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28 DE JANEIRO DE 1967 1133

nado, pela independência da Pátria Mantendo esta tradição de fidelidade, os seus operários têm vindo a responder, nestes dolorosos anos de guerra, às precisões do Exército, trabalhando horas supletivas para que não falte aos bravos moços de Portugal que lá longe defendem as fronteiras da nossa cidade o saboroso complemento da sua alimentação. E fazem-no de tal modo que não há aí dinheiro que pague o seu suor, a sua exaustão e as suas aflições.
E, ainda dentro da mesma tradição de fidelidade esta indústria foi das primeiras, em Portugal, a organizar-se comparativamente, tanto pelo lado sindical como pelo empresarial. Nas várias freguesias onde opera constitui salutar factor de estabilidade e harmonia e um inigualável vector de promoção social, pois quase todos os actuais patrões vieram da classe operária, e assim há-de continuar a ser, para honra sua e desmentido dos que acusam o Regime de dificultar a transposição das condições de classe. Por virtude da sua formação patriótica, das suas arreigadas convicções cristãs e do seu instinto de fidelidade às correntes políticas tradicionais, a classe tunária sempre esteve firme e coesa como um ininolito do lado dos governos da Revolução Nacional.
Eu sou intransigentemente pela modernização dos processos técnicos e nunca a minha fala se levantaria a defender a estagnação das formas e sistemas de vida material. Mas sou-o quando essa modernização traz um real e efectivo progresso e não implica graves lesões humanas e sociais.
Todo o exposto vem para sugerir que seja revisto o programa enunciado no n.º 20 do despacho de 16 de Novembro de 1966 do Ministério da Economia e que, antes de a sua doutrina ser dada à execução, se atenda à voz da indústria, porque ela terá por certo alguma coisa de muito útil a dizer.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Cazal Ribeiro: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Apenas algumas palavras de breve comentário a um acontecimento registado há dias em Lisboa, no Porto e noutras cidades e vilas da província, abrangendo ao todo onze localidades diferentes.
A propósito de um fortuito e lamentável acidente de viação, que vitimou um dos melhores e, sobretudo, mais correctos jogadores do futebol nacional - o que só por si é qualidade que quanto a mim prevalece sobre todas as outras - inutilizando-o para a prática do desporto que o evendiciou realizaram-se vários encontros de futebol, revertendo o benefício totalmente para o homenageado.
Este, num gesto nobilitante, ofereceu determinada percentagem da receita, que, certamente, ainda bem, foi avultada à família de um outro atleta vítima de um acidente que lhe foi fatal.
Semelhante atitude evidenciou o futebolista. Vicente Lucas, assim se chama o homenageado como homem elevando-o muito alto ainda do que se guindou no campo do desporto, sobretudo se atentarmos à época de materialismo em que vivemos.
Mas a festa que lhe foi dedicada, sobretudo a circunstância de a Federação Portuguesa de Futebol Ter disposto de um Domingo, interrompendo o Campeonato Nacional de Futebol e adiando a 2.ª mão dos oitavos de final da Taça de Portugal, com aquiescência das associações regionais e dos clubes faz-me pensar nas centenas de estropiados que regressados de África, se encontram no centro de recuperação que a Cruz Vermelha Portuguesa com muitas dificuldades e tanto sacrifício mantém no antigo quartel de artilharia n.º 3. Deve notar-se que é decisivo o auxílio que, para tal obra, aquela instituição recebe do Governo. Embora normal, convém registar o facto.
Mas são algumas centenas de rapazes que, jovens como Vicente Lucas, viram ruir todos os seus sonhos de viver como lhes era licito desejar, e isso sucedeu na defesa da Pátria e de todos nós, desportistas ou simples espectadores das grandes competições que o desporto proporciona!
Não poderia a Federação Portuguesa de Futebol, as associações regionais e os clubes, com tantos atletas seus a combater em África, colaborar com essa obra admirável que é a recuperação, embora por vezes apenas parcial, dos mutilados desta guerra que nos foi imposta? Daqueles que na flor da vida, cheios de força e de esperança partiram para o ultramar, deixando tudo, para ali defenderem a integridade territorial da própria Pátria?
De certo que para tanto teriam o apoio de toda a imprensa e de todos os artistas que, generosamente, a não regatearam na humanitária jornada de Domingo passado!
Não sou de modo algum contra a homenagem, nem contra o benefício que dela resultou, muito menos ainda contra a consideração demonstrada por um homem que, também jovem, se inutilizou para a prática do futebol, o seu ganha-pão.
A simples presença de S. Exa. o Chefe de Estado na manifestação de solidariedade que, em Lisboa se realizou é bem prova de que apenas justiça foi feita - o que ninguém de boa formação sequer contesta.
Simplesmente, o que lamento é que igual movimento, que, essencialmente popular, assumiu carácter nacional, não se registe, de quando em quando, a favor de outros jovens que, igualmente na força da vida, deram algo de si próprios e se incapacitaram para uma vida normal que, além de tudo mais, também constituiria para muitos, ou mesmo para todos, o «pão nosso de cada dia».

Vozes: - Muito Bem!

O Orador: - Não representa este breve comentário uma censura, seja a quem for, não constitui tão-pouco uma atitude discordante ou destrutiva num grande movimento de solidariedade humana e que tão largo vulto tomou para com um desportista na verdadeira, na melhor acepção da palavra, não significa também um protesto, ou um azedo comentário, contra um gesto em tudo digno dos maiores encómios. Apenas, repito, representa o desejo de que haja em todos os corações, lugar para aqueles que, com muito maiores riscos e abnegação ímpar sofrem e ficam mutilados, tendo como único conforto, embora imenso a certeza do dever cumprido.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não é um protesto Sr. Presidente, repito, contra o que se fez, será apenas um lamento quanto ao que, com semelhante amplitude já se devia ter feito, havendo para tanto razões mais fortes.
Pois que todos os desportistas, quem dirige e orienta o desporto com alma e coração verdadeiramente portugueses, conscientes e patriotas se lembrem também daqueles que sofrem a sua invalidez porque «jogaram» a vida na defesa de Portugal em terras escaldantes da nossa África.
Se pertencer à selecção de todos nós - como vulgarmente se diz - representa indiscutível honra e valioso