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4 Diário das Sessões do Senado

Vai passado um ano. Eu represento aqui, no Senado, os directores gerais e os chefes de serviço e, portanto, em nome dos funcionários públicos que represento não deixarei de levantar a minha voz, muito modesta, para lamentar o trágico acontecimento que impressionantemente vitimou é ilustre Chefe do Estado, enaltecendo as suas virtudes.

E hoje bem diferente, do de há um ano, o meu estado de alma. Entendo dever usar da palavra porque julgo que devemos prantear o passamento do Sr. Dr. Sidónio Pais eminente chefe do Estado. Devemos recordar-nos da tremenda responsabilidade que sôbre nós pesa.

Somos representantes da Nação, e, invocando esta qualidade, o meu espírito pensa nas terríveis responsabilidades que sôbre nós impendem. Nós temos assistido a iniquidades grandes, a pungentíssimas desgraças, que ferem fundo a nossa sensibilidade; e ai de nós se não soubermos marchar pelo caminho que o dever nos indica; mas para assim marchar é preciso saber o caminho que levamos e o que devemos seguir e nós temos andado multas vezes perdidos. E necessário cortar os voos à vaidade. E toda essa gente desvairada que tanto mal tem feito à nossa terra é necessário que reflita para que a nacionalidade portuguesa não tenha um fim trágico.

Nós, portugueses, andamos há muito à procura dum ideal, mas parece não querermos procurar o filão da nossa história onde um ideal se pode manter.

A Renascença foi grande porque a enalteceu o ideal cristão. Hoje, o individualismo negativista e crítico do século XIX tirou às sociedades contemporâneas a contestara ideal da crença no que quer que seja.

E a humanidade só pode progredir pela crença nos seus altos e nobres destinos.

Sidónio País pode engrandecer-se aos olhos dos contemporâneos porque foi um místico e um crente. Foi um iluminado, crente no seu idealizado destino e por isso foi um forte e um sugestionador das multidões.

Andamos perdidos dentro da nossa desorganização.

E afinal porquê? É porque não sabemos ou não queremos procurar o filão da
nossa própria história. O malogrado morto que hoje pranteamos procurou no passado a grandeza do presente.

Se nos ligarmos à nossa tradição, salvamo-nos; mas se, pelo contrário, cortarmos a nossa tradição, então virá irremediavelmente a queda.

Na literatura, os românticos, invocando a tradição puderam realizar uma grande obra, embora restrita ao campo literário.

Mas é necessário viver a tradição mais do que na literatura para nos prendermos à vida concreta das conquistas económicas e políticas; é necessário dar sequência à nossa história para não vivermos na mesquinha e inadaptada imitação dos estranhos.

O que fomos nós?! Emquanto vivemos, conquistando o solo da Pátria, contra os castelhanos e sarracenos, soubemos realizar uma obra colectiva que foi grande. Não há ideais grandes nos povos que não sentem os interêsses gerais.

Os que neste momento pranteiam o malogrado Presidente — receio bem que assim venha a acontecer - podem desvairar-se, interpretando mal a obra e as intenções do saudoso morto. Julgarão talvez que o imitam dando largas a estados de alma retrógrados, e o Dr. Sidónio Pais não era um retrógado.

Receio que a seguir à sua morte mais se acendam os ódios, mais se ostentem as vaidades, mais se manifestem os orgulhos e as ambições que nos trazem presos a uma desorganização que ameaça ser incurável. A nossa administração pública é o vivo reflexo da nossa perturbante doença colectiva. Ninguêm quere ocupar o seu lugar; todos se atropelam, não sabemos cooperar na obra comum. Nos tribunais, nas escolas, nas secretarias, em todos os organismos da administração do Estado se revela a nossa profunda desorganização. Dir-se-ía que o Estado, entre nós, faliu.

E no emtanto as sociedades humanas podem viver juridicamente se forem capazes de conceber um ideal colectivo, e por êsse ideal poderem destinar a ser a uma gloriosa e útil finalidade, dentro da própria evolução histórica.

E nós temos êsses ideais e grandes. Bastará para os realizar que conjuguemos esforços e que nos convençamos que só trabalhando pela causa comum é que ca-