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Sessão de 16 de Dezembro de 1918 5

da um se poderá salvar. Enganamo-nos a nós próprios, quando julgamos que, nos valorizamos ludibriando os outros. A filosofia do egoísmo leva sempre a um desastre.

O individualismo do século XIX, que só encontrou no romantismo um contraditor, aliás meramente literário, tem tanto na Monarquia como na República, subvertido cada vez mais a nossa vida colectiva, pela forma facciosa da política. A sciência do século XIX estonteou os espíritos pelo exagero do valor humano. Eritis sient dii! E daí proveio êsse fatal feudalismo industrial e político, em que o mais habilidoso tenta ludibriar os incautos. Contra essa falta de honestidade revoltou-se a probidade de lutador do Dr. Sidónio Pais.

A nossa tradição dos municípios, das sesmarias e das corporações de artes e ofícios é uma tradição que podemos apresentar ao mundo moderno, como sendo nós os portadores da forma jurídica que ainda hoje constitui, a mais elevada concepção política e económica dos povos civilizados. Dizem os alemães e os noruegueses que são povos libertos dos vícios do individualismo como uma contestura perfeita porque sabem realizar o sistema democrático da feliz corporação das classes.

Nós, com a nossa lei das sesmarias fomos nos séculos XIV, XV e XVI o povo mais socialista da Europa. Bem mais felizes teríamos sido se, aperfeiçoando aquele sistema agrário e industrial, tivéssemos sabido desenvolver a nossa vida estética, dentro da própria tradição.

Nem os alemães nem os noruegueses poderão apresentar, na sua história, obra mais perfeita do que a nossa organização económica tradicional. Mas desvairámos. As especiarias do Oriente, o comércio dos escravos, o ouro do Brasil, tornando-nos a vida fácil, desabituaram-nos do trabalho. Depois veio o individualismo do século XIX que a nós, desligando-nos da tradição, nos lançou nas aventuras políticas. Foi um «salve-se quem pudor!». Cada um, pensando; só em si, só pôde cooperar para a ruína colectiva. Indivíduos, classes e profissões ninguêm quis transigir; todos se julgaram na posse da verdade e todos quiseram obrigar os outros a pensar segundo o despotismo alheio.

Esta intransigência levou-nos ao caos. Na ordem económica, como na ordem política, ninguêm cede. I)aí a situação insolúvel em que nos encontramos, parecendo que entre nós o Estado faliu, na ordem jurídica. O ilustre presidente muito pensou em pôr um dique a esta anarquia, e isso o matou, embora gloriosamente! Êle pôde deslumbrar pela galhardia da sua pessoa e pelas scintilações do seu espírito, a população portuguesa. Neste momento a perturbação e a saudade são tantas, que a alma arrebatada da multidão que chora o desventurado português, ainda o vê, em alucinações fantásticas, percorrer as ruas de Lisboa, galopando, esquelético, a fazer a continência ao povo atónito!

É assim a alma do povo, em visões de delírio!

A obra do Sr. Dr. Sidónió Pais, digamo-lo, não foi completa, porque não encontrou o malogrado Presidente quem a soubesse interpretar precisando por Isso duma eficaz cooperação.

É necessário que, no dia em que pranteamos o ilustre morto, saibamos afirmar caracteres que as nossas tradições, criadas dentro da fé cristã, bem compreendidas e firmemente realizadas, nos podem salvar da actual decadência, integrando-nos nos nobres e altos destinos da nossa história.

Tenho dito.

O Sr. Mário Monteiro: — Sr. Presidente. Em nome da minoria monárquica desta Câmara, permita-me V. Exa. que me associe às comovidas expressões por V. Exa. proferidas e pelos ilustres oradores que me antecederam.

Entre o Sr. Dr. Sidónio Pais e nós os monárquicos portugueses havia um íntimo ponto de contacto, que se baseava em matéria fundamental de administração política; e era que, tanto o Sr. Dr. Sidónio Pais como nós, tínhamos a absoluta convicção de que a pátria portuguesa não pode realizar as condições necessárias, não digo já para o seu desenvolvimento, progresso e bem estar, mas nem sequer os indispensáveis para á sua própria existência e conservação, como sociedade orgânica e civilizada, sem a intemerata e intransigente defesa dos princípios políticos conservadores.

Divergíamos, Sr. Presidente, em que