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510 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N.º 21

no quartel do regimento de Lagos quatro indivíduos, dois militantes do Partido Popular Democrático e outros dois de filiação partidária desconhecida ou sem filiação partidária.

Uma voz: - Era um duelo!

Orador: - De qualquer modo, chama-se aqui a atenção de toda a Assembleia pela forma como eles foram presos, à boa maneira pidesca. Foram convocados no domingo para comparecerem, no posto da GNR de Monchique. De seguida, foram transferidos para o quartel de Lagos com a resposta de que estavam presos até se concluir o inquérito. Portanto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, deixo à vossa consideração este caso que é bastante grave e é verdadeiramente atentório da democracia que se quer construir em Portugal.
Obrigado.

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Segue-se o Sr. Deputado Alfredo Sousa.

O Sr. Alfredo Sousa (PPD): - Nesta onda de histeria em que certas forças políticas quiseram lançar o País, foi transmitido na Rádio Juvenil e pelos vistos apareceu num jornal de parede do MDP em Cascais o boato de que eu teria sido preso quando pretendia fugir com milhares de contos ...

Risos.

... segundo uma versão e com avultada quantia segundo outra.
Desejo esclarecer que o que se passou foi o seguinte: Depois de ter estado no núcleo de Algés e depositado o meu filho na casa de minha mulher, de quem estou separado, dirigi-me para minha casa.
No acesso à auto-estrada fui detido por uma barragem de populares que exigiu fiscalizar o meu carro.
Respondi que não, porque estavam a violar o meu direito fundamental como cidadão de livre circulação - consignado na Declaração dos Direitos do Homem -, além de me identificar como Deputado.
Recusei, recordando ainda o que acabava de ser dito pelo Sr. Capitão Vasco Lourenço de que as barragens de populares deveriam ser desfeitas e que as forças do COPCON implantariam as barragens nos sítios que entendessem necessário.
Seguiu-se um diálogo em que as minhas razões e a minha calma não conseguiram demover as pessoas que rodeavam o carro, algumas das quais mostravam sinais de extremo nervosismo, começando a balancear o carro, o que me deu impressão que o queriam deslocar ou virar.
Finalmente acedi, perante o histerismo que se apossava de alguns e dos insultos pessoais e à Assembleia Constituinte, arrumar o carro num local perto da estrada.
Aí as insistências prosseguiram e eu continuei a responder que só deixaria verificar o carro às autoridades militares ou militarizadas.
Por fim, mediante a notícia de que estava presente um oficial da 5.ª Divisão, saí para abrir a mala do carro onde só estava um guarda-chuva. Nessa altura um dos populares revistou-me à força a pasta onde eu tinha alguns fundos que, no decurso da campanha pessoal de fundos para o meu partido, havia recolhido juntamente com algum dinheiro meu. Perguntando-me quanto tinha, respondi que deveria ter 40 000$, porque não havia feito as contas. Verifiquei depois que apenas tinha 36 300$.
Isto imediatamente deu origem a insultos, insinuações e ao vexame de me retirarem as chaves do carro.
Continuei à espera das forças militares. Finalmente, chegou um grupo de soldados da PA que se limitou a pedir-me a identificação, o que fiz. Mas nada mais pôde fazer porque não se encontravam as chaves.
Por fim, chegou uma carrinha da PM, a cujo sargento me identifiquei, pedindo-me ele para o acompanhar ao Forte do Alto Duque, seguindo a sua carrinha e com dois soldados no meu carro para garantir a minha segurança.
Lá chegado, fui imediatamente recebido pelo oficial de dia que me disse antes de mais ser ele o primeiro a lamentar o que se tinha passado. Explicou-me a escassez das forças disponíveis e pediu desculpa. Respondi-lhe que ele nada tinha de pedir desculpa, mas que eu não podia deixar de ali apresentar o meu protesto firme por ter sido detido e por forças não legais.
Pedi-lhe por último que me concedesse uma escolta até casa porque temia novos incidentes. Com toda a prontidão providenciou nesse sentido.
E assim se encerrou o caso.
Simplesmente, não posso deixar de confessar que fiquei impressionado com a histeria quase descontrolada de alguns componentes das barricadas, embora houvesse outros que procuravam acalmar os restantes.
E não posso também deixar de protestar contra a calúnia que se pretende lançar pela deturpação dos factos e esclarecer devidamente os Srs. Deputados e aqui apresentar, mais uma vez, o protesto por esta detenção ilegal.

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Vai usar da palavra o Sr. Deputado José Manuel Ramos e temos apenas 10 minutos para concluir o período de antes da ordem do dia.
Agradecia que fosse breve.

O Sr. José Manuel Ramos (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vou-vos falar de um homem modesto, simples, do distrito de Leiria, que morreu na passada sexta-feira: António Ramalho Júnior, um homem de cerca de cinquenta anos, pai de quatro filhos, trabalhador, um modesto contínuo. Um homem que durante muitos anos andou afastado da sua terra por ela ser madrasta, era embarcadiço em barcos estrangeiros, porque neste país não podia viver a vida com decência.
Na praça principal das Caldas da Rainha, na noite de sexta-feira, foi vilmente assassinado com uma faca de ponta e mola que cortava até à mola, Meteram-lhe no peito onze centímetros de aço. Deu dois passos e caiu morto. Não caiu morto por razões pessoais, como um partido aqui presente pretendeu insinuar num seu comunicado. Caiu morto porque manifestava a sua repulsa por algumas ideias, pelo muito ódio que até aqui dentro já foi expresso. Infelizmente, um militante do Partido Comunista Português, armado dessa faca, dirigiu-se a ele, e com toda a violência da sua força lhe cravou a faca, que