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Sesafto de 12 de Maio de 1926

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O Sr. Caldeira Queiroz (interrompendo):— Peço perdão para afirmar que o fiz som rasgos de oratória, mas num'grito de sinceridade que me saiu da alma pelo conhecimento directo que tenho "do assunto.

O Orador: — Nem eu tinha o direito, basta o conhecimento que possuo do carácter de S. Ex.a, de duvidar, sequer, da sinceridade com que o Sr. Caldeira Queiroz expôs as suas ideas, sobretudo em questões de sentimentalismo.

Eu sói, porque levei grande parte da minha vida a tratar com crianças, se não directa, indirectamente, como é fácil deixar-nos arrastar por sentimentos de carácter eentimental quando exercemos funções educativas e quando, sobretudo, as crianças se nos apresentam incorrigíveis e não conhecemos os melhores -processos de as corrigir

Eu sei quando somos levados à metafísica e à metodologia.. .

O Sr. Caldeira Queiroz (interrompendo]:— S. Ex.a dá-me 'icença? E simplesmente para dizer que S. Ex.a está habituado a tratar com crianças normais.

O caso aqui é diferente:- trata-se de crianças anormais e os processos a empregar têm de ser muito diferentes.

O Orador: —As observações do Sr. Caldeira Queiroz são, de facto, de molde a colherem, porquanto os processos ou métodos de ensino para as crianças normais são diferentes, de facto, dos que se empregam para os anormais.

Mas eu, embora nunca tivesse praticado métodos de educação pelo que se refere a anormais, tenho, Sr. Presidente, por um prazer espiritual e porque faz parte de um dos ramos da pedagogia geral, lido o que há de mais notável em metodologia educativa quanto à sua aplicação a anormais, porque é justamente dessa metodologia que nós tiramos os processos mais empíricos mas experimentai" para os aplicar aos normais.

Hoje, é princípio assente, o' tipo normal não existe.

O grande pedagogista Alfredo Binet, o mais notável de todo o mundo, depois de muitas e longas experiências nos tipos

normal e anormal, chegou à conclusão que o tipo anormal conta-se por 0'0 por cento e o tipo normal unicamente por 40 por cento.

Binet, esse médico ilustre, mas módico sociólogo, homem eminente nas doutrinas de todo o inundo, afirma, depois de longa experiência, que, aiéin de nào haver o tipo normal, o criminoso não pode nunca ter outra assistência que não seja a assistência que é própria para os miseráveis, para os doentes, para a criança que precisa da assistência moral, assim como o doente fraco precisa da assistência médica.

O tipo normal, como disse, fundado na autoridade d^sse mestre e de todos os outros, não existe.

Mas o Sr. Caldeira Queiroz, para os anormais, veio com a ideia de que se deve ensinar às crianças a existência de Deus e a moral cristã, ou a de outra qualquer confissão religiosa, como se a correcção pudesse ter por fundamento a noção de Deus que todos nós, pessoas mais ou menos instruídas, sabemos em que argumentos se baseava para nos provarem a sua existência, argumentos de que to

E hoje axiomático que a uma criança até aos 12 anos, que tantos são aqueles que, em média, tem a que frequenta o ensino primário, não se ensinam cousas abstraías, e por isso andam os mestres à procura de cousas concreta's, para só lhe ensinar o, que.é palpável e viável. E havemos nós de ir ensinar a uma criança a existência de Deus!

O Sr. Caldeira Queiroz (interrompendo}:—

jV. Exas estão a confuncir a religião com a igreja!

O Orador:—A moral religiosa ó um ramo da-filosofia moral.