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652 I SÉRIE - NÚMERO 18

que ao pedir-se confiança para o futuro em nome de um qualquer futuro governo, nos fosse dito com que projecto e rumo, com que soluções. Dizer que com as de agora, é demasiado pobre, pois todos sabemos que as não há.

Ontem ficou no ar, sem ser sequer remetida para próximas entrevistas, uma pergunta: Tem o Governo, em negociações com o FMI, alternativa para essas negociações?
A última intervenção do Primeiro-Ministro constitui essencialmente confissão da inoportunidade da apresentação da moção agora e até que perante os riscos delineados, de numa menor ponderação perante o risco que a sua apresentação constituiria.
Por isso, se terá desvirtuado o sentido do debate. Talvez inconscientemente o Governo e o PS procuraram transformar ene debate na moção da nossa confiança, esquecidos de que era o Governo e só ele a estar em causa. Esquecidos de que ninguém por eles pediu a moção. Esquecidos de que ao mesmo tempo que nos acusam por os não termos antes sujeitado a uma moção de censura, não podem criticar-nos por em tempo por aos considerado como o mais inoportuno terem colocado a moção de confiança.
Tivéssemos, como outros, o gosto da interpretação , psicanalística e seriamos tentados a dizer que ao tornar-nos centro do debate o Governo e o PS se assumiram como oposição, mas nas reconheceram, implicitamente, como alternativa. Por isso não atacaram outros eu os atacaram menos. Procederam como se quisessem testar já a confiança que a nossa alternativa social-democrata possa merecer.
Haverá quem pense, futebolisticamente, que a melhor defesa é o ataque. Mas quando a defesa se preocupa em queimar tempo, lançando a bóia para fora, tentando a picardia, o insulto e provocando faltas, é natural que um povo que arbitra não deixe de assinalar o jogo baixo.
Não valerá a pena justificar longamente o nosso voto. O mérito de não ser surpresa é o valor de coerência. Votámos contra o Plano para 77; o tempo foi revelando que os nossos apoios eram apenas desejados em momentos de aflição. Queria-se a salvação do Governo; não a do País. Claro era que hoje teríamos que dizer não.
Caiu este Governo sem surpresa, mas não caiu a democracia. Estamos certos de que, ao menos nisso, não haverá em nós divergências.
Mas digamos também que não caiu - digamo-lo com a coragem de quem acredita nos homens e no futuro - o Partido Socialista, que, democratas que somos, respeitamos. Caíram incompetências e vaidades sem sentido. Caíram isolacionismos estéreis, arreganhos de fachada, triunfalismos sem senso. Terão caído as clientelas sustentadas, e por isso louvaminheiras, os especuladores políticos, os arregimentados. Mas isso é um beneficio para qualquer partido democrático. O andar de ganga inútil que são os oportunistas e os proteccionistas. O poder repensar que os interesses do País obrigam os partidos - todos - a nele acima de tudo pensarem. Ganhou-se essa oportunidade de podermos colaborar nessa tarefa nacional, sem questões fechadas nem diálogos de surdos.
E porque ganhou a democracia, teremos ganho todos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Salgado Zenha.

O Sr. Salgado Zenha (PS): - Como é evidente, o Partido Socialista acatará, religiosamente, a determinação tomada por esta assembleia.
Congratula-se com o facto de os grupos parlamentares terem decidido em democracia, em plena Liberdade e sem coacção, conforme aqui, e justamente -, foi afirmado. Foi o Governo Constitucional que provocou lesta moção de confiança a fim de dar a todos os aqui presentes, mesmo aqueles que combateram a realização, no devido tempo, das eleições para a Assembleia Constituinte, a possibilidade de exercitarem os direitos que em certos momentos do passado eles próprios quiserem contrariar na sua efectivação.
Portanto, sem recriminações, e sem ressentimentos, nós congratulamo-nos com o exercício do direito da vossa parte.
A democracia, no entanto, é liberdade e é responsabilidade, e é também o direito ao erro. Nós dá nossa parte estamos convencidos que esta Assembleia cometeu um erro.
Seja como for, há um ponto que é preciso que fique perfeitamente claro. Num tom um tanto ou quanto funéreo da parte de todos os grupos parlamentares, não se viram sequer - as clássicas palmas em que certos grupos são sempre tão férteis, mesmo nas simples declarações de voto, as declarações de voto foram recheadas de declarações paternalistas em relação ao Partido Socialista. Nós dispensamos o vosso paternalismo, porque uma das regras da democracia é que cada partido se rege por si próprio.

Aplausos do PS.

Não há que criar alarme porque a democracia e praticaria e exercitada. Não é este o movimento para responder nos devidos termos a cenas hipocrisias e a certas pretensas autoridades morais, que não têm a autoridade nem a moralidade necessária para nos darem a nós lições de moral.

Aplausos do PS.

A história que já nos julgou por muitos actos que praticámos está a julgar-nos também, neste momento, e continuará o seu julgamento em relação ao futuro. Simplesmente, o Partido Socialista sempre foi, numa frase que aqui foi; referida, o medianeiro da sociedade portuguesa entre grupos antagónicos, quase persecutórios uns em relação aos outros, e hoje, digamos que sem surpresa para nos, esses grupos coligaram-se para derrubar o Governo Socialista. Que se entendam, portanto, entre si para resolver o problema da crise que daqui resulta. A liberdade, e responsabilidade, todos nós praticamos a liberdade, nós assumimos a nossa responsabilidade, os outros grupos que assumam as suas próprias responsabilidades.
São esses os nossos votos.

Aplausos do PS, dos membros do Governo e de parte do público das galerias, com gritos de «PS. PS. PS».