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3094 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE N.º 96

O nosso país conheceu também realidades deste tipo no século passada. E bem podemos hoje sentir quão longe se estava então do conhecimento do povo que soamos e que queremos ser.
Novamente os mesmos erros se cometeram durante estes poucos meses de liberdade que já contamos. As ideologias comunistas, coar, toda a sua aparente generosidade, também quiseram fazer o povo feliz à força. Custa-me profundamente ver pessoas cuja capacidade de combate é inegável fecharam os olhos à realidade, ao mundo em que vivem.
O esforço teorético é imprescindível ao nosso progresso. Mas se não se fizer esse esforço sobre a realidade concreta de um povo com quadros mentais, modos de vida e cultura próprios, produzem-se apenas ideologias. Faz-se o nosso querer realidade e cai-se numa atitude tacanhamente idealista. Faz-se dos nossos sonhos realidades o pior é o acordar.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Perdoem-me as reflexões expostas. Não sendo teórico, tenho, todavia, o bom senso de quem não tem crenças transcendentes e se aqui está é para lutar, de pés na terra, pela felicidade possível de um País em crise e desavindo consigo próprio.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estivemos à beira de uma catástrofe há bem poucas semanas. Afastada esta, seria, é de supor, altura para uma pausa de reflexão e de sábio realismo político.
Que motivos houve para tal desastre? Ainda há bem poucos dias um conhecido ideólogo comunista nos disse aquilo que nós, socialistas, vínhamos defendendo desde, pelo menos, o passado mês de Julho. Os meios de comunicação social levaram à derroca da das aventuras esquerdistas que teriam posto a ferro e fogo o povo de Portugal, não fora a disciplina, por muitos ignorada, de grande parte das forças armadas.
Também aí o irrealismo, as ideologias, levaram a melhor sobre o bom senso. Num país em que tanta gente passou tanto tempo fardada, poucos ignorariam que duas companhias disciplinadas destruíam rapidamente regimentos (quantos fossem) carentes de instrução operacional. Mesmo assim tentou-se a aventura, fomentada que foi palio acicate de uma informação desbussolada que criou um País à medida dos seus desejos. Onde a informação deveria cumprir uma tarefa de esclarecimento, de pedagogia, de educação em toda, a nobre acepção do termo, fez-se um bourrage de cervaux de uma ignorante agit-prop.
A pausa pedagógica, reflexiva, devia seguir-se. Todavia, temo bem que assim não seja. E esta é a razão de subir a esta tribuna. Ontem, dia 15 de Dezembro, a televisão, de tão «brilhante» actuação nos tempos do fascismo como nos da 5.ª Divisão, voltou a dar informação enfada e capciosa e a agredir mais de metade da população do País.
Assim, «informou» que o PS era pelo regresso do MFA aos quartéis, posição que o nosso partido nunca defendeu. Lembro apenas o notável ensaio político aqui lido pelo meu camarada António Reis. Mas o PS já está habituado à «informação» televisiva: E o povo sabe bem quais são as nossas posições, pois não as escondemos. A importância que devemos dar-lhe é, portanto, a que merece. Pior, porém, foi o comentário ao lamentável reaparecimento do Partido da Democracia Cristã, partido que deve sem demora ser ilegalizado, pois a sua designação vai contra o votado nesta Câmara, em resolução em que o próprio CDS se absteve - é bom lembrarmo-nos.

Aplausos

O comentarista de serviço, cujo nome não quis fixar, voltou à carga com a reacção católica do Centro e do Norte do País. Conhecemos a música e sabemos onde está a orquestra. O que interessa perguntar é se isso não é uma agressão contra mais de metade da população portuguesa. E se não vai precisamente, por ódio a uma informação que afinal continua telecomandada, provocar o efeito contrário, fomentando, a penetração dos reaccionários, a cujo levantar de cabeça se queria abster. Se é que realmente se queria, pois as dúvidas começam a ser legítimas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Somos sete os socialistas representantes da povo do distrito de Coimbra nesta Câmara. Povo que, sem ser enganado par uma demagogia nunca permitida, é, segundo o comentarista, afinal reaccionário. A nossa paciência tem limites. É assente acabar com o balofo ideológica na informação e na pedagogia social que os mais media devam veicular. É urgente descer à terra e perder o complexo elitista e aprender com o povo para ser povo a achar as soluções reais para este país leal. Atitudes como as que aqui critico, a título de exemplo, são contra revolucionárias e revelam esse «uso burguês de cultura» que a nossa camarada Sophia de Mello Breyner se não cansa, de estigmatizar. Ou não será de um burguesíssimo mau gosto, a propósito do acontecimento, falar em «leitura científica do Evangelho» (sic)?
O aproveitamento reaccionário de algo tão puramente transcendente como a religião é condenável. Igualmente é condenável o ataque à sensibilidade religiosa, que tem de ser escrupulosamente respeitada. Sob pena de se criar um problema mais no nosso percurso para a democracia e para o socialismo. Temos de denunciar sem tibiezas as reaccionários que pretendem acoitar-se à sombra da Igreja, do mesmo modo que temos de denunciar quantos, a pretexto de ataques à reacção, mais não fazem do que uma pedagogia anti-revolucionária pela via da agressão ideológica.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aliás, ambas as atitudes são profundamente marcadas pelo desprezo pelo povo. Ambas pretendem lográ-lo, desviando a atenção ,para um cepo de luta que mão é o político. Equivalem-se perfeitamente.
Quer-se combater a reacção? Sabemos bem, pelo menos do lado esquerdo da Câmara, o que isso custa.. Mas só é possível fazê-lo começando por respeitar o povo real, e não, querendo moldar o povo real à imagem e semelhança. Antes de mais, temos de respeitá-la e de não o agredir. Só assim o fascismo não passará.

(O orador não reviu.)

Aplausos.