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Sessão de 3 de Fevereiro de 1926

breve uma revolução e que, ela triunfante, a cabeça de muitos políticos andaria pas-seiada pelas ruas, para exemplo. E não duvide V. Ex.a disto, que empenho nesta afirmação a minha palavra de honra.

O Orador: — O que eu digo é que lamento profundamente que homens que podiam prestar serviços ao país tenham pegado em armas. Mas, já agora que o fizeram, espero que desta vez se faça justiça, para exemplo, e para que se não diga que as revoluções em -Portugal estão já nos nossos códigos e nos princípios da nossa moral.

O orador não reviu.

O Sr. Ferraz Chaves (para interrogar a Mesa): — Pedia a .V. Ex.a a fineza de me dizer se o Sr. Joaquim Crisóstomo enviou para a Mesa, no final do seu discurso, algum projecto de amnistia.

O Sr. Joaquim Crisóstomo: — E V. Ex.á Sr. Presidente, pode-me dizer se o Sr. Ferraz Chaves já enviou para a Mesa qualquer projecto sobre registo civil?

O Sr. Silva Barreto: — Sr. Presidente: a sessão do Congresso de ontem encheu-me de profunda tristeza.

E tanto maior é a minha tristeza, quanto ó certo que dia a dia se agrava a situação quando as duas Câmaras se reúnem para .deliberar sobre assuntos que ignoram por completo, visto que aos congressistas não é fornecida nenhuma nota acerca das questões que se vão discutir.

Apoiados.

Ontem quem estivesse a sangue frio e serenamente devia concluir infelizmente que o Parlamento da República não ó aquilo que tinha obrigação de ser.

Mais de uma vez do meu lugar, e porque dele não me quis levantar para não concorrer para a desordem que ali se notava, preguntei a vários colegas quais os assuntos que estavam em discussão e todos invariavelmente me diziam: Não sei.

Sem nenhuma espécie de censura para quem quer que seja, se eu estivesse a presidir á sessão de ontem, a páginas tantas tinha posto o chapéu e interrompia os trabalhos.

Y. Ex.a, estou certo, que por mais "de uma vez, supondo que interpretava o' sentir do Congresso, deu como aprovado aquilo que poucos saberiam o que era.

Mais de uma vez isto tem sucedido, e são tantas as reclamaçõéi contra o Congresso que nós temos o dever de pró-' curar dignificar o Parlamento, dando ao país a impressão de que se trabalha para prestígio e ordem do regime, e sobretudo •por interesses legítimos, que são aque* lês que se devem tratar numa sessão do Congresso. ;

Apoiados.

A minha voz humilde ó um protesto da República contra os processos que se empregam no Parlamento português.

; Quantas vezes, uá propaganda por esse país fora, não diziam homens de categoria moral e mental acima de qualquer suspeita, que o Parlamento da monarquia não era aquele que devia ser e que era necessário — usávamos então expressões menos correctas — correr-se com esse Parlamento!

E hoje, nós, republicanos, estamos procedendo da mesma forma, usando dos-mesmos artifícios, de modo a conturbar a vida da República.

Nós ainda nos queremos iludir, ainda queremos, supor que o país anda num mar de rosas e que simplesmente vimos aqui-receber o nosso subsídio.

E eu pregunto aos homens de sã critério se esta é a melhor maneira de fazer funcionar um Parlamento.

Sr. Presidente: .ouvi ontem, logo a se-* guir às votações, alguém proferir palavras como estas: a votei o contrário daquilo que queria votar».

Isto é grave, Sr. Presidente, e para' que seja verdadeira ^esta afirmação, basta que eu a perfilhe. E rigorosamente verdadeira.

Sr. Presidente: está na mão de V. Ex.ar como Presidente do Congresso, evitar quê' este funcione como funcionou ontem, deixando-nos um a profunda tristeza, pois pré-", vejo que, a continuarmos a trabalhar desta maneira, havemos de assistir a reedições de movimentos como o de ontem/' ou, porventura, mais graves ainda, não digo .para a vida da República, mas para '• a própria vida da nação.