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Diário da Câmara dos Deputada

Em 1882 voltou-se na rebentação da Praia de S. Jacinto um barco com 35 homens de tripulação, que foram todos salvos, graças à decisão e intrepidez do Gabriel Anca, que imediatamente lançou outro barco à água e os recolheu, apesar da violência do mar. ,

Em 1892, tendo saído da Costa Nova, para o mar, com bom tempo, governando um barco de pesca de xávega, com 37 homens - de tripulação, foi surpreendido por um violentíssimo temporal de SW. - Após longas, horas de luta cino o tempo e mar, tendo os remadores as mãos ensanguentadas, e caindo todos de fadiga, tendo reconhecido que não podia arribar a ^Leixões, porque se achava, esgotada a energia da sua tripulação, conseguiu reanimá-la com o exemplo do seu inalterável sangue frio, e, num supremo esforço, conduziu o seu barco a varar na praia de S. Jacinto, sem perder um único homem.

Este facto, presenciado por centenas de pessoas, dominadas por uma profunda emoção, ficou na memória de toda a população de Aveiro, consagrado como um milagre de audácia e de aptidão profissional.

Gabriel Anca é condecorado com a medalha de ouro de filantropia e generosidade e com mais duas medalhas de prata da mesma classe.

Pela carta de lei de 4 de Abril de 1907, publicada a p. 1004 do Diário do Governo n.° 75, de 6 do referido mês, foi-lhe concedida a pensão do Tesouro, de 12$000 réis mensais.

Ultimamente a Comissão Central do Instituto de Socorros a Náufragos, condoída das precárias circunstâncias em que está vivendo o arrais Anca, concedeu-lhe o subsídio mensal de 12$, a título provisório, porquanto os limitados recursos desta instituição não podem suportar por muito tempo esse encargo.

São portanto apenas 24$ mensais, os únicos recursos que Gabriel Anca está. recebendo, com os quais não pode, nas actuais circunstâncias de carestia de vida,, garantir a subsistência de sua família, que está passando duras privações;

Urge, por isso, que seja decretada uma providência legislativa que, levando um pouco de conforto ao lar do benemérito pescador, vlhe suavise as amarguras dos últimos dias da existência, para que ele

possa até os derradeiros momentos bem-dizer a Pátria, que o não esqueceu e se honra de o contar no número dos seus filhos dilectos.

Para rematar, desejo ainda relatar à Câmara o seguinte facto, também comu nicado pela Capitania de Aveiro, e que bem demonstra a nobre e nira independência de carácter de Gabriel Anca:

Em 1888 o Rei D. Luís I visitou a cidade de Aveiro, e tendo-lhe sido apresentado o arrais Anca, pretendeu o monarca manifestar-lhe a sua benevolência, com a promessa de uma pensão de 30$000 réis inonsais. • •

Gabriel Anca recusou tal recompensa, declarando que nada queria, porque podia trabalhar e lhe parecia mal, em tais condições, receber uma pensão.

Nestes termos, tenho a honra de submeter à vossa esclarecida apreciação a seguinte proposta de lei:

Artigo 1.° E elevada para 1003 mensais a pensão concedida ao arrais Gabriel Anca, pela carta de lei de 4 de Abril de 1907.

Art. 2.° Fica revogada a legislação em contrário.

Ministério da Marinha, 21 de Abril de 1921.— O Ministro da Marinha, Fernando Brederode.

O Presidente: generalidade. •

Está em discussão na

O Sr. João Salema: — Sr. Presidente: dou o meu voto a este parecer, convencido de que cumpro um dever e pratico um acto de toda a justiça, porquanto sou filho do distrito de Aveiro. Trata-se realmente de galardoar os serviços de um homem que durante toda a vida praticou o bem, arriscando a própria vida em defesa da alheia e que neste momento está a braços com a miséria. Este parecer vai ele-• var a pensão que já possuía G-abriel AnçU.

O orador não reviu.

Foi aprovado o artigo 1.° com a emenda da comissão.

Foi aprovado o artigo 2.°

O Sr. Carlos Pereira: — Psço que seja consultada a Câmara, sobre se dispensa a leitura da última redacção.