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Diário das Sessões do Senado

em que estou, de que precisamos de sair do isolamento em que temos vivido; de que é indispensável que convivamos internacionalmente, que nos integremos nas correntes de interesses da Europa, que procuremos os pontos de apoio necessários para melhor defender os nossos interesses e fazer valer os nossos direitos perante as ássembleas internacionais. Temos feito uma má política; ou, melhor, não temos feito nenhuma política; e é possível que ainda venhamos a sofrer-lhe as consequências.

Pois, Sr. Presidente, porque a nossa política internacional tem sido mal dirigida durante a paz, como foi mal dirigida durante a guerra, mais relevo tem para mim a homenagem que, na pessoa do Sr. Afonso Costa, à assemblea da Sociedade das Nações acaba de prestar a Portugal. Não porque eu considere uma grande honra a investidura na presidência da assemblea ; é preciso que vejamos as cousas com a necessária perspectiva e dentro das devidas proporções; mas temos feito tam pouco a diligência para que semelhantes situações nos sejam dadas, e estamos tam habituados a um tratamento menos elegante nas assembleas internacionais, que a distinção agora concedida a Portugal não pode deixar de constituir para nós um motivo de satisfação.

Vamos a ver se, sob a presidência do Sr. Afonso Costa, a assemblea da Sociedade das Nações toma resoluções inspiradas. Que assim seja!

Em nome deste lado da Câmara, associo-me, com muito prazer, ao voto de congratulação proposto pelo ilustre Senador que me antecedeu lio uso dc% palavra. Tenlio dito.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O Sr. D. Tomás de Vilhena: — Sr. Presidente : eu sou justo e procuro não pôr luiã minhas palavras, nunca, qualquer preocupação sectária.

Eu compreendo que o Sr. Afonso Costa •estimasse ser honrado pela Sociedade das Nações, sendo por ela eleito para presidente da soa assemblea extraordinária. . Compreendo que os seus amigos tivessem exultado por essa incontestável prova de consideração que foi dada ao Sr. Afonso

Costa, mas a Pátria Portuguesa é que se não contenta com isso só.

A Pátria Portuguesa quere mais alguma cousa. A Pátria Portuguesa não se resigna, depois de tantos sacrifícios, depois de tantas vítimas e de nos levarem à situação económica e financeira em que nos encontramos, devida sem dúvida nenhuma à guerra, a Pátria Portuguesa, repito, não se contenta em ter como prémio um dos seus representantes na presidência dessa Assemblea.

O nosso País tem o direito de fazer parte do conselho da Sociedade das Nações.

Ao mesmo tempo que a Pátria Portuguesa é tratada deste modo, nós vemos que o Sr. Briand, que está sendo um dos árbitros da balança política da Europa, está todo empenhado em que entrem no conselho da Sociedade das Nações o Brasil, que nada fez na guerra, e a Espanha, que, emquanto nós nos empobrecíamos o dávamos na guerra o sangue dos nossos filhos, só estava ganhando com a mesma guerra.

Para a Espanha entrar no conselho da Sociedade das Nações, a nós dão-nos uma espécie de condecoração de compensação, como em todos os tempos se concederam a homens a quem se não dava o lugar que mereciam.

Contra isto é quo eu me revolto.

Portugal fez um esforço tam grande, tam superior às suas forças, que amanhã, numa liquidação de contas, eu não sei se todo o seu activo bastaria para pagar o passivo nessa multiplicação de juros quo hora a hora cresce como os icebergs que ameaçam cair sobro os navios que passam.

Sr. Presidente: não vai nisto a mais leve intenção de ser desagradável ao Sr. Afonso Costa.

Eu compreendo que ele e os seus amigos estejam contentes e rejubilem com essa honra. Mas aqui falo em nome da Pátria, que quere mais, que quere ter voz no Conselho das Nações. Portugal é a terceira nação colonial do mundo. Numa hora tam grave, em que os nossos vastos domínios estão em perigo, o nosso País tem direito a ter um representante no Conselho Permanente, onde é preciso esclarecer as questões que nos interess.am.'

Tenho dito.