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9 DE DEZEMBRO DE 1977 649

expressão do sentir bem vivo dos trabalhadores, firmemente manifestada de norte a sul do País.
Apoiar este Governo significaria apoiar a sua política. Significaria apoiar as tentativas de destruição da Reforma Agrária, a odiada Lei Barreto, as cargas da GNR contra os assalariados rurais, a restituição das terras aos latifundiários parasitas.
Apoiar este Governo significaria sancionar as desintervenções nas empresas, o regresso dos antigos patrões sabotadores, as cargas policiais sobre os operários em greve, os despedimentos selvagens, a inflação galopante e a miséria crescente do povo.
Apoiar este Governo significaria dar um cheque em branco às negociações com o Fundo Monetário Internacional, à política dos cíclicos empréstimos ruinosos, a submissão às exigências imperialistas.
Apoiar este Governo significaria, finalmente, apoiar a política reaccionária que tem fortalecido o poder económico e político dos monopólios e latifundiários, que tem aberto a porta à ofensiva reaccionária dos Sá Carneiro e Pires Veloso, que tem pactuado descaradamente com as manobras fascistas e separatistas.
Poderia a UDP alguma vez sancionar esta política?
O voto da UDP contra a moção de confiança apresentada pelo Governo é a única atitude consequente com as aspirações democráticas e revolucionaras do povo português.
Poder-se-ia no entanto dizer, e o PCP o tem insinuado, que se estaria a assistir a uma alteração, mesmo que ligeira, mesmo que imperceptível, na política governamental.
O próprio Governo tinha afirmado nesta Assembleia que nenhumas alterações poderia introduzir na sua política. E nem era necessária tanta franqueza por parte do Dr. Mário Soares. A análise do memorando que nos foi apresentado e os debates a que aqui assistimos já mostraram que o Governo pediu o apoio desta Assembleia unicamente para prosseguir a sua política ruinosa e antipopular.
O voto da UDP contra a moção apresentada reafirma as conclusões do seu III Congresso: mantendo-se o Governo do Dr. Mário Soares, nenhuma alteração é possível â actual, política antipopular do Governo.
E, quando nos vêm dizer que Mário Soares era a única barreira possível ao fascismo e que apoiá-lo era a única forma de evitar um governo do PPD e CDS, somos obrigadas a lembrar que em ires eleições consecutivas o povo português votou claramente contra a direita, expressando a sua firme vontade de jamais deixar que em Portugal se repitam os 48 anos de fascismo.
É necessária uma mudança. O povo português mentia que não podia depositar qualquer confiança em Mário Soares, que era necessário derrubá-lo e abrir novos caminhos na política nacional.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Hoje caiu o Governo. Que futuro se abre aos Portugueses?
Várias soluções são apontadas. Desde o governo presidencialista a novo governo do PS com independentes, passando por um Governo PSD-CDS, as propostas da direita reflectem a crise política que é provocada peia sua divisão em torno da alternativa que melhor possibilite uma nova ofensiva contra o movimento popular e contra as conquistas de Abril.
Fala-se já hoje num governo presidencialista que sob a égide do general Eanes agruparia pretensas «competências» e as apresentaria como um governo de «salvação nacional», única saída face ao fascismo. Em nome do «realismo político», há mesmo elementos sinceramente antifascistas que perderam toda a confiança na força do movimento popular e são iludidos por esta ideia absurda de que as conquistas democráticas e a Constituição podem ser defendidas por um regime autoritário e autocrático baseado nas forças militares. Todos aqueles que facilitem a instauração de um regime autoritário sob a égide dos militares reaccionários tornar-se-ão responsáveis perante o nosso povo por abrir condições para a instauração de uma nova ditadura e por desencadear mecanismos políticos conducentes à implantação de um regime fascizante.
Fala-se já hoje também num governo de coligação PSD-CDS que, dando seguimento à ofensiva da direita e apresentando-se como saída perante o descalabro a que o Governo de Soares conduziu o País, seria um governo forte, da direita, um governo decidido a cortar, sem hesitações, todas as bandeiras progressistas que hoje ainda flutuam nos céus de Portugal. O próprio Mário Soares - desmentindo mais uma vez qualquer empenho em erguer a apregoada «barreira intransponível à reacção» - diz que vai aconselhar o Presidente da República a convidar o PSD a formar o Governo.
A tarefa que hoje ré coloca a todos os democratas, a todos os antifascistas, a todos os homens de esquerda, a todo o povo trabalhador de Portugal, é a de impedir que à queda do Governo de Soares sobrevenha um governo da direita reaccionária, sobrevenha uma mais profunda viragem à direita no Governo e no País.
Os antifascistas, os trabalhadores, o povo português, tiveram forças para resistir às medidas reaccionárias do Governo, tiveram forças para isolar e desacreditar o Governo do Dr. Mário Soares. O povo português terá igualmente forças para impedir um governo ainda mais direitista, terá forças para descer à rua, paralisar por completo esse governo e precipitar a sua inevitável e vergonhosa queda.
Não pensem os reaccionários, não sonhem os fascistas, que a queda de Soares possa dar lugar a um governo da direita reaccionária!
Os trabalhadores, com a mesma determinação de que deram provas, com a mesma unidade que demonstraram nas últimas grandes manifestações de rua, saberão levantar-se contra um governo da direita, saberão como há dias disse um Deputado antifascista, fazer com que esse governo não dure oito dias em Portugal.
Nessa hora grave que o País atravessa, a UDP chama todos os trabalhadores, todos os antifascistas, todos os homens livres do nosso país, a tomarem mas suas mãos a, iniciativa de indicar na rua o governo que pretendem.
É com a nossa luta, com a nossa unidade, com a nossa firme vontade de abrir um futuro novo ao