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Sessão de 23 de Novembro de 1914

para nós sombria, o meu critério sôbre qual devera ser a orientação governativa e nacional em política externa e ante a luta pavorosa e colossal que de Agosto para cá se tem estado a pelejar.

Estreitamente aliados e mais do que nunca aliados da Inglaterra.

Com ela a vitória e com ela a derrota; com ela a glória e com ela o infortúnio. E acrescentei então que a neutralidade de Portugal era um sonho, que nem mesmo se podia dizer um belo sonho.

E que previa que numa luta em que jogavam a sua situação mundial, e não simplesmente a europeia, a Alemanha e a Inglaterra, da qual éramos e somos aliados, era fatal que soaria a hora pavorosamente trágica em que sangue português se houvesse de verter, se não na Europa, na África, onde a dementada fúria e ambição germânicas não deixariam de nos criar toda a espécie de dificuldades e de nos agredir deslial e traçoeiramente.

Não quero discutir, nesta hora, decerto a mais grave da vida nacional de há um século para cá, o uso que o Govêrno há feito da autorização votada, pela qual o Parlamento lhe pôs nas mãos, inteiramente, a pedido dele, os destinos, a honra" e a vida nacional.

E calo toda a minha legítima curiosidade, que é tambêm meu direito, de conhecer todas as negociações havidas e quaisquer notas trocadas entre o Govêrno e os Govêrnos estrangeiros, nomeadamente o Govêrno Inglês.

Apraz-me acreditar que o Govêrno tem envidado todos os esforços de que é capaz para zelar a honra e promover a prosperidade e defesa nacional, e, bem assim, que a nota por êle há pouco lida e redigida de acôrdo com o Govêrno Inglês, é corolário lógico e o resultado natural e espontâneo dos entendimentos e negociações entre os dois Govêrnos. E se alguns erros tem sido cometidos e se o tempo se há perdido para dar à nação o máximo expoente da sua fôrça e às nossas colónias as necessárias condições de defesa e de luta, quero tambêm acreditar que nem dêsses erros, nem dessa perda, se poderá dizer que nenhuma eternidade repara a perda de um minuto.

Só quere apreciar a situação tal como ela se encontra.

Na África, principalmente na África Ocidental, os alemães invadiram violenta e traiçoeiramente o nosso território, derramando o sangue de oficiais e soldados portugueses e assassinando alguns, sem que a mais ligeira explicação fôsse dada. O estado de guerra foi assim brutalmente declarado, e não há senão que aceitá-lo e enviar, com a possível urgência, porêm, não pelo processo de conta-gotas, ridículo, dispendiosíssimo e ineficaz, os reforços que sejam precisos para defender e firmar a integridade do nosso domínio colonial e vingar a afronta recebida.

Na África, a Inglaterra é obrigada a lutar contra o alemão para defesa das suas colónias. Pela aliança a que ela nos prende e pela amizade e solidariedade de interêsses que aí entre ela e nós existem, dúvida alguma tenho em votar autorização ao Govêrno para a nossa intervenção militar aí, ao lado da Inglaterra, contra a Alemanha.

Mas a nobre e grande Inglaterra, nossa aliada tambêm, e aí com ingente esforço e admirável e heróico denodo, batalha na terra da cavalheirosa França e no solo sagrado da sublime e heróica Bélgica pela liberdade, pelo direito e pela civilização ocidental, contra a fúria do desvairado militarismo teutónico e a ambição torva e incomensurável de um dementado pan-germanismo que não hesitou em rasgar vandálicamente as páginas iluminadas da própria cultura alemã e arrojar o povo alemão para o crime mais hediondo e a mais pavorosa hecatombe que há memória.

Podem os tratados conhecidos da nossa aliança com a Inglaterra suscitar justificadas dúvidas sôbre a nossa obrigação de intervir com a modéstia dos nossos recursos militares na luta travada na Europa.

Mas a excepcional gravidade da hora presente, a grandeza e importância dos interêsses que ela envolve, os deveres que nos impendem para com a geração de amanhã, não se compadecem com a rigidez literal dos textos dos tratados. E a nota lida há pouco, redigida de acôrdo com o Govêrno Inglês, sugere que a nossa intervenção, se se der na Europa, ao lado da Inglaterra, pode rasgar para a nossa vida futura horizontes mais largos e iluminados, e acaso é ela o prenúncio dêsse provir mais confortante duma aliança mais definida e íntima e de mais completa garantia para Portugal.

Confrange decerto a alma e corta o co-