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Cessão de 22 de. Dezembro de 1925

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O Sr. Querubim Guimarães: — Mais uma vez, deste lado da Câmara e em nome dele, 'venho protestar contra este sistema interessante de administrar o país.

Durante os quatro anos da legislatura passada outra cousa não fiz, em matéria financeira, senão protestar contra o uso e abuso dos duodécimos.

• É costume atribuir às oposições muitas •das causas de se não aprovarem os orçamentos.

Ora elas não têm o número por si para -poderem conseguir que os orçamentos se

não discutam e se não aprovem.

É mais fácil assim administrar como

melhor convenha às clientelas partidárias,

mas continuamos a mostrar ao mundo .que •não temos coragem nem capacidade de •mudar de orientação. . -Pode isto ser de pouco importância.para

nós, mas tem muita para o bom crédito

do país no estrangeiro, que há muito olha

com suspeição para nós.

Mais uma vez protesto contra isto; é

um protesto platónico, mas sempre o fa-: rei com a máxima veemência.

O Sr. Caldeira Queiroz: — Dada a mi-

' nhã situação de republicano independente,

vejo-me forçado a dizer alguma cousa

acerca do assunto em debate nesta casa

-do Parlamento: o projecto de lei sobre

• duodécimos, apresentado pelo Governo e já-aprovado na Câmara dos Deputados.

Sabe V. Ex.a e sabem muitos membros •"' desta Câmara que eu sou um velho republicano.

Não sou republicano por acaso, por imitação, por conveniência, nem sequer sou republicano por ter sido atacado daquela brotoeja a que se referiu há dias o ilustre Senador Sr. D. Tomás de Vilhena, e que, no dizer de S. Ex.a, atacava em tempos que já lá vão os rapazes das es-

Sou republicano por consciência e por "convicção. -

Para a proclamação da República dei lodo o meu esforço e empreguei toda a minha energia- por ela sofri e padeci.

Não ó-"-pois de estranhar .o meu amor pela República, só excedido pelo meu amor p ela .7 Pátria,;, e .para. admirar não é que eu lamente que, com excepção dos primeiros anos de existência de República,

esta seja cousa diferente daquilo que eu apregoei quando da propaganda

Eu disse então que a República traria dias felizes para Portugal e que o nosso país, pequeno como é pelo .território, mas grande pela sua história, com uma administração cuidada, honrada e inteligente,

- se colocaria ao nível das outras nações ou .mesmo numa situação de destaque entre elas.

E, repito, ó com profundíssimo desgosto e a maior mágoa que verifico que, nestes últimos anos, sobretudo, a República está num plano diametralmente oposto àquele que eu apregoava noutros tempos.

- i É a República, como forma de Governo, a culpada, de que tal aconteça?

De forma nenhuma; a culpa é única e simplesmente dos homens.

Os homens, uns por maldade, outros por interesse pessoal, outros por estupidez, outros por ignorância, muitos por incompetência e quási todos por política, têm sido os colaboradores desta situação desgraçada que desprestigia o regime e causa o descalabro da Nação. A política, tal como ela se compreende e como se pratica no nosso país, é um acervo, um amontoado de ambições, de vaidades, de interesses pessoais, de ódios e de vinganças.

O que resulta daqui?

Que o interesse geral da nação é com-pletamente posto de parte.

E contra isso que eu me revolto.

Não, Sr. Presidente.

Basta, para isso, que republicanos verdadeiros, republicanos sinceros, ponham de parte essa política mesquinha e se unam como um só homem para trabalharem com toda a dedicação de modo a produzir-se uma administração honrada e inteligente, que consiga levar o país a uma situação de destaque entre todas as outras .nações. J

Eu disse, há pouco, que a política no nosso país. era um acervo de. ambições e* de vaidades e que por isso-nada se produzia.

Por acaso, eu exagero?