar comigo nesta casa parlamentar como fora dela.

Não se pode admitir que a toda a hora, a todo e momento essa lei seja desrespeitada. A lei tem de se cumprir.

Tenho dito.

O Sr. Sá Cardoso (Presidente do Ministério e Ministro do Interior): - Sr. Presidente: ouvi a exaltada oração que acaba do fazer o Sr. Deputado Dias da Silva.

Fico sciente de que tenho de contar com S. Exa. aqui na rua. Quanto à parte que só refere a defrontar-se aqui comigo, pode S. Exa. estar certo que me encontrará sempre no meu pôsto; na rua francamente não me encontrará pela frente mas se S. Exa. vier para a rua revolucionáriamente em defesa das classes trabalhadoras encontrará de parte do Govêrno a mesma energia ou maior que aquela que S. Exa. despender nessa defesa.

Para fazer vingar e discutir reivindicações não há necessidade de recorrer a meios revolucionários.

O Sr. Augusto Dias da Silva: - O que desejo simplesmente é o cumprimento da lei.

O Orador: - Defendendo o cumprimento da lei, encontramo-nos no mesmo campo.

S. Exa. não pode provar que eu não tenha feito a diligência para cumprir à risca a lei das 8 horas de trabalho. Tenho dado ordens terminantes nesse sentido para todo o País.

A lei têm cousas que dificilmente se podem cumprir, que dificilmente se podem executar, mas, o que posso garantir é que